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Recomendação de dose única da vacina contra HPV não vale para pessoas HIV+, este público deve receber três doses do imunizante

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou que a vacina contra o HPV, um vírus associado a mais de 90% dos casos de câncer de colo do útero, será aplicada em dose única no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a recomendação é para um público específico: crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. Pessoas vivendo com HIV, imunossuprimidos e vítimas de violência sexual, que também podem receber a vacina na rede pública, continuarão com o esquema anterior (até três doses).

Em entrevista à Agência Aids, o infectologista Álvaro Furtado, do Centro de Referência e Treinamento em IST/Aids de São Paulo, esclareceu que para pessoas de 9 a 45 anos vivendo com HIV/aids, transplantados e pacientes oncológicos —grupos com maior risco de desenvolver complicações— continua valendo a recomendação anterior.

“Os estudos que respaldam a dose única da vacina são válidos apenas para pessoas imunocompetentes, não há nenhuma pesquisa que traz a indicação de reduzir doses da vacina em pessoas vivendo com HIV. Para este púbico, a indicação é de três doses.”

A nota técnica do ministério incluiu um novo grupo no Programa Nacional de Imunizações (PNI): pessoas portadoras de papilomatose respiratória recorrente (PPR), de qualquer idade.

Podem se vacinar de forma gratuita pelo SUS:

Dose única é recomendada pela OMS

A decisão segue uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) feita em 2022. Na ocasião, os especialistas revisaram evidências da eficácia de duas ou três doses nos esquemas recomendados e concluíram que uma dose da vacina já oferecia uma proteção significativa contra o HPV.

Segundo a OMS, a adoção do esquema de dose única para a faixa etária de 9 a 20 anos pode auxiliar no aumento da cobertura vacinal, a inclusão de outros públicos prioritários e facilitação da introdução da vacina contra o HPV em programas de imunizações nos países de média e baixa renda. No Brasil, a adesão segue abaixo da meta.

O HPV e a importância da vacinação

O HPV é responsável por 99% dos casos câncer de colo de útero, o terceiro mais frequente entre as mulheres no Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma. Atualmente, o câncer do colo de útero é considerado passível de erradicação, por meio da vacinação, rastreamento e tratamento das lesões.

Se a vacina é importante para o câncer do colo de útero, por que vacinar também os meninos? A proteção se estende para outros tipos, como o câncer de pênis, ânus, orofaringe, vagina e vulva. Além disso, vacinando o público masculino, conseguimos interromper a cadeia de transmissão.

Estima-se que mais de 80% das pessoas serão infectadas pelo vírus HPV, que é altamente contagioso, em algum momento da vida, mas isso não significa que toda infecção vira câncer. Dados do Ministério da Saúde apontam que o HPV atinge 54,4% das mulheres que já iniciaram a vida sexual e 41,6% dos homens.

São cerca de 200 tipos de vírus descritos, alguns que infectam a região ano-genital, e cerca de 20 apresentam potencial de desenvolver certos tipos de câncer.

A rede privada já tem disponível a vacina nonavalente, que protege contra mais cinco tipos de vírus: 31, 33, 45, 52 e 58, aumentando a proteção em quase 90% dos cânceres de colo uterino.

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