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Movimento LGBT se unem para propor avanços nas políticas culturais voltadas para o setor

Produtores culturais, artistas e militantes do movimento LGBT se uniram aos membros do Conselho Estadual de Cultura da Bahia (CEC) nesta terça-feira, 30, para sugerir mudanças nas políticas públicas culturais voltadas à diversidade sexual e de gênero na Bahia. Foram cerca de três horas e meia de debate no auditório do CEC, no Campo Grande. Todas as demandas levadas aos conselheiros serão sistematizadas em um documento que será entregue à Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBA).

Entre as críticas levantadas, estão itens como a dificuldade de se enquadrar nos modelos de editais, a ausência de manutenção dos espaços culturais LGBT, como o Beco dos Artista, e a ausência de um mapeamento dos artistas LGBT que precisam ser reconhecidos como agentes e produtores do cenário local. Fizeram parte da mesa de convidados o diretor de teatro, professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Djalma Thürler, a produtora cultural Fernanda Bezerra, a travesti e artista Marina Garlen, o representante do Fórum Baiano LGBT Agnaldo Almeida e o assessor de relações institucionais da Secult, Benito Juncal. Mediando as discussões estavam os conselheiros de cultura Leandro Colling e Nelson Maca.

A Sessão Extraordinária teve início às 14h35, com a presença do vice-presidente do CEC, Aurélio Schommer, responsável pelo discurso de boas-vindas aos convidados. Schommer lembrou a importância de o CEC ouvir as necessidades da sociedade civil. “São demandas como essa, que partem do campo da cultura, que precisam ser atendidas pelo conselho”, pontuou. Em seguida, o idealizador do evento, o conselheiro Leandro Colling, assumiu os trabalhos e conduziu a sessão.


Colling lembrou que, ao incluir esse debate em sua rotina de trabalho, o Conselho Estadual de Cultura corrobora com a ideia de que a cultura LGBT precisa ser reconhecida e valorizada também como um meio de combater a homofobia. “A homofobia, a lesbofobia e a transfobia nascem, crescem e se cristalizam no campo da cultura. Daí a importância das ferramentas culturais, dos produtos da cultura, para que as pessoas se sensibilizem. Só os discursos da academia não dão conta”, afirma.

O conselheiro Nelson Maca, representante do Grupo de Trabalho Eventos e Demandas Extraordinárias do CEC, falou das dificuldades de encontrar espaço também em outras áreas, como a cultura negra. “É difícil discutir a cultura num estado que nos criminaliza”, disse.

CONVIDADOS – Entre os convidados, o primeiro a se pronunciar foi o diretor de teatro Djalma Thürler. Crítico da atual política de editais, lamentou o fato de que não há mais editais específicos na Bahia para a cultura LGBT. Hoje, os projetos dessa área são incluídos no grupo batizado de Culturas Identitárias. “Se pensa na diversidade, mas não se reflete sobre as diferenças”, disse, após classificar essa mudança como algo que unifica aspectos culturais que precisam ser analisados de modo individualizado.

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“Se pensa na diversidade, mas não se reflete sobre as diferenças”, afirma o pesquisador Djalma Thürler

“O edital para culturas identitárias pensa, por exemplo, as políticas para ciganos e idosos do mesmo modo para a etnia e para o morador rural. Ou se cria um edital específico LGBT ou se abre espaços em outras propostas para que a cultura LGBT seja atendida”, sugeriu. Outra crítica do diretor é o fato de os editais ainda serem elaborados de modo que dificulta a compreensão por parte dos agentes culturais.

Outro problema que precisa ser sanado é a demora na liberação de verbas, como explicou a produtora cultural Fernanda Bezerra. Responsável pela realização anual da mostra Possíveis Sexualidades – Festival de Cinema e Diversidade Sexual do Nordeste, Fernanda comenta que há casos de produtores culturais que conseguem se enquadrar nos editais, porém, a verba não é enviada em tempo hábil.

A produtora comentou que em seis edições da mostra Possíveis Sexualidades, apenas na primeira contou com apoio financeiro de R$ 27 mil do poder público. Nos anos seguintes, o atraso no repasse das verbas foi tamanho que esperar pelo dinheiro seria o mesmo que inviabilizar o projeto. Este ano, o evento conta com apoio da Caixa Econômica Federal. “Por que as empresas estatais não podem ter editais permanentes o segmento LGBT?”, questionou Fernanda. E completa: “Não se trata apenas da quantidade de recursos, mas de uma aplicação responsável destes recursos”.


Marina Garlen atua há 27 anos na causa LGBT

RESPEITO – Segundo a artista e travesti Marina Garlen, que se apresenta em casas noturnas há 27 anos, é preciso investir em campanhas que mostrem aos agenciadores culturais a importância de se respeitar os travestis e transexuais da cena cultural. Marina ampliou o debate com questões pertinentes. “Por que a publicidade não testa o talento de uma travesti? Por que as pessoas que trabalham com as mídias optam pelo transformista e não pelo travesti? Somos sempre descartadas. Quando aparecemos é na pista, roubando, morrendo, sempre na pior”, desabafou.


Esse reconhecimento e respeito que precisa ser direcionado aos artistas também foi citado pelo representante do Fórum Baiano LGBT, o jornalista Agnaldo Almeida. Ele afirma que espaços da cultura LGBT, como o bar Âncora do Marujo, na Avenida Carlos Gomes, precisam ser mapeados. A sugestão é que, assim como os artistas, exista um trabalho de identificação de quem são os produtores culturais desse setor. “Desse modo é possível criar um roteiro e as produções podem ser levadas à população”, sugere.

Depois de ouvir todas as sugestões dos convidados, o assessor de relações institucionais da Secult, Benito Juncal, parabenizou a iniciativa do CEC e contou os desafios enfrentados pela Secult na gestão da política cultural da Bahia. “Elaborar políticas públicas e fazer com que sejam executadas é algo difícil”, disse. Juncal afirmou que, enquanto o orçamento da cultura estiver limitado a 1%, será impossível atender todas as demandas.

Outro problema apontado é a complexidade da área cultural na Bahia e o que Juncal chama de “falta de expertise” por parte da Secult, considerada por ele como uma secretaria nova e com pouca experiência. Atrelado a isso, Juncal assinalou que a estrutura da secretaria precisa ser ampliada para atender de modo eficaz as demandas. “Estamos há anos sem ter concurso”, pontuou.

Sobre as críticas à política de editais, Juncal lembra ser preciso buscar meios de inserir a cultura LGBT nos modelos existentes, o que seria mais adequado do que criar editais específicos. “O edital não é politica, é instrumento de política. O que temos hoje para os editais não é nada diante de um estado que tem a diversidade e o tamanho da Bahia”.

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