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Formas de prevenção contra ISTs no relacionamento entre mulheres

Genilson Coutinho,
06/03/2023 | 11h03

O ato sexual realizado por pessoas com vagina, é um assunto pouco falado, comentado e estudado. É importante ampliar as informações sobre esse tema. A prevenção e proteção durante o ato sexual, deve acontecer.

Dra. Ariane de Castro Coelho, é Ginecologista do Ambulatório de IST do Centro de Referência em IST/aids de SP e a Dra. Marianna Bezerra, é médica infectologista (HUMAP/UFMS), mestranda em Saúde da Família (UFMS) e com interesse na promoção de saúde LGBTQIA +, para informar e alertar sobre os cuidados e formas de prevenção. As profissionais conversaram com esta Agência Aids sobre o tema.

Conheça as ISTs mais comuns

Para Dra. Ariane “ no sexo entre mulheres todas as ISTs podem ser transmitidas dependendo da prática sexual”.

“A principal IST que pode ser transmitida é a vaginose bacteriana, que se manifesta com corrimento e mau cheiro. Existe o risco de outras ISTs, como a Hepatite B, principalmente se tiver contato com o sangramento vaginal. Em menor risco, mas não menos importante, HPV, sífilis, herpes, HIV, clamídia e gonorreia”, informa Dra. Marianna Bezerra.

Tratamento

As especialistas esclarecem como devem ser tratadas as ISTs. “A partir do momento que a pessoa tenha qualquer sintoma ou desconforto, ela precisa realizar um teste. Podem ser feitos testes rápidos. O ideal é procurar um atendimento médico para ter um diagnóstico correto., uma vez que existem casos de corrimento, por exemplo, que não uma são IST. Depois disso, seguir com o tratamento específico. A avaliação se existe a necessidade de tratar a parceria sexual deve ser analisada”, informa a pesquisadora Marianna Bezerra.

A ginecologista Ariane de Castro, acrescenta: “As ISTs entre mulheres  devem ser tratadas como em qualquer pessoa, de acordo com o protocolo de tratamento. Ou seja, com a medicação adequada para cada caso”.

Orientações de prevenção

Para a médica Marianna Bezerra, antes de passar as devidas orientações, é importante entender como se dá tal relação, “se são mulheres cis ou trans, se é lésbica ou bissexual, se o contato é vulva-vulva, (tesourinha), se tem introdução de dedos ou uso de algum objeto como o vibrador e, se esses objetos, são compartilhados. É importante entender tudo isso para poder orientar”, esclareceu.

A Dra. Ariane de Castro, explica: “As orientações de prevenção  se aplicam a medidas higiênicas  no uso de objetos sexuais, como o uso do preservativo nos objetos de penetração e nos dedos. No sexo oral, fica mais difícil a proteção, pois não temos ‘um preservativo’ para a vulva. No ambulatório de IST costumamos orientar pegar o preservativo, abri-lo  e usar sobre a vulva como uma cobertura.Sabemos que talvez essa prática não seja muito aceita”.

Dra. Marianna Bezerra, que é interessada na promoção da saúde LGBT, especificou: “Uma adaptação que temos, além de cortar o preservativo, é o ‘dental dam’, utilizado por dentistas. O dental dam (“barreira dental”, em tradução livre) é uma folha de látex, comum em consultórios odontológicos. O item pode ser utilizado como uma adaptação para os casos de contato vulva-vulva. Outra forma conhecida é o plástico filme, utilizado na cozinha. Esse plástico possui microporos. A troca de secreções podem acontecer acontecer”, alertou.

“ É importante manter as unhas sempre curtas, além de ter um diálogo aberto com a parceira”, disse.

Outras formas de prevenção

Dra. Marianna Bezerra, chama atenção para a importância da vacinação estar em dia : “A prevenção também pode ser feita por vacinação. As vacinas contra HPV e hepatite B são importantes. Podemos orientar o uso de PrEP ou PEP . Diagnóstico precoce das ISTs também é importante. O uso de preservativo adaptado e gel lubrificante podem fazer parte de estratégias de prevenção”.

Preparação médica

As médicas têm pontos de vista diferentes, em relação à preparação dos profissionais da saúde para atender a população LGBT.

Dra. Ariane de Castro, acredita que há uma preparação, principalmente dos grupos de atendimentos específicos como o CRT. “De um modo geral, para tratamento das ISTs, existe sim uma preparação. Quanto mais o profissional lida com as demandas e especificidades desse público, mais ele aprende. Os serviços  especializados em ISTs, como o CRT realizam acolhimento em relação às diversidades sexuais, revelação de sorologias e tratamento imediato”, informou.

Dra. Marianna Bezerra diz que muito ainda precisa ser feito. “Infelizmente o atendimento à população LGBTQIA +, é algo que até pouco tempo não era discutido na formação médica. Vivemos em uma sociedade predominantemente cisheteronormativa. Muitas mulheres se sentem constrangidas durante o atendimento. Ás vezes por medo, evitam revelar sua orientação sexual durante a consulta. Isso dificulta a abordagem em relação aos métodos de prevenção”, esclareceu.

Acompanhamento médico

Qual a regularidade para procurar o profissional de saúde e quais os exames a serem realizados realizados? Especialistas esclarecem:

“Uma mulher que não tenha nenhuma comorbidade, o ideal é que a partir dos 25 anos procure um serviço médico, pelo menos uma vez por ano ou a cada dois anos. É importante também a realização de exames físicos,, atualizar o calendário vacinal, solicitar alguns exames laboratoriais de acordo com a avaliação médica e queixas da paciente. Ainda, a partir dos 25 anos é indicado começar os cuidados com o câncer de colo de útero. A partir dos 40 o câncer de mama.Esse cuidado não é apenas para mulheres cis, mas para todas as pessoas com vagina”, aconselhou Marianna Bezerra.

“Os exames  que devem ser realizados são: citologia oncótica (papanicolau) para rastreamento  do câncer  de colo uterino, mamografia, ultrassonografia transvaginal e sorologias, bem como outros exames  que o médico achar necessário”, completa Ariane de Castro.