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Telma, eu não sou gay: a história por trás da canção

Carlos Leal,
05/06/2024 | 23h06
Foto: Reprodução Youtube

Leo Jaime é, definitivamente, um dos grandes representantes do rock brasileiro e um dos mais irreverentes cantores surgidos na década de 1980, auge do rock nacional. O artista iniciou sua carreira como integrante do grupo João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, lançando em 1983 o álbum Os Maiores Sucessos de João Penca & Seus Miquinhos Amestrados. Esse álbum, inclusive, além de ter sido o único com a participação de Léo, traz a gravação de Calúnias ou Telma Eu Não Sou Gay, versão de Leo Jaime, Leandro Verdeal e Sérgio Abreu para Tell me Once Again do grupo paulista Light Reflections.

Em entrevista ao Programa Jô Soares nos anos 80, Léo Jaime contou que quando a versão da música foi feita, em tom de brincadeira e dentro de um fusca com nove pessoas voltando de um show, eles pensaram em dar a canção para Agnaldo Timóteo, mas ninguém teve coragem de mostrar a música ao artista e ela acabou parando nas mãos de Ney Matogrosso. Ney fez a gravação, mas não para entrar em seu disco, e sim como participação especial no disco dos Miquinhos. A gravadora (Ariola) ao ouvir a canção resolveu inclui-la também no disco que Ney estava gravando chamado Pois É (1983). Os executivos da Ariola sabiam que seria sucesso na certa.

Surge aí um impasse que causou grande desconforto entre Ney e a gravadora: o artista não queria incluir essa canção em seu disco, achava que fugia do conceito daquele trabalho. Vale lembrar que Pois É traz também músicas como Pro Dia Nascer Feliz (Cazuza e Frejat), Coração Civil (Milton Nascimento e Fernando Brant ) e Até o Fim (Chico Buarque de Holanda). Começou então uma espécie de chantagem: ou a música entrava em Pois É, ou a gravadora não lançaria o disco de João Penca e Seus Miquinhos Amestrados. Ney, solidário e generoso, cedeu, mas deixou a gravadora no ano seguinte.

A música Calúnias, claro, virou hit e até hoje, juntamente com Homem com H (Antônio Barros) é um dos maiores sucessos do artista, no entanto, ele continua concordando que a música não tem a ver com seu repertório. Quando em 2008 foi lançado uma caixa com 17 CDS do artista, uma de suas exigências foi que Calúnias não entrasse na reedição do CD. De fato, se analisarmos a letra de Calúnias, ela não tem a ver com a história de um artista que sempre soube se impor e militar pela causa LGBTQIAPN+ apenas com sua arte e existência. Um artista com o histórico de Ney Matogrosso gravar uma música negando sua sexualidade, vai de encontro ao que ele sempre pregou. Salve Ney Matogrosso, um dos maiores artistas do mundo.