Por Mário Edson
Uma bela e poética história de amor, que por acaso é protagonizada por dois seres do mesmo sexo… Em tempos de intolerância, talvez assim sintetizasse o belo e singelo filme do italiano Luca Guadagnino, que, com sabedoria e sensibilidade dirige o romance adaptado de André Aciman com o roteiro do experiente James Ivory.
Contando com um elenco harmônico e de nomes não tão badalados, uma fotografia belíssima e uma trilha envolvente, eis ai a fórmula do sucesso.
O filme nos narra a historia de Elio(Timothée Chalamet, excelente), que no auge de sua adolescência e descoberta de sentimentos e sexualidade se apaixona por Olivier(Armie Hammer) um hospede, ex-aluno de seu pai(Michael Stuhlbarg) que os visita em férias de verão, em trabalho como assistente. A presença de Olivier mexe com a cabeça e o coração de Elio… Belo, sedutor e sábio, Olivier discute assuntos diversos, pratica esporte, dança e seduz em cada canto que ocupa, de maneira simples e natural sem ostentações… O dia a dia da família é regado a boa musica, discussões filosóficas, e reuniões a mesa, onde grande parte das cenas nos encantam com a gastronomia italiana…
A narrativa nos é apresentada com uma sutileza e pequenos detalhes que evolui a medida que os desejos de Elio afloram … Tudo na família é singular, a começar pela formação multicultural, ali se fala inglês, alemão, francês e italiano sem a mínima dificuldade, os assuntos giram em torno de arte, música, cinema… Um primor! O pai, vivido magistralmente por Stuhlbarg(que nos brinda com uma cena estupenda no final) é de uma doçura e amorosidade invejável, a mãe é econômica e nos fala com olhares(um achado), impressiona as respostas que ela dá sem emissão de uma só vogal… Atentem…
A primeira hora parece lenta e repetitiva, nela a evolução da aproximação entre Elio e Olivier é construída nos mais belos cenários, desde a velha casa onde a família reside aos bucólicos cenários de uma antiga cidade italiana, seus lagos, suas ruínas, seus monumentos… Neste quesito as imagens dialogam de igual pra igual com o conteúdo das discussões ali travadas… Tudo muito bem construído e orquestrado…
Há uma sedução quase velada, um amor, explicito em olhares e em cumplicidade, no entanto sem maior apelo, sem cenas apelativas ou que choquem… A construção evolutiva da cumplicidade e do desabrochar do sentimento e da sexualidade de Elio ocorre lenta e gradual, tornando-se natural, talvez resida ai o maior mérito do filme, em nenhum momento nada que é mostrado nos choca ou nos surpreende negativamente… É tudo muito bem regido e belo, poético até… Não há ali um sentimento e um desejo reprimido ou repreendido e fadado aos finais trágicos …
A direção detalhista(preste atenção na mosca em cena), a fotografia espetacular, a trilha sonora apaixonante ( preste atenção nas belas canções: Mystery of Love e Visions of Gideon, ambas de Sufjan Stevens) e um elenco carismático fazem deste um dos melhores, senão o melhor filme do ano.
O filme vem percorrendo vários festivais e recebendo inúmeros prêmios, a saber:
New York Film Critics Awards, Gotham Independent Film Award, Critic`s Choice Award
Ficha Técnica:
Direção: Luca Guadagnino
Elenco: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg mais
Gêneros Drama, Romance
Nacionalidades França, Itália, EUA, Brasil
Uma curiosidade: Olha o Brasil lá na produção! E viva Rodrigo Teixeira !
Mário Edson é fotógrafo, produtor cultural e coordenador do grupo Amantes da Sétima Arte. Publica pequenos textos e ensaios sobre cinema, arte e cultura em meio a ensaios fotográficos no blog: ateliecultural.blogspot.com.