“Travesti não é bagunça!” – você já deve ter escutado ou até dito esse bordão que ganhou o Brasil pela boca da travesti Luana Muniz – A Rainha da Lapa, durante uma reportagem do programa Profissão Repórter (2010). Já escutei e brinquei algumas vezes com essa frase, mas nunca tinha ouvido falar sobre Luana, moradora da Lapa, no Rio de Janeiro, para além desse programa e da famosa foto com o padre, Fábio de Mello.
Mas na noite da última quinta-feira (12), a convite de Keila Simpson, Presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), tive a felicidade de conhecer um pouco mais sobre a história dessa mulher brasileira, contada no maravilhoso documentário dirigido por Rian Córdova e Leonardo Menezes. Confesso que durante a escrita destas linhas, continuo pensando sobre o trabalho e o valor de Luana para muitas meninas que encontraram nela o apoio e um lar para continuarem sonhando. E isso ninguém nos contou antes do doc, fortalecendo ainda mais a invisibilidade das pessoas transexuais e travestis. Porém, diante de tantos “nãos” que ouviu em sua vida, a história de superação e vitória de Luana me tocou, e com certeza tocará muita gente, durante os 78 minutos do filme sobre sua vida. Com muita leveza, Luana conta histórias de amizades, lutas e visibilidade nos camarins, palcos de shows e nas conversas com as meninas do casarão na Lapa, com colegas de profissão, garotos de programa, e sobre seu trabalho como travesti, exercido por por muita vontade de viver.
Os diretores conseguiram tirar do nosso imaginário aquela frase do início da nossa conversa, que tornou Luana conhecida nacionalmente, para dar lugar a uma ativista que durante toda a vida lutou para ajudar a quem a procurasse, e esse flash entre a estrela e a puta – como ela se autodeclarou – nos deixou com alguns ciscos nos olhos durante o filme. Sem falar na magistral Alcione, amiga pessoal de Luana, que trouxe falas fundamentais para o combate à LGBTfobia, e valorização da vida. “Você acha que não iria cantar na Missa dela? Era minha amiga”, disse a Marrom, que relevou a sua amizade e vivência cotidiana com Luana, e relata inclusive o seu encontro com o Padre Fábio de Melo, que também deu um depoimento muito lúcido sobre o amor e o respeito, e revelou que até hoje não conseguiu apagar do celular os áudios das longas conversas que tinha com Luana, e de como mudou após o primeiro encontro, no aniversário da Marrom, na quadra da Mangueira.
“Luana Muniz – Filha da Lua” é um documentário inspirador e repleto de alegrias, emoções e amizades verdadeiras. Não vou contar muito para não dar spoiler, pois esse doc deve ser visto por todxs, pois é uma história de humanidade que precisa ser contemplada para melhorar nossa humanidade. E vou deixar um questionamento para quando você for assistir, ter a resposta da minha pergunta: você botaria um amigo seu, viciado em drogas, morando na rua, em sua casa?
Programação 12 a 18 de agosto, sempre às 18h
São Paulo: Espaço Itaú de Cinema | Pompéia e Espaço Itaú de Cinema | Frei Caneca
Rio de Janeiro: Espaço Itaú de Cinema | Botafogo
Salvador: Espaço Itaú de Cinema | Glauber Rocha
Porto Alegre: Espaço Itaú de Cinema | Bourbon
Brasília: Espaço Itaú de Cinema | Casa Park
Belo Horizonte: UNA Cine Belas Artes