Ronaldo Serruya lança livro “A Doença do Outro” e reflete sobre HIV/aids na sociedade

O dramaturgo e ator Ronaldo Serruya acaba de lançar seu livro “A Doença do Outro” pela editora Javali, de Belo Horizonte. A publicação faz parte de uma coleção dedicada ao teatro brasileiro contemporâneo. O livro é uma adaptação da peça homônima de Serruya, que aborda questões profundas e complexas relacionadas ao HIV/aids.

“Essa obra surgiu a partir de um diagnóstico positivo que eu recebi em 2014. A ideia era refletir sobre o HIV/aids não apenas como uma questão médica, mas como uma doença social, examinando como os estigmas em torno dela se construíram e se perpetuaram ao longo de mais de 40 anos”, explica Serruya. Para compor a dramaturgia, ele recorreu a conceitos e pensadores do feminismo negro e da teoria queer, como Audre Lorde, Patricia Hill Collins, Grada Kilomba, Preciado e Butler. “Essas reflexões ajudaram a entender a construção do corpo da pessoa vivendo com HIV como um corpo recusado, um corpo interditado”, acrescenta.

A peça “A Doença do Outro”, que estreou no final de 2021 no Centro Cultural São Paulo, foi concebida como uma palestra que gradualmente se transforma em uma festa. Serruya destaca que, embora a peça parta de sua experiência pessoal, ela transcende o autobiográfico para falar de um corpo social. “Não é só sobre mim. É uma tentativa de sair de mim e falar de um grupo de pessoas que vivem com HIV, reconhecendo que minha perspectiva é limitada pelo meu corpo de homem gay, branco, cisgênero, morador de um grande centro urbano”, comenta.

O lançamento do livro vem como uma realização adicional para Serruya. Ele relata que muitos espectadores da peça perguntavam onde poderiam encontrar o texto, o que motivou a busca por uma forma de publicação. “Publicar dramaturgia no Brasil não é fácil, mas conseguimos essa parceria com a editora Javali. Além do texto da peça, o livro inclui um prefácio de João Silvério Trevisan, escrito originalmente para a estreia da peça no Centro Cultural São Paulo, e três críticas sobre o trabalho”, detalha.

Trevisan, uma figura icônica na luta pelos direitos homossexuais no Brasil e autor do livro “Devassos no Paraíso”, foi escolhido por Serruya para escrever o prefácio. “Ele é uma referência importante, um homem gay que viveu o olho do furacão da epidemia de HIV/aids. O fato de eu estar vivo hoje e poder escrever sobre isso é resultado de uma luta histórica, de um legado que inclui muitas vidas perdidas”, ressalta Serruya.

O lançamento de “A Doença do Outro” aconteceu no dia 20 de junho na livraria Mega Fauna, em São Paulo. A obra pretende não apenas preservar memórias, mas também ressignificar narrativas sobre HIV/AIDS, acentuando perspectivas de vida em vez de morte. “O livro chega como uma ferramenta poderosa para democratizar o acesso à dramaturgia e continuar o debate público sobre a epidemia de HIV, que ainda é um problema social no Brasil”, finaliza Serruya.

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