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No Dia Internacional da Mulher nossa principal homenagem é parar de violentá-las

Tá nos trends topics do Twitter, e se o Facebook tivesse um ranking de assuntos mais comentados, o dia de hoje também estaria no topo. Hoje, todo mundo está parabenizando as mulheres pelo seu dia, comemorado internacionalmente. A questão, posta ano a ano, é que, muito mais do que um dia de comemorações, o dia oito de março é um dia de luta, uma luta que não pode ser encabeçada somente pelas mulheres, e que deve ter a colaboração, o comprometimento e a empatia dos homens. Eu, como homem, gostaria de hoje conversar com nós homens, sobre a necessidade que temos de combater o machismo enraizado em nas nossas práticas diárias.

Um levantamento feito pelo G1 mostra que doze mulheres são assassinadas por dia no Brasil. Em 2017 aconteceram 4.473 homicídios dolosos, sendo 946 registrados como feminicídio, quando a morte é motivada pela sua condição de gênero. O numero de feminicídio em 2017 aumentou 6,5% em relação a 2016, e se considerarmos o último relatório da Organização Mundial da Saúde, o Brasil ocuparia a 7ª posição entre as nações mais violentas para as mulheres de um total de 83 países.

Outro dado do ano de 2017 é tão assustador quanto: no Brasil acontecem 135 estupros por dia. A cada 10 minutos uma mulher é estuprada no Brasil e todos os dias cerca de 10 estupros coletivos são notificados. Foram 49.497 casos de estupros registrados no país no ano passado.

A cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física no Brasil, e a Central de Atendimento a Mulher chegou a receber 1 atendimento a cada 42 segundos, que somam 749.024 atendimentos no ano.

Quando consideramos a situação das mulheres negras, a situação é ainda muito mais alarmante. Enquanto as taxas de homicídio de mulheres brancas reduziu em cerca de 7,4%, o Atlas da Violência 2017 revelou o aumento de 22% nas morte de mulheres negras, no período de 2005 a 2015.

O principal espaço onde essas violências são cometidas é em suas próprias casas. Os índices de violência doméstica revelam que 50,3% dos homicídios foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Em 27,1% dos casos, os assassinatos foram cometidos na casa das vítimas.

Um levantamento realizado pela Organização Não Governamental Think Olga revela que cerca de 99,6% das mulheres já foram assediadas na rua, e que mais de 80% escolhem rotas e roupas diferentes para fugir do constrangimento. As formas de constrangimento são variadas. 74% afirmam que foram seguidas por olhares insistentes, 57% já ouviram comentários de cunho sexual, 39% foram xingadas ao não corresponderem as investidas, 44% tiveram seus corpos tocados, e 50% foram seguidas.

Eu poderia continuar apresentando outros índices que denunciam a existência de múltiplas violências contra as mulheres. Entretanto, acredito que o que foi apresentado até aqui seja suficiente para dizer que, a principal homenagem que poderíamos fazer às mulheres, é parar de violentá-las.

Um bom começo para isso é aceitar que Não é Não e parar de tentar beijar as meninas a força nas festas e baladas; é não vazar nudes, que só te enviaram porque confiavam em você e nem tirar fotos ou fazer vídeos íntimos escondido; é parar de assediar as estagiárias, ou as mulheres que estão em algum cargo/função menor que o seu; é parar de dizer que a culpa do estupro é da mulher, porque ela tava mal vestida; é parar de silenciar as tuas colegas de sala, seja na escola ou na faculdade; é não embebedar a colega e abusar dela; é para de chamar a garota de gostosa, apenas porque ela está vestida da forma que ELA gosta; é parar de chamar pessoas trans de travecos; é reconhecer a identidade de gênero das mulheres trans; é não achar que duas lésbicas vão querer fazer sexo contigo, ou que vai ser você que vai fazer a mina deixar de ser lésbica; é para de pensar de que porque a garota é bi, que ela vai querer fazer uma suruba contigo; é parar de dizer que tem nojo de vaginas, apenas porque você gay; é reconhecer que o fato de ser gay não te faz menos machista e misógino; é assumir a tua paternidade, e não se achar o pica das galaxias porque está fazendo a tua obrigação como pai; é entender que a vida é dela, e que ela faz dela o que bem quiser, inclusive te deixar.

De nada adianta enchermos as nossas redes sociais de posts, levarmos flores ao trabalho, fazermos homenagens, se no dia a dia continuamos a produzir e reproduzir machismo e misoginia, se cotidianamente continuamos a violentar, em suas mais variadas formas, as mulheres que estão a nossa volta.

O dia de hoje, mais do que um dia de realizarmos homenagem às mulheres que amamos, conhecemos, que trabalham conosco, é um dia para repensarmos nossas atitudes machistas, um dia para transformar o nosso comportamento, um dia para entrar na luta pelo fim da violência e da opressão  contra as mulheres, sejam elas trans, cisgêneros, brancas, índias, negras, heterosexuais, bissexuais ou lésbicas. O nosso comprometimento pelo fim da violência não pode ser seletivo, não pode abarcar apenas algumas identidades privilegiadas, aquelas que consideramos mais humanas e menos destinadas à violência. Nós homens, somos peças fundamentais para a eliminação da opressão contra mulher, afinal, somos nós que estamos diariamente violentando-as.

 

*Elder Luan – Graduado em História e doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Gênero, Mulheres e Feminismo.

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