‘PreP sob demanda pode colaborar para redução de novas infecções por HIV no Brasil’, afirma infectologista Maiky Prata

Genilson Coutinho,
13/01/2023 | 13h01

Simples, gratuita e muito eficaz na proteção contra o HIV. A Profilaxia Pré-Exposição, mais conhecida pela sigla PrEP, é um dos métodos de prevenção à infecção pelo HIV que vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil. Disponível no SUS desde janeiro de 2018, essa profilaxia é capaz de bloquear os caminhos que o vírus usa para infectar o organismo. Em quatro anos, mais de 52,5 mil pessoas tiveram acesso, pelo menos uma vez, à PrEP no SUS.

Em dezembro de 2022, o Ministério da Saúde atualizou o protocolo de prescrição de PrEP e incluiu a PrEP sob demanda no SUS, que é um esquema de uso da PrEP oral no qual a tomada dos medicamentos está vinculada a cada situação que houver relações sexuais. É também chamada de PrEP orientada por eventos ou PrEP 2+1+1, referindo-se ao número de comprimidos que são tomados antes (2) e depois da exposição (1+1).

A PrEP sob demanda, segundo especialistas, pode garantir a prevenção do HIV para pessoas que não querem, não precisam ou não conseguem usar diariamente a PrEP, compondo o leque de opções da prevenção combinada.

“Com a prescrição sob demanda, os usuários são instruídos a tomarem as pílulas apenas nas ocasiões em que tiverem relações sexuais. São dois comprimidos de 2 a 24 horas antes do sexo, um comprimido 24 horas após a dose dupla e um comprimido 48 horas após a dose dupla”, explicou o infectologista Maycky Prata, que atende no Centro de Referência em HIV/Aids e no Ambulatório de Atendimento à Saúde Integral da População de travestis e transexuais do Município de Diadema.

Quem pode fazer uso da PrEP sob demanda?

O esquema sob demanda é mais usado, segundo o médico, por quem tem menos exposições sexuais semanais e consiga planejar seus horários. É indicado apenas para homens gays e bissexuais cisgênero e para travestis e mulheres trans que não fazem uso de hormônios feminilizantes com estradiol.

“Havia muitos indivíduos que questionavam a necessidade de uso de uma medicação contínua diariamente, mesmo tendo baixa frequência de atividade sexual, e portanto não utilizavam a PrEP porque no Brasil não havia a regulamentação do uso em caso de eventos isolados. Agora, com as recomendações atualizadas e a adequada descrição do protocolo de uso sob demanda, certamente vamos aumentar o alcance deste método de prevenção,” celebrou o doutor.

Ele ainda explicou que a PrEP sob demanda é segura nos seguintes termos: indivíduos com frequência sexual menor que duas vezes por semana e que tenham relações incluindo com possibilidade de planejamento, permitindo o adequado uso da dose inicial que é recomendada ser administrada entre 2 a 24 horas antes da relação sexual.

Questionado se na PrEP sob demanda o medicamento usado é o mesmo da PrEP diária, dr. Maiky disse que sim, o que difere é o esquema de ingestão do medicamento. Neste sentido a posologia da PrEP sob demanda é da seguinte forma:

O especialista também chamou atenção para a medida que deve ser adotada em caso de uma nova relação sexual neste intervalo. “Se ocorrer no dia consecutivo após completar a dose de 48 horas, deve-se tomar um comprimido por dia até 48 horas após o último evento sexual. Se ocorrer um intervalo de mais de um dia entre o último comprimido e o próximo evento sexual, recomenda-se que o usuário da PrEP sob demanda reinicie o esquema 2+1+1”.

Além do Brasil, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e França já utilizam a PrEP sob demanda como política pública de prevenção do HIV.

Dr. Maycky Prata afirma que apesar de ser recomendada para um público bem específico, certamente a PrEP sob demanda amplia as possibilidades de prevenção.  “Trata-se de uma importante estratégia de prevenção, ampliar o acesso significa que mais pessoas farão uso deste método de prevenção, o que pode colaborar ainda mais para redução do número de casos novos da infecção por HIV no Brasil”, finalizou.