“Antigamente alguns clientes me ligavam para saber como estava o movimento no Originally. A depender do público, alguns vinham de boné, camuflados, por causa do preconceito”
Uma das empresárias mais queridas e conhecidas do entretenimento LGBTQIAPN+ soteropolitano, Jô Mendonça retornou recentemente com o Bar Originally, sucesso absoluto nas décadas de 90 e nos anos 2000. Hoje, funcionando no espaço Jubiabar, no bairro do Rio Vermelho, Jô está conseguindo a proeza de trazer de volta velhos clientes e conquistar um novo público, sempre com uma programação diversificada. Nessa entrevista ao Dois Terços, a empresária conta um pouco da sua trajetória e como ela vê, hoje, a noite soteropolitana. Confiram.
DOIS TERÇOS: Você é uma das empresárias do entretenimento LGBT mais conceituadas de Salvador. No entanto, é importante recordar sua trajetória, antes do Originally, teve o Butterfly, que também marcou época, não foi?
JÔ MENDONÇA: Sim. Inicialmente fui convidada a fazer a produção do Butterfly e o resultado foi muito bom, daí começou essa minha trajetória que dura até hoje. Sou muito grata a toda essa história. Realmente, o Butterfly marcou época.
DT: Antes de ser empresária da noite, o que você fazia?
JM: Olha, já fiz muita coisa. Sou dessas pessoas batalhadoras que estão sempre na luta. Posso citar, por exemplo, que já trabalhei em banco, já fiz produções de jingles, produzi artistas… mas me encontrei mesmo foi trabalhando com entretenimento, em especial para o público LGBTQIAPN+.
DT: Da época do Butterfly para hoje, o que você sente que mudou com relação ao público? Hoje ele é mais liberal, frequenta a casa com mais naturalidade?
JM: Ah, mudou muito. Para você ter uma ideia, antigamente tinha clientes que ligavam para me perguntar como a casa estava, se tinha muita gente. Já imagina o motivo, não é? A depender do público, alguns vinham camuflados usando boné para disfarçar, tudo por conta do preconceito. Não era vergonha, sinto que eles temiam serem reconhecidos por conta da família, do gtrabalho…
DT: Durante sua trajetória, teve algum momento que você pensou em desistir?
JM: Já sim, uma única vez, em um momento em que eu estava sozinha. Mas foi passageiro, logo tive uma lição de ânimo e fiquei mais forte ainda para levar o barco adiante.
DT: Grandes nomes já passaram pelo Originally, como por exemplo, Gretchen, Nize Palhares, Ângela Ro Ro e tantos outros, mas observo que você dá preferência ao artista local … é uma forma de valorizar “a prata da casa”?
JM: Realmente, como produtora, tendo a prestigiar as pratas da casa. Lógico que tenho o cuidado de garimpar grandes talentos pra que o público nos valorize ainda mais. E tem um detalhe muito importante: dou preferência aos artistas LGBTQIAPN+
DT: Uma das características das casas por onde você já passou é a organização e a segurança. Qual o segredo?
JM: Não existe segredo. Tento fazer o melhor para que todos se sintam acolhidos num espaço livre de preconceitos. Sempre prezei pela segurança, boa música e muita alegria. Posso dizer que o Originally é uma grande família. Faço tudo com amor e dá certo…
DT: Como você vê, hoje, o mundo LGBTQIAPN+ em Salvador?
JM: Carência, essa é a palavra. Eu mesma, por motivos pessoais e por ser sozinha, resolvi dar um tempo, mas entendi que temos poucos espaços para o público LGBT, daí, retornamos para colecionarmos mais momentos especiais. Mas, no geral, Salvador ainda está carente de espaços para o público LGBT.
DT: Com relação ao Originally, alguma novidade vindo por aí?
JM: Sim. Meu público maior na casa sempre foi o masculino e as mulheres me questionavam porque eu não direcionava um dia para público feminino, resolvi corajosamente (risos) colocar um dia da semana pra esses encontros. Comecei com as quintas Femme. Vamos ver se o público feminino comparece.
DT: Deixa um recado para o público do Originally.
JM: Deixo um convite para meus clientes amigos. Vivemos momentos inesquecíveis, que ficaram na história, vamos relembrar e colecionar outros novos momentos. Aproveito para agradecer aos meus parceiros da casa Jubiabar por acreditar e abrir as portas pra um público tão discriminado. Olha, rotular a casa em dois dias da semana pra nosso público LGBT tem que ter coragem. Sabemos o quanto é difícil ter um espaço exclusivo pra esse público. Sabemos né ? Mas Venhammm porque o Originally e o Jubiabar é um só! Aguardamos vocês.