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O dia a dia de pessoas com HIV e o papel do preconceito como um obstáculo para o tratamento

Genilson Coutinho,
04/12/2023 | 11h12

Por Fantástico

Foto: Reprodução Fantástico

Dezembro é o mês de conscientização contra a aids. Já faz mais de 40 anos que a primeira transmissão por HIV foi identificada no Brasil. Desde então, houve muitos avanços científicos. Hoje, o vírus é controlável e existem outros métodos de prevenção, além da camisinha.

Mesmo assim, a cada dia no país, 30 pessoas morrem de aids, que é a síndrome adquirida quando o HIV não é tratado.

“A palavra futuro ela gritava muito na minha mente. O amanhã, como será o amanhã? O amanhã ele foi solitário, ele foi triste, ele foi o Jean com o Jean”, conta Jean Carlos Silva, tarólogo.

Preconceito, desinformação e desigualdade no acesso à saúde continuam sendo obstáculos no combate ao vírus.

“O que eu tinha de informação era de antigamente. Então me deu aquela desequilibrada, aquele desespero. Realmente eu, eu, tudo que você via era Cazuza e tal. Assim agora. O que vai acontecer comigo? Veio realmente todo aquela trajetória de vai morrer, vou ficar magro até às vezes culpa. Chorei bastante sozinho no meu chuveiro quieto lá. Outra parte que me preocupou, mas assim, muito, muito, muito, é um relacionamento”, ressalta Diego Moi, instrutor físico.

“Quando a gente fala assim dos sentimentos de uma pessoa com HIV, eu acho que os três mais presentes são: medo, solidão e culpa”, pontua Tatiane Corte de Oliveira Lima, neuropsicóloga.

O infectologista Lucas Chaves Netto também vai na mesma linha: “Se eu tenho um problema, tudo o que eu quero é só desabafar com alguém. A pessoa que tem HIV muitas vezes não tem com quem desabafar. Ela não pode falar para a mãe, ela não pode falar às vezes para um amigo”, diz.

“O tratamento ele é gratuito. Ele é distribuído nacionalmente, ele é eficaz e ele é seguro, então por que se morre de aids? O componente de estigma, o componente de preconceito exercido em todos os níveis da sociedade, inclusive dos profissionais de saúde, Eles impactam diretamente que essa pessoa, mesmo com uma doença controlada, ela não esteja saudável. E muitas vezes é isso que leva à morte. Nós só vamos conseguir impactar a epidemia do HIV se nós oferecermos o diagnóstico a todos sem restrição e o máximo de vezes possível. sem julgamento por trás do diagnóstico”, destaca o infectologista.

Estudo

Segundo um estudo da Unaids, feito com 1.784 pessoas com HIV em sete capitais brasileiras em 2019, 64% dos infectados já sofreram algum tipo de discriminação – 46% por meios de comentários de familiares, vizinhos e amigos, 25% em assédios verbais e 20% chegaram a perder sua fonte de renda ou emprego.

“Quando a gente deixa de usar, por exemplo, termos que são terríveis, como aidético, que vai se transformando para soropositivo. Criando termos que deixam em destaque o vírus e não a pessoa. Por isso que hoje em dia, a gente fala pessoa vivendo com HIV, aids, porque é sobre uma pessoa. Isso é um processo de humanização e é fundamental a gente transformar esse vocabulário que é muito recorrente na saúde hoje em dia”, destaca Pisci Bruja, antropóloga/Hospital Emílio Ribas.

Pisci Bruja, se apresenta como uma travesti vivendo com HIV há 10 anos, antropóloga, educadora comunitária. Ela trouxe um olhar retrospectivo sobre as quatro décadas da epidemia de HIV/aids e comentou como o estigma gera “morte social”.

“Se a gente pega o primeiro caso da epidemia de aids, Gaëtan Dugas, acusado de ser uma pessoa promíscua porque havia se relacionado com haitianos e contraído HIV [segundo o que se dizia].  Logo no primeiro caso a gente tem uma situação de racismo, a gente tem uma situação de homofobia e uma situação de culpa. Desde o princípio já se constrói uma noção de uma epidemia do outro, que não é um problema de saúde coletiva, mas um problema de determinados grupos populacionais”, afirmou.

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