Gonzaguinha, Maria Bethânia e o grito de alerta de Agnaldo Timóteo
A cantora Maria Bethânia conquistou o Brasil em 1979 com seu álbum “Mel” (Phillips), que trazia, dentre outras, a canção “Grito de Alerta”, composta por Gonzaguinha (1945-1991). A história por trás desse hit, inspirada em experiências de Agnaldo Timóteo (1936-2021), gerou um desconforto significativo entre os dois artistas, que eram amigos e colegas de gravadora. Apesar de suas carreiras distintas e públicos diferentes, havia uma admiração mútua entre eles. Gonzaguinha costumava dizer que via em Timóteo “a pessoa que sabia segurar a barra de viver o não permitido e o permitido”.
No final dos anos 70, os dois amigos se reuniram e Timóteo compartilhou com Gonzaguinha os altos e baixos de seu relacionamento com Paulo Cézar Souza, para quem compôs a música "A Bolsa do Posto Três" – uma história que já foi contada aqui no Dois Terços. Gonzaguinha ouviu atentamente e, após aconselhar o amigo, apresentou o resultado daquela conversa: a letra de "Grito de Alerta", título sugerido pelo próprio Agnaldo.
Entretanto, a canção, que traz versos marcantes como:
“Primeiro você me alucina
Me entorta a cabeça
E me bota na boca um gosto amargo de fel
Depois vem chorando desculpas
Assim, meio pedindo
Querendo ganhar um bocado de mel”,
não foi entregue exclusivamente a Timóteo. Gonzaguinha também ofereceu a música a Maria Bethânia, o que deixou o dono da história completamente transtornado. “Eu fiquei p. da vida com o Gonzaguinha porque aquela história era minha, eu deveria ter sido até parceiro dele na música. Eu falei: ‘Puta que pariu, Gonzaguinha, então eu te conto uma história de minha cama e você dá a música para a Bethânia gravar!?’”, desabafou Timóteo.
A música, sem dúvida, se tornou um dos maiores sucessos na voz da Abelha Raínha. Agnaldo Timóteo também gravou a canção em seu álbum “Deixe-me Viver”, de 1979, mas sua versão não alcançou o mesmo êxito.