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No Brasil, 1 a cada 10 ciclos de fertilização são realizados por casais homoafetivos

A procura por tratamentos de reprodução assistida tem crescido também entre os casais homoafetivos do país. Dados do setor apontam que eles são responsáveis por um em cada 10 procedimentos de fertilizações realizadas em busca do sonho da paternidade/maternidade. Isso se dá graças aos avanços na medicina reprodutiva e na aceitação social. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, oito a cada 10 brasileiros – ou seja, 78% – afirmam que a homossexualidade deve ser aceita. Atualmente, os principais tratamentos disponíveis são os de inseminação artificial, fertilização in vitro e a barriga solidária, concedida por parentes de até quarto grau.

O casal Wilson e Carlos contou com a ajuda da prima para a realização de um sonho antigo dos dois: a paternidade. “Nossa história começou há dois anos, quando pedimos para uma sobrinha do Carlos, que acabou desistindo já bem perto da inseminação. Foi onde surgiu uma prima dele, que aceitou fazer parte dessa história com a gente e nos ajudar. Esse sonho para o Carlos é bem mais antigo. Ele já tentou adotar algumas vezes, mas ou ocorria em uma época em que não conseguia se estabelecer financeiramente, ou surgia oportunidade de adotar crianças com muitos irmãos, o que fugia da capacidade dele naquele momento. E a FIV surgiu como uma possibilidade de termos um filho biológico, foi quando começamos a correr atrás disso”, disse Wilson.

Carlos e Wilson contaram com ajuda de uma prima como barriga solidária (Foto: Arquivo pessoal)

Após chegar ao menor patamar dos últimos anos, o número de ciclos de Fertilização in vitro (FIV) volta a crescer no Brasil. Somente em 2022 foram realizados mais de 42 mil ciclos de fertilização, o que representa um aumento de 22% em comparação aos dados de 2020. Os dados são do último relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio).

De acordo com o ginecologista e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Condesmar Marcondes de Oliveira Filho, a inclusão da garantia do tratamento de reprodução assistida por homoafetivos pode ter impulsionado esta alta. “Nos últimos anos, vem aumentando exponencialmente a procura de casais homoafetivos que querem engravidar. É preciso compreender que em cada caso o tratamento é diferente. No caso de um casal homoafetivo formado por homens é preciso ser explicado sobre a necessidade de uma barriga solidária. Já no caso de um casal com duas mulheres eu preciso falar do banco de sêmen”, disse.

Condesmar explica ainda que a reprodução assistida possui maior diversidade de tratamento para casais femininos. “Neste caso, nós temos a necessidade da utilização do sêmen de doador, e isso é feito pela compra de sêmen de bancos especializados. Além disso, temos a opção de que somente uma das partes realize os procedimentos, ou seja, aquela que vai produzir os óvulos é aquela que vai engravidar. Mas também temos a opção de uma ser estimulada, captar os óvulos, formar os embriões e transferir para o útero da parceira. Desta forma, uma pode fazer parte do tratamento ou as duas”, afirma o especialista.

Para as servidoras públicas Marina e Rayanne, essa escolha foi simples, já que a primeira sempre sonhou em gestar uma criança. No ano passado, o casal deu à luz ao pequeno Nicolas. O tratamento escolhido por elas foi o de fertilização in vitro. “A gente já vinha pesquisando sobre reprodução assistida. Fomos nos inteirando das diferenças entre o processo de inseminação e fertilização e optamos pela FIV porque era a maneira com mais chances de dar certo”, disse Marina.

O bebê do casal nasceu em maio de 2022 (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo o ginecologista e obstetra, Dr. Vinicius Medina, médico que acompanhou o casal Marina e Rayanne, outro fator que deve ser levado em consideração é o quadro clínico de cada uma. “Algo que é analisado é a idade do casal. Geralmente é indicado que a mais nova faça o tratamento, pois esta tem maior chance de engravidar. Mas também levamos em conta o histórico médico para avaliar qual das duas mulheres terá maior chance de sucesso no tratamento. Mas, na maioria dos casos, o casal já chega com algo definido, sabendo de quem vai utilizar os óvulos e quem vai utilizar o útero para engravidar”, ressalta.

Muito mais que um tratamento

Para além dos tratamentos, o sonho de gerar uma nova vida é um ato de amor e uma conquista pessoal para cada uma dessas pessoas. O casal Marina e Rayanne espera que a história delas quebre a barreira do preconceito para um futuro melhor para o pequeno Nicolas. “A falta de representatividade faz com que a gente ache que determinadas vivências não são para nós e isso não é verdade. Depois buscar profissionais de referência que sejam comprometidos com a realização de sonhos dentro da diversidade de famílias. Esperamos que o futuro dele seja repleto de amor, acolhida e que ele esteja rodeado de pessoas que o abracem cotidianamente. Somente assim acreditamos ser possível que ele desenvolva o melhor de suas potencialidades enquanto ser humano”, finaliza o casal.

Wilson e Carlos explicam que essa conquista vai além do amor. “É incrível poder ver que nossa história está inspirando outros pais a conseguir ter um filho. Esse é um ato civil de muito amor, de muita representatividade. Se a gente conseguir plantar uma sementinha no coração de cada pessoa que está em nossa volta, uma semente sem preconceito, uma semente de amor, de respeito ao próximo, aí teremos certeza de estarmos construindo um mundo em que essas crianças serão muito amadas e que elas possam viver da melhor maneira que eles quiserem”, concluem.

Fonte: Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA)

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