Lenacapavir: conheça remédio com bons resultados na prevenção do HIV
Os resultados preliminares da pesquisa que testou um novo medicamento para a prevenção do HIV animaram a comunidade científica na última semana. O estudo publicado na quinta-feira (20) indicou que o antiviral lenacapavir foi capaz de proteger 100% das mulheres que usaram o remédio da infecção pelo vírus da aids.
O lenacapavir é um remédio injetável que deve ser aplicado a cada seis meses. Ele foi criado para o tratamento do HIV e já é usado fora do Brasil em pessoas com o vírus para mantê-lo controlado e em estado latente.
Como funciona o lenacapavir?
O remédio é o primeiro criado para combate ao HIV que age como um inibidor da função do capsídeo. O capsídeo de um vírus é a capa de proteína que o envolve e é formado por várias pequenas unidades, os capsômeros, que se juntam formando uma espécie de armadura.
A inibição impede a replicação eficiente do vírus afetando seu ciclo de vida e diminuindo o impacto no organismo. No caso do lenacapavir, o remédio confunde o DNA do vírus, alterando a forma como ele se replica. É como se o manual de instruções para a fabricação do capsídeo fosse embaralhado, gerando armaduras malformadas e menos eficientes.
Vendido sob o nome de Sunlenca, o medicamento possui versões orais e injetáveis, mas para a prevenção da aids apenas a versão injetável está sendo testada. A apresentação oral é indicada para pessoas que convivem com HIV multirresistente.
Quais foram os resultados do teste?
O estudo Purpose 1 testou o remédio injetável em 5,3 mil mulheres cisgênero na África com idades entre 16 e 25 anos que não tinham o HIV. O estudo comparou três tipos de prevenção: o lenacapavir, o Descovy (entricitabina e tenofovir alafenamida) e a Truvada, PrEP padrão que é distribuída pelo SUS no Brasil (tenofovir desoproxila fumarato e entricitabina).
Após doze meses, os resultados mostram que nenhuma das 2.134 voluntárias que receberam o lenacapavir contraiu HIV. Por outro lado, 16 das 1.068 mulheres (1,5%) que tomaram um comprimido diário de Truvada acabaram contraindo a infecção e 39 das 2.136 participantes (1,8%) que receberam o Descovy ficaram doentes. No ensaio, o lenacapavir foi bem tolerado e não foram identificadas contraindicações.
“Claro que drogas injetáveis e orais são difíceis de comparar, já que há uma falta de adesão aos que precisam de ingestão diária. É preciso entender como as pessoas tomaram esses remédios. Mas esse estudo traz um resultado excelente para nós. Pela primeira vez, temos uma estratégia testada em um grande número de pessoas que levou a zero infecções”, explica o infectologista Sidnei Pimentel, que é especialista do Centro de Referência e Treinamento IST/aids (CRT) de São Paulo.
O CRT, inclusive, tem papel fundamental na pesquisa do lenacapavir. A instituição está realizando um dos braços da pesquisa com o remédio no estudo Purpose 2, que envolve homens que fazem sexo com homens ou pessoas trans e não-binárias que fazem sexo com homens. A pesquisa é importante pois esta é a maior parte da população que faz uso da PrEP no Brasil.
“Depois dos resultados tão animadores do Purpose 1, aumenta a nossa expectativa e ansiedade em relação ao Purpose 2, que já está em fase bem avançada. Os resultados devem sair no final deste ano ou no começo do ano que vem”, completa o pesquisador.
O remédio está disponível no Brasil?
O lenacapavir foi criado em 2021 e, embora seja disponibilizado nos Estados Unidos, Europa e Canadá desde 2022, ainda não foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso no Brasil. O medicamento não tem registro porque a farmacêutica Gilead, produtora do remédio, não protocolou o pedido no país.
Após a divulgação dos resultados do Purpose 2, as agências regulatórias do mundo devem avaliar a liberação da nova forma de PrEP. Caso os resultados observados no Purpose 1 sejam mantidos, o processo pode ser acelerado.
O lenacapavir é um dos tratamentos injetáveis mais novos para tratamento do HIV. O cabotegravir, aprovado pela Anvisa, é o princípio ativo do Vocabria e do Apretude, indicados, respectivamente, para tratamento e prevenção do HIV. O Apretude deve ser aplicado a cada dois meses e pode ser solicitado por médicos, mas ainda não foi incorporado ao SUS.
Além da pesquisa com o lenacapavir, a investigação recém-publicada foi também a primeira a estudar a eficácia do Descovy na prevenção da infecção em mulheres cisgênero.
Fonte: Metrópoles