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Grupo Gay da Bahia celebra 41 anos bem assumidos

Genilson Coutinho,
28/02/2021 | 20h02
Foto: Arquivo GGB

O dia 28 de ferreiro de 1980 entrou para a história do movimento de emancipação homossexual brasileiro, como o dia em que na Bahia, em Salvador, foi fundado pelo jovem antropólogo Luiz Mott, o Grupo Gay da Bahia (GGB). O sociólogo, Aroldo Assunção, 59 anos, relata o que motivou a fundação do grupo: “Eu e Luiz, estávamos sentados apreciando o pôr do sol no Farol da Barra, eu estava deitado e com a cabeça no colo de Mott, quando saímos, percebemos que a motocicleta estava suja de ketchup”.  Aroldo conta que Mott foi reclamar em um carrinho de cachorro-quente, e um homem deferiu-lhe um soco no rosto, chamando-os de gays.

Esse fato, ocorrido em finais de 1979, deixou Luiz Mott completamente decidido a fazer algo para reverter esse tipo de preconceito.

No ano seguinte, Mott publicou um anúncio no jornal gay de ultraesquerda o Lampião da Esquina, do Rio de Janeiro. No anúncio, Mott convidava as bichas da Bahia a “rodarem a baiana” contra o preconceito. As bichas botaram a baiana para rodar e fundaram o grupo, sobretudo com o apoio do Grupo Anarquista Inimigos do Rei.

O GGB foi o primeiro grupo a possuir uma personalidade jurídica no Brasil, conseguida através de liminar expedida pelo Judiciário da Bahia.

Foi também o primeiro grupo, na Bahia, a combater o preconceito e discriminação, que hoje chamamos de Lgbtqifobia. O GGB é referência na prevenção do HIV e AIDS, desenvolvendo campanhas de educação e prevenção, inclusive junto a várias casas e outras populações, assim como divulgando o “Safe Sex”, com uso do preservativo. Nos anos 90, começou a denunciar as mortes relacionadas ao preconceito.

O Relatório Anual de Crimes Contra Homossexuais, publicado pelo GGB, se tornou uma referência internacional para a imprensa, OEA, ONU e governos, inclusive dos Estados Unidos (Bill Clinton e Obama).

O GGB sobreviveu a todo tipo de situação, e sempre apresentou a sua contestação nos casos envolvendo os homossexuais na Bahia e no Brasil, e se tornou uma referência para inúmeros grupos que começaram a surgir em todo o país.

O desafio que o grupo enfrenta hoje é evoluir a narrativa de atuação, sem perder a sua identidade e originalidade. Nos últimos tempos, houve uma grande evolução que possibilitou pessoas interagirem, viverem e expressarem suas opiniões e individualidades, inclusive orientações sexuais e identidades de gênero, por meio das mídias sociais.

Apesar da discriminação, que permanece em patamares altos, hoje a repercussão e visibilidade de temas associados à liberdade sexual e aos direitos de pessoas LGBTQI no Brasil assumiram grande espaço nas mídias sociais, o que há 41 anos atrás ainda não existia, e os meios de atuação e comunicação eram muito restritos. O Grupo Gay da Bahia está buscando refletir sobre os novos desafios de organização e comunicação para a promoção da cidadania LGBTQI e o enfrentamento da discriminação, que persiste com a reação do conservadorismo, do fundamentalismo religioso e do negacionismo científico.

O STF reconheceu nossas lutas, garantindo avanços importantes nas conquistas legais dos direitos da população LGBTI, como o casamento civil (2011), alteração de nome e gênero no registro civil para pessoas trans sem condicionar à cirurgia (2018), as práticas de discriminação contra pessoas LGBTQI foram consideradas crime (2019) e a revogação da proibição da doação de sangue por gays, travestis e bissexuais (2020), um preconceito e discriminação cruel contra a nossa população.

A luta precisa continuar. Vislumbramos um mundo onde a liberdade de ser e viver não precise de leis normativas que protejam essas manifestações. “A liberdade de pensamento e conduta e o respeito à diferença seriam a “normalidade” deste “novo mundo”, afirma o presidente do GGB, professor Marcelo Cerqueira.

Enquanto houver manifestações de ódio, preconceito e discriminação, o GGB estará vivo e alerta. Que venham mais 41 anos!

Grupo Gay da Bahia. Grupo Gay do Brasil, porque sempre acreditamos que “Amanhã vai ser outro dia” (Chico Buarque).