Folião denuncia agressões e LGBTfobia no Bloco Os Negões

A redação do Dois Terços recebeu denúncia de um folião, que prefere manter o anonimato, sobre um grave episódio ocorrido no Bloco Os Negões, no circuito Campo Grande, na sexta-feira 28, por volta das 2h30, durante o Carnaval de Salvador. No áudio, o denunciante afirma que estava na posição de destaque do bloco, relando ter sofrido diversas agressões por parte de um prestador de serviço da agremiação. “Foram violências físicas, psicológicas e até ameaças de morte. Tudo começou com uma discussão quando o folião não aceitou o assédio moral e, a partir das agressões verbais, procurei a direção do bloco, mas nada foi feito. Depois, vieram as agressões físicas. Sofri inicialmente assédio sexual, seguido por agressão. Ainda assim, não tomaram providências e as agressões continuaram”, afirmou.
O folião relatou que, ao buscar ajuda da direção do bloco, sofreu novas agressões, desta vez por parte do próprio presidente da agremiação, Paulo Roberto. “O que me deixou mais revoltado foi que, ao procurar a direção novamente, sofri novas agressões por parte de quem deveria me acolher. Quando relatei a situação, ele disse que o agressor tinha feito pouco, que deveria ter me matado. Afirmou que, se eu continuasse a ‘dar show’ e chamar atenção, ele mesmo me mataria, pois no bloco ele não queria ‘viado escroto’ nem vagabundos”, denunciou.
Em áudio, o folião explica ainda que na passagem pela Avenida Sete de Setembro, procurou duas filhas do presidente do bloco, que também fazem parte da presidência do mesmo. Relatou o que tentou explicar o que havia acontecido, mas ao ouvi-lo, totalmente vulnerável, apenas disseram que que infelizmente não poderiam fazer nada pra resolver a questão. “A mim não foi oferecido nenhum tipo de acolhimento ou demonstração de preocupação com a minha situação naquele momento”, relatou o denunciante em áudio.
Diante da falta de apoio, uma amiga da vítima entrou em contato com jornalista que fazia divulgação para o bloco afim de saber se ele tinha conhecimento da postura e a falta de acolhimento da direção do bloco. Para sua surpresa, a resposta foi que ele nada poderia fazer e que a vítima deveria procurar a justiça. Posteriormente, esse mesmo jornalista disse pra amiga da vítima que entraria em contato com o bloco afim de que seus dirigentes entrassem em contato com ela para obter noticias, porém, de acordo com a vitima, isso nunca aconteceu. E o mais grave: “O único contato que recebi foi uma ameaça, através de um telefonema anônimo, dois dias depois do acontecido. No geral, fui assediado, agredido de todas as formas, sofri LGBTfobia e vivi essa falta de cuidado e de segurança do bloco, que, em teoria, deveria zelar pelo bem estar dos seus foliões uma vez que o bloco recebe recursos públicos do Governo do Estado da Bahia, além de apoiar a produção de bens culturais em eventos de visibilidade de afirmação da cultura de paz e de proteção contra a homofobia no estado. Isso em um ambiente onde cerca de 50% das pessoas são LGBTs, inclusive seus dirigentes. A falta de acolhimento foi revoltante”, desabafou.
O denunciante informou ainda que registrou boletins de ocorrência na Delegacia de Crimes Contra a Pessoa e na Delegacia Virtual. “Tenho dois Boletins de Ocorrência e, por orientação de um delegado, vou entrar com um pedido de segurança”, concluiu.
Nota de esclarecimento do bloco:
Entramos em contato com o Bloco Os Negões e fomos informados que o perfil deles é de acolher e que faz questão de orientar todos com questões não somente relacionadas a LGBTfobia, mas qualquer tipo de preconceito. Com relação ao ocorrido, fomos informados que o denunciante teve todo apoio necessário após relatar o fato, no entanto, o mesmo estava alterado, alcoolizado e não conseguia informar claramente o ocorrido, inclusive, sem identificar o agressor. Fomos informados ainda que no domingo – um dia após as supostas agressões – a diretoria do bloco entrou em contato com o denunciante, oferecendo ajuda mais uma vez, informado pelo mesmo que não queria mais falar sobre o assunto. Ressaltou também que o Bloco Os Negões possui 44 anos de atuação e sempre primou pela igualdade em todos os sentidos, sendo a diversidade um dos pilares da sua construção. Informaram ainda que as ações realizadas pelo Bloco ocorrem não somente no carnaval, mas durante todo o ano.