Pacientes com câncer de ovário podem ter sua fertilidade preservada
Dois anos depois de superar o câncer de ovário que descobriu aos 29 anos de idade, a dentista Natália Melo Falcão (34) desconfiou que o tumor poderia ter voltado, mas para sua surpresa, quando foi fazer uma ultrassonografia, descobriu que estava grávida. Sua bebê nasceu saudável, o cisto desapareceu e desde então ela está bem. A doença foi descoberta através de exames de rotina, pois não havia sintomas. Como o tumor é raro em mulheres em idade reprodutiva, o tratamento mais indicado costuma ser a remoção total do aparelho reprodutor. Contudo, como a paciente planejava uma gravidez futura, o cirurgião oncológico explicou que seria possível optar por uma cirurgia conservadora e assim foi feito. Mesmo com a remoção do ovário e trompa direitos, de uma parte do ovário esquerdo e do peritônio afetados pelo tumor, a tão esperada gravidez foi possível, prova de que a preservação da fertilidade em pacientes com tumor de ovário é uma possibilidade real.
Natália sempre sonhou com a maternidade. “Apesar do susto diante do diagnóstico, mantive em Deus a fé de que o realizaria. Além disso, meu cirurgião oncológico, o doutor André Bouzas, me passou muita segurança desde a primeira consulta. Hoje minha filha está com três anos de idade. Sigo fazendo o acompanhamento, para ter certeza de que não há recidivas, mas estou ótima, saudável e acompanhando o restinho de ovário que ainda tenho”, contou a odontóloga.
De acordo com o diretor do núcleo de cirurgia oncológica do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), André Bouzas, o câncer de ovário, segunda neoplasia ginecológica mais comum (atrás apenas do câncer do colo do útero) é muito mais frequente em mulheres acima dos 50 anos. No entanto, a doença pode aparecer em mulheres jovens, com características diferentes. “Alguns tumores têm crescimento mais lento enquanto outros são mais agressivos. Pode haver consequências indesejadas na idade fértil, mas em muitos casos a fertilidade pode ser preservada”, afirmou.
Os ovários são órgãos produtores de hormônios e responsáveis pela ovulação, mas que após a menopausa terminam sua função e atrofiam. A presença de cistos nos ovários, muito comum na mulher jovem, geralmente reflete uma alteração funcional ou uma neoplasia benigna, mas algumas características podem indicar que se trata de um tumor maligno. História familiar, fatores genéticos, idade avançada e excesso de gordura corporal são fatores de risco para a doença. Além disso, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o risco de câncer de ovário é aumentado em mulheres com infertilidade. A menarca (primeira menstruação) precoce (antes dos 12 anos) e a idade tardia na menopausa (após os 52 anos) também aumentam o risco.
Sintomas e diagnóstico – Os sintomas desse tipo de tumor podem ser inespecíficos, o que pode dificultar o diagnóstico precoce. Entre os sinais comuns, destacam-se o desconforto e inchaço abdominal, perda de apetite e mudanças no hábito intestinal e urinário. “Infelizmente, o câncer de ovário é, muitas vezes, diagnosticado em estágios avançados, o que pode afetar negativamente as taxas de sobrevivência. Quanto mais cedo a doença for descoberta, maiores são as chances de sucesso do tratamento”, destacou André Bouzas.
As etapas comuns no diagnóstico incluem histórico da paciente e exame físico; exames de imagem, como ultrassonografia transvaginal, tomografia computadorizada ou ressonância magnética; marcadores tumorais (exames de sangue); biópsia (para confirmar o diagnóstico); e, caso o câncer de ovário seja confirmado, estadiamento da doença, que determina o quão avançado está o tumor e se ele se disseminou para outras áreas do corpo.
Tratamento – Apesar dos desafios associados ao câncer de ovário, avanços significativos têm sido alcançados no campo do tratamento. A abordagem multidisciplinar, combinando cirurgia, quimioterapia e terapias-alvo, tem mostrado resultados promissores, proporcionando uma melhor qualidade de vida e sobrevida para muitas pacientes. Após a confirmação da doença, o tratamento, via de regra, é cirúrgico. No entanto, quando a paciente está na idade fértil e ainda não tem filhos, a preservação da fertilidade precisa ser considerada. “Todas as opções devem ser discutidas com a paciente. A decisão deve levar em consideração o estágio do câncer e a chance da doença voltar caso o útero não seja retirado”, explicou o cirurgião oncológico.
As opções cirúrgicas são variadas e a escolha depende do estágio da doença, do tamanho e localização do tumor, da idade e condição física da paciente, entre outros fatores. Cirurgia de citorredução (Debulking) é a cirurgia primária para a maioria das pacientes com câncer de ovário avançado. O objetivo é remover o máximo possível do tumor e das áreas afetadas, como o ovário, trompas de Falópio, útero e outros órgãos ou tecidos comprometidos. Já a histerectomia total envolve a remoção completa do útero.
A retirada dos ovários e trompas de Falópio (Ooforectomia), por sua vez, remove o tecido cancerígeno e reduz o risco de recorrência em pacientes com câncer de ovário em estágios iniciais ou para mulheres com alto risco de desenvolver a doença devido a mutações genéticas. “A cirurgia robótica é um avanço cada vez mais indicado para tratar boa parte dos casos de câncer de ovário, especialmente quando o objetivo é a remoção dos órgãos afetados de forma menos invasiva. Maior precisão e segurança e menor tempo de internação são algumas das vantagens desta modalidade cirúrgica”, acrescentou André Bouzas. O acompanhamento regular após o término do tratamento é fundamental.