Leandro Veneza fala sobre documentário com ativistas evangélicas e vereadora trans mais votada em São Paulo

Redação,
21/12/2020 | 23h12

Nesta terça-feira (22), estreia “Sagradas”, documentário produzido na Academia Internacional de Cinema, e filmado em pouco menos de 72 horas, que traz a história da codeputada da Bancada Ativista, Erika Hilton, e da ativista Jacqueline Chanel, organizadora da Caminhada Trans de 2020, e do Projeto Séfora’s de Travestis e Transexuais, grupo que busca a inclusão religiosa e social de pessoas trans. O documentário, que já nasce conquistando prêmios, foi selecionado pelo Festival Mix Brasil, um dos mais importantes festivais de cinema e arte LGBTQIA+ do país. Para conhecer um pouco sobre o documentário, o baiano Leandro Veneza falou ao Dois Terços sobre o processo de construção e da importância do documentário para a população trans, e o porquê da escolha das protagonistas.

Os diretores : Daniela Paixão, Leandro Veneza e Isabella von Haydin Foto : Divulgação

Dois Terços – Como nasceu a ideia deste doc?

Leandro Veneza – O Sagradas nasceu na Academia Internacional de Cinema, em São Paulo, em janeiro desse ano louco que estamos vivendo. Foi uma experiência incrível, junto com as minhas parceiras Daniela Paixão e Isabella von Haydin, que eu tive o prazer de conhecer durante esse trabalho. Nós queríamos tratar sobre pautas de impacto social e, considerando a realidade violenta em que a população trans está exposta no Brasil, entendemos naquele momento de produção, ser uma pauta importante para reflexão, sobretudo porque a cidade estava se mobilizando para a Caminhada Trans, que ocorre todo ano em janeiro na Avenida Paulista, reunindo lideranças do movimento.

Tivemos um tempo curtíssimo de produção e gravação! Gravamos tudo em 3 dias, então foi quase uma maratona (risos). Mas ficamos extremamente felizes com o resultado e com a projeção que, tanto Erika, quanto Jacqueline, tiveram durante 2020.

DT- Qual a importância de falarmos da vereadora mais votada em SP para as pessoas trans?

LV– Como eu disse, o Brasil é extremamente cruel com as pessoas trans. É negado qualquer lugar social de destaque ou de protagonismo. Diante disso, nas eleições municipais, Erika sair vitoriosa nas urnas como a mulher mais votada do Brasil, e a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara de São Paulo, é um marco histórico, para ela, mas para toda a comunidade que agora tem uma representante ocupando uma cadeira no cenário político da maior cidade da América Latina.

Não podemos esquecer da ativista Jacqueline Chanel, que participa do documentário e traz a sua história de aceitação enquanto pessoa trans numa realidade religiosa. Ela leva essa experiência de uma maneira muito leve e inspiradora, sobretudo porque hoje é líder de uma instituição inclusiva, a Igreja da Comunidade Metropolitana, a primeira do mundo, e que fez a ordenação, durante as gravações, da primeira mulher trans referenda de uma igreja evangélica no país, Alexya Salvador.

DT- Por que da escolha da Erika?

LV-O encontro com Erika foi extremamente imprevisível. Estávamos buscando pessoas para participar do documentário e, no processo de conversas, um ser humano extremamente incrível, Leona Jovhs, me adicionou nas redes sociais e, percebendo nossa vontade em falar sobre a pauta no mês da visibilidade trans, nos apresentou Erika. Nós da direção ficamos extremamente felizes com a ponte, sobretudo porque conhecíamos o engajamento e militância de Erika, que já era co-deputada na Bancada Ativista, que foi o primeiro mandato coletivo eleito no país em 2018.

Já Jacqueline Chanel possui um trabalho social extremamente importante em São Paulo, o Projeto Séforas, onde ela acolhe pessoas trans em situação de vulnerabilidade extrema, dando apoio social e espiritual, e estava organizando a CaminhaTrans, que iria ser apresentada no documentário. Inclusive, a Caminhada tinha chances de não acontecer, o que mobilizou Jacque a pegar a organização pra si e realizá-la.

DT-Existe algum ponto que você acha que será de muita identificação com o telespectador?

LV-Erika e Jacqueline são extremamente carismáticas, reais, e trazem muita verdade na apresentação das suas narrativas, só por isso já penso que haverá uma identificação. Mas não é só isso, elas inspiram por terem força para mudar a realidade, mesmo com tantas adversidades em que estão expostas todos os dias. Deste modo, entendo ser a materialização do início de um novo tempo para a população trans no Brasil, em que elas e eles terão lugar de fala em instituições que definem os rumos do país.

O Sagradas nasceu na Academia Internacional de Cinema, em São Paulo, em janeiro desse ano louco que estamos vivendo. Foi uma experiência incrível, junto com as minhas parceiras Daniela Paixão e Isabella von Haydin, que eu tive o prazer de conhecer durante esse trabalho. Nós queríamos tratar sobre pautas de impacto social e, considerando a realidade violenta em que a população trans está exposta no Brasil, entendemos naquele momento de produção, ser uma pauta importante para reflexão, sobretudo porque a cidade estava se mobilizando para a CaminhadaTrans, que ocorre todo ano em janeiro na Avenida Paulista, reunindo lideranças do movimento.

Dirigido pela paulista, Daniela Paixão, pela cearense, Isabella von Haydin, e pelo baiano, Leandro Veneza, que iniciam sua carreira no audiovisual, a obra de curta metragem tem 15 minutos e transita por locais conhecidos no cenário paulistano, como a ALESP, a Avenida Paulista e o “centrão” da cidade. Deste modo, um dos temas centrais é a ocupação da cidade por parte dessa população, historicamente excluída e marginalizada, criando uma interseccionalidade entre a cidade e quem reivindica o direito de ocupá-la.
A realidade do país que mais assassina travestis e transexuais no planeta escancara a face de uma sociedade completamente adoecida que Erika Hilton e Jacqueline Chanel dedicam suas existências para transformar e deixam isso claro no “Sagradas”, documentário que as duas estrelam em 2020.

Ficha Técnica

Direção:
Leandro Veneza, Daniela Paixão, Isabella von Haydin
Produção:
Academia internacional de Cinema e Trintae3 Conteúdos