PM é acusado de homofobia em bar LGBTQIAPN+ no Pelourinho
O músico Antônio Jorge Santos Souza, conhecido como “Tom Sofrência”, de 39 anos, acusa um soldado da Polícia Militar de tentativa de homicídio durante uma apresentação no Bar do Fua, um dos points LGBTQIAPN+ mais populares do Pelourinho. Segundo o músico, a marca deixada pela pólvora em seu boné branco é prova de que o disparo foi à queima-roupa. “Ele colocou o cano da arma debaixo do meu queixo e atirou. Na hora, me joguei para trás e a bala passou raspando”, relata. O crime está sob investigação na 1ª Delegacia (Barris). A proprietária do estabelecimento, Tatiane Dória, de 48 anos, também denunciou o mesmo policial à Corregedoria da PM por ameaça e perseguição.
Tatiane destaca a história e a importância do Bar do Fua no Pelourinho. “Estamos aqui há mais de 70 anos. Meu pai fundou o bar, e, desde que assumi, nunca tivemos problemas. Isso começou depois que transformei o espaço em um ponto de diversidade. Aqui, o público LGBTQIAPN+ se sente acolhido”, explica. Ela acredita que o motivo das ameaças seja homofobia. Segundo Tatiane, o PM, que mora nas proximidades, costuma agir à paisana e sob efeito de álcool. “Quando ele bebe, sempre faz isso. Hoje me sinto oprimida, sem poder trabalhar. O governador não quer um policial assim, que suja a imagem da corporação. Quer um que proteja a população”, desabafa. Tatiane também registrou queixa na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) e solicitou medida protetiva contra o policial.
O Bar do Fua, localizado próximo à Praça Quincas Berro d’Água, tem sido alvo de diversas ações violentas e discriminatórias por parte do PM, segundo relatos. Tatiane denuncia que ele, constantemente à paisana e embriagado, tem ameaçado e perseguido clientes e funcionários. A tentativa de homicídio contra Antônio Jorge aconteceu em 21 de dezembro do ano passado, quando o policial entrou no bar afirmando que iria matá-lo. “Fiquei sem entender. Perguntei o porquê da ameaça, ele me puxou pela camisa, colocou a arma sob meu queixo e disparou. Por pouco não virei estatística”, declara o cantor.
O músico confessa estar apavorado. “Em 15 anos de carreira, nunca me senti tão ameaçado. Não posso trabalhar, viajar ou cumprir minha função direito por medo do que ele possa fazer”, desabafa Tom. Tatiane reforça que o militar já fez inúmeras ameaças. “Sempre que bebe, chega aqui dizendo que vai matar todo mundo. Já ficou do outro lado da rua, armado, observando meu bar. Recentemente, começou a tirar fotos minhas e da minha família. Para quê? Tenho duas filhas e uma mãe idosa que vivem com medo. Eu pago meus impostos e preciso trabalhar”, lamenta.
Além das intimidações, Tatiane denuncia perseguição sistemática. “Ele liga constantemente para a Sucom (Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município), denunciando poluição sonora. Mas quando os agentes chegam, constatam que não há irregularidade. Apesar de ter permissão para funcionar até as 2h, fecho uma hora antes, respeitando o direito alheio”, explica.
Tatiane também afirma que viaturas têm sido enviadas frequentemente ao bar, como forma de intimidação. “Ele faz denúncias falsas, dizendo que sou traficante e que meu bar recebe pessoas armadas. A única pessoa que sacou uma arma aqui foi ele, para nos ameaçar de morte. Ele quer que fechemos, mas vamos lutar até o fim”, declara. “Somos resistência no Pelourinho. Movimentamos toda essa região. Quando o bar está aberto, muitas famílias são beneficiadas”, acrescenta Tom.
O Bar do Fua foi fundado por Nego Fua, o “Galo do Maciel”, um grande incentivador do samba e figura histórica do Pelourinho. Diante da gravidade da situação, medidas urgentes foram adotadas, incluindo denúncias formais à Corregedoria da PM e à 1ª Delegacia da Polícia Civil, além da solicitação de medidas protetivas para garantir a segurança das vítimas. “Estamos preparando ações judiciais para responsabilizar o policial, especialmente pela tentativa de homicídio contra Antônio Jorge”, afirma Evelyn Britto, advogada das vítimas.