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Opinião: Zé Ramalho, táxi boy?

Foto: Carlos Leal

Domingo, 23 de abril, o cantor e compositor Zé Ramalho fez uma super apresentação na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), mesmo com a chuva que caiu no final, o show foi impecável. Dentre as canções que Zé incluiu no repertório, e que não poderia faltar, esteve Garoto de Aluguel, ou Taxi Boy, canção de 1979 no LP A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, disco que traz na capa Zé ao lado da atriz Xuxa Lopes e do ator Zé do Caixão. Afinal, foi Zé Ramalho garoto de programa ou não? Aliás, isso em nada muda o teor e a qualidade do seu trabalho artístico. Alguns críticos, garantem: a canção é autobiográfica, outros, que é mera inspiração artística.

E o que diz Zé Ramalho? O artista conta que, de fato, ao chegar no Rio de Janeiro para tentar a vida artística, dormia com umas meninas “elas gostavam, nordestino tinha aquela fama de brabo, jeitão de gente meio desengonçada. Isso me ajudou, sim”. Se tinha cachê ou o pagamento ficava só na “estadia” ele não revelou.

Foto: Divulgação

Em entrevista a Luiz Eduardo Araújo no http://ramalheando.blogspot.com/ , em 2002 Zé diz o seguinte: “Isso foi na época da ditadura. Os militares estavam atrás dos comunistas e não perturbavam os hippies nem nordestinos cabeludos. E, nessa história de queimar fumo, pra conhecer as pessoas, viramos ratos de shows. Havia as groupies, garotas que iam ao show afim de ficar com o artista, ou com os músicos do artista, ou com qualquer aficionado. Nessa sequência você acaba sorteado. Dormia num quarto de motel e no outro dia elas tinham pena da gente e davam um troco pra refeição”, contou Zé.

Capas de discos que movimentaram o mundo LGBTQIAPN+

Em outra entrevista ao http://museudacancao.blogspot.com/ Zé Ramalho conta outra história: “Eu passei fome. Várias vezes dormi em frente ao Copacabana Palace. Mas teve uma pessoa lá no Bar da Glória que, durante uns quatro meses, me deixou dormir num quarto de empregada, aquele cubículo miudinho. Chamavam a gente de Nordestino sofredor, eles viam nossa situação e uma ajuda era sempre bem-vinda”, contou o autor de Taxi Boy.

O fato é que a canção rende até hoje e atravessa gerações. Autobiográfica ou não, importa, Zé foi feliz, aproveitou a vida e enche nossa alma de alegria, seja amando, sonhando, criticando ou até pensando em, quem sabe, ser um Taxi Boy.
Garoto de Aluguel (Táxi Boy) – Zé Ramalho
Baby
Dê-me seu dinheiro
Que eu quero viver
Dê-me seu relógio
Que eu quero saber
Quanto tempo falta
Para eu lhe esquecer
Quanto vale um homem
Para amar você
Minha profissão
É suja e vulgar
Quero um pagamento
Para me deitar
E junto com você
Estrangular meu riso
Dê-me seu amor
Dele não preciso
Baby
Nossa relação
Acaba-se assim
Como um caramelo
Que chegasse ao fim
Na boca vermelha
De uma dama louca
Pague meu dinheiro
E vista sua roupa
Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo
Conte pras amigas
Que tudo foi mal
Nada me preocupa
De um marginal
Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo
Conte pras amigas
Que tudo foi mal
Nada me preocupa
De um marginal

Carlos Leal – Jornalista formado pela Universidade Tiradentes, Especialista em Marketing Digital, autor do livro infanto-juvenil Histórias de Dona Miúda: a Raínha do Forró (Ed.Pinaúna), co-autor do livro Cem Anos de Dorival Caymmi: panoramas diversos, em parceria com a Professora Dra. Marilda Santanna. Atualmente colabora com artigos e textos para O Dois Terços e para o jornal A Tarde e escreve duas biografias: da cantora alagoana Clemilda e da sambista baiana Claudete Macêdo.

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