Em manifesto pela vida de mulheres que vivem com HIV/aids, Cidadãs Posithivas dizem não à opressão, ao machismo, ao racismo e todas as formas de violência
Nós, mulheres que vivem com HIV/aids (MVHA), reiteramos o manifesto das mulheres neste 8 de Março de 2023 contra a opressão, machismo, racismo e todas as formas de violência que vivenciamos hoje em nosso país. Lançamos nosso grito pela saúde e vida das mulheres que vivem com HIV/aids invisibilizadas, vulnerabilizadas, desprezadas e subjugadas num sistema de saúde caótico que nos deixam morrer nas longas filas de espera por uma consulta ou exame, nos corredores dos hospitais, nos leitos das maternidades, na dificuldade de acesso a diagnóstico precoce, tratamento e medicamentos básicos.
Estamos ampliando a voz daquelas que foram pioneiras no enfrentamento do HIV/aids, do estigma e da discriminação, daquelas que protagonizaram lutas por avanços na assistência e prevenção ao longo destes 40 anos de epidemia e, infelizmente, já não estão entre nós.
A história mostra o quanto carregamos o fardo do diagnóstico positivo para o HIV. De 2007 até 2022 somos quase 130 mil MVHA ( quase 30% do total de PVHA). Somos mais de 8 mil mulheres com HIV gestantes em todas as regiões. Registros apontam que uma em cada quatro mulheres no país sofrem a violência obstétrica seja no pré-natal, parto, pós-parto e, quase 66% dessas mulheres são negras.
Entre 2011 a 2021, 53 mil jovens diagnosticados com HIV entre 15 a 24 anos, evoluíram para aids. A cada ano uma média de 36 mil pessoas são registradas com aids em nosso país. Muitas pessoas morrendo, muitas mulheres morrendo. Crianças menores de 5 anos adoecendo e morrendo por aids, seja por conta do abandono de seguimento, do diagnóstico tardio, da ausência de tratamento ou pelas dificuldades de adesão aos antirretrovirais.
Desde o início da epidemia de aids (1980) até dezembro de 2021, foram notificados no Brasil pouco mais de 371 mil óbitos. Destes, 110.563 são mulheres que perderam suas vidas (quase 30% )
Se não bastasse toda essa dor, uma mulher é assassinada a cada duas horas em nosso país, sendo que 66% destas mulheres são negras. Também somos o país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo. Dados apontam que nos últimos 13 anos, pelo menos 4.042 pessoas trans e de gêneros diversos foram assassinadas entre janeiro de 2008 a setembro de 2021. Só no ano de 2020, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais reportou 175 transfeminicídios e mapeou 80 mortes no primeiro semestre de 2021. Por dia, ao menos 6 mulheres lésbicas são estupradas.
Basta de tantas mortes evitáveis. Nossa luta é por mudanças nesta sociedade capitalista, patriarcal, machista, misógina, e racista que nos oprime por sermos mulheres. Somos todas as mulheres, brancas, negras, indígenas, quilombolas, LBTs, jovens, idosas, com deficiências, dos campos, das comunidades ribeirinhas, das florestas e das cidades que gritam:
“QUEREMOS SAÚDE COM DIGNIDADE, UM SUS COM INTEGRALIDADE, EQUIDADE, QUALIDADE PARA TODAS E EM TODOS OS CANTOS DESTE BRASIL.
QUEREMOS VIVER NOSSOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS LIVREMENTE.
QUEREMOS O COMBATE À FEMINIZAÇÃO DA POBREZA, AO MACHISMO E A MISOGINIA QUE MATA.
QUEREMOS JUSTIÇA!
Nesse cenário de precarização de nossas vidas, gritamos: Basta! Queremos estar “Juntas, Livres e Vivas!”