Conviver com a descoberta do diagnóstico de HIV nunca é fácil, especialmente quando se é criança nos anos 1990, uma época marcada por desinformação e estigmas profundos sobre a doença. Esse foi o caso de Jennifer Besse, professora de francês, hoje com 35 anos, infectada com o vírus ao nascer. Em celebração ao Mês das Crianças, a Agência Aids lança um novo episódio da websérie *”HIV 40 Anos: Aids e Suas Histórias – Transmissão Vertical: Um Assunto Proibido”*. O episódio traz a comovente trajetória de Jennifer, que enfrentou uma vida permeada pelo preconceito e pelos desafios de viver com HIV.
Aos seis anos, após a morte da mãe por complicações da aids, Jennifer foi informada pelo pai sobre o diagnostico de HIV. Na época, ela não compreendia o que isso significava. “Ele me disse algo como: ‘você tem de tomar muito cuidado porque tem uma doença contagiosa, que pode passar para os outros’. Foi aí que começou a minha história. Eu nasci com HIV”, relembra.
Ainda sem entender a profundidade da doença, ela teve de lidar desde cedo com o preconceito, inclusive dentro de casa. Ela conta que não podia compartilhar objetos com suas primas, e vice-versa.
A discriminação também veio de fora. Em uma ocasião, enquanto nadava na piscina de amigos da família, viu a dona da casa interditar o local e, dias depois, trocar toda a água da piscina. “Foi uma sensação horrível, eu me sentia péssima”, lembra Jennifer.
Essas experiências marcaram sua infância e adolescência, alimentando a ideia de que viver com HIV era sinônimo de morte. A dor pela perda da mãe e o preconceito vivido geraram angústia e depressão.
Aos 19 anos, Jennifer mudou-se para a Suíça para viver com a avó paterna, esperando escapar dos estigmas do Brasil. No entanto, mesmo no novo país, ela se deparou com reações duras. Quando sua avó descobriu que Jennifer fazia parte de um grupo de apoio local para pessoas com HIV, a relação entre elas mudou. “Ela me disse: ‘se alguém daqui descobrir que você tem HIV, eu me mato’. Foi um choque de realidade.”
Tratamento interrompido
De volta ao Brasil e, com a saúde emocional fragilizada, Jennifer interrompeu seu tratamento. A quantidade de cópias do vírus em seu sangue subiu para milhões e seu sistema imunológico estava quase em colapso.
Em 2014, sua situação deu uma guinada. Convidada para participar de uma pesquisa com um novo medicamento antirretroviral, Jennifer decidiu lutar mais uma vez.
Pouco mais de um ano depois, ela alcançou a carga viral indetectável, o que significa que já não transmite o HIV. Hoje, vive fora do Brasil, de forma saudável, superando as adversidades que marcaram sua infância e juventude.
Websérie reúne histórias de pessoas vivendo com HIV via transmissão vertical
O primeiro episódio da websérie “HIV 40 Anos: Aids e Suas Histórias – Transmissão Vertical, um Assunto Proibido” estreou no YouTube e foi lançado no Cinesesc em 1º de dezembro de 2023, Dia Mundial de Luta contra Aids.
A série, composta por seis capítulos, revive os desafios da transmissão vertical do HIV no Brasil através das memórias de indivíduos que estiveram na linha de frente na luta contra a aids, incluindo a Dra. Marinella Della Negra, responsável pelo atendimento a crianças vivendo com HIV no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, e Maria Cristina Abbate, líder da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo.
O primeiro vídeo é um compilado de toda a série, narrando as histórias de quatro pessoas que vivem com HIV transmitido verticalmente (de mãe para filho). Elas nasceram na década de 1990, nos primeiros anos da epidemia de aids: Marília Nascimento, Jennifer Besse, Gugãa Taylor e Diego Vieira.
Cada um desses personagens relata como descobriu seu diagnóstico, os desafios de viver com HIV desde a infância até a juventude, e a batalha diária contra o estigma e o preconceito. São relatos de superação e resiliência, momentos de angústia, revolta e reconstrução da vida.
A jornalista Roseli Tardelli concebeu e conduziu as entrevistas para a websérie. “Estou muito feliz por ter conseguido registrar mais um desafio importante que o HIV apresenta para nós. As entrevistas foram conduzidas com profundo respeito por todos os entrevistados. Espero contribuir para reduzir o estigma e a discriminação enfrentados por esses jovens infectados pela transmissão vertical do HIV, que ainda persistem no mundo. Quero agradecer aos apoiadores e a todos os profissionais envolvidos neste projeto”, afirmou Roseli Tardelli.
A websérie “HIV 40 Anos: Aids e Suas Histórias” contou com o apoio do Senac São Paulo, Sesc São Paulo, da farmacêutica GSK/ViiV, da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo e da Unesco.
Assista o novo episódio a seguir:
Redação da Agência de Notícias da Aids