Prevenir a periodontite pode reduzir agressividade do novo coronavírus em caso de contágio
A cirurgiã-dentista baiana Ana Carla Robatto está impressionada com os resultados de um estudo recentemente desenvolvido por pesquisadores do Catar intitulado “Associação entre periodontite e gravidade de infecção de COVID-19: um estudo de caso-controle”. A pesquisa, que revela a relação direta entre a doença periodontal e o desenvolvimento de casos mais graves da doença pandêmica, evidencia que o novo coronavírus pode ser mais agressivo em pacientes que apresentam esta doença inflamatória crônica não-transmissível dos tecidos que sustentam os dentes (gengiva, osso e ligamento periodontal).
Um total de 568 pacientes foram incluídos no estudo, sendo que 258 tinham periodontite, ou seja, quase 45% do total. Entre os 40 indivíduos que apresentaram quadros mais graves de COVID-19, 33 tinham o diagnóstico da doença periodontal. De um total de 36 pessoas que precisaram ser internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a periodontite foi identificada em 29. Entre os 20 pacientes que precisaram de ventilação mecânica, a doença bucal estava presente em 17. E entre as 14 pessoas que morreram de COVID-19, 13 apresentavam periodontite em estágio moderado ou severo.
De acordo com a cirurgiã-dentista Ana Carla Robatto, professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pessoas com periodontite podem aspirar bactérias que, ao chegarem na corrente sanguínea, agravam o quadro de COVID-19 porque esses microrganismos ativam a expressão de algumas enzimas que funcionam como receptoras do coronavírus. “O SARS-CoV-2 encontra, assim, um terreno mais propício para se proliferar no organismo, aumentando a sua virulência ”, explicou. O controle da periodontite pode contribuir para evitar os casos mais graves da COVID-19.
Pessoas com periodontite produzem uma quantidade relevante de citocinas, proteínas produzidas por células como linfócitos e macrófagos, importantes para o controle da resposta imunológica (sistema de defesa natural do organismo). O paciente com COVID-19 apresenta a chamada “tempestade de citocinas” e, caso também apresente a doença periodontal, terá maior quantidade de citocinas circulantes, o que pode resultar no desenvolvimento de quadros mais graves da doença pandêmica”, detalhou a doutora em microbiologia e mestre em odontopediatria. Além disso, as bolsas periodontais (aumento do fundo da gengiva), consequências da doença periodontal avançada, podem atuar como um reservatório do coronavírus”, completou.
Gengivite avançada – A periodontite é o estágio mais avançado da gengivite, que geralmente é resultado de uma higiene bucal inadequada. Mau hálito e sangramento na boca estão entre os sintomas. Para tratar o problema, além de uma limpeza minuciosa no consultório odontológico, antibióticos e até pequenas cirurgias podem ser necessários. Infelizmente, o tratamento só controla o avanço da doença. Tecidos degenerados dificilmente são reconstruídos de forma natural.
Os quadros crônicos de periodontite ocorrem após anos de gengiva inflamada. Com o acúmulo de placa e cálculo dental (tártaro), os danos se estendem para o periodonto, tecido que fica entre os dentes e o osso. Com isso, o dente vai perdendo o suporte e acaba caindo. O transtorno é maior quando a doença encontra-se em fase avançada, dificultando o tratamento. Para piorar, as bactérias e substâncias inflamatórias que desencadeiam a periodontite podem parar na corrente sanguínea e provocar alterações na saúde do corpo. Há algum tempo, os dentistas sabem que há uma relação da periodontite com doenças do coração e diabetes, por exemplo. A Doença de Alzheimer também apresenta estreita relação com as doenças da gengiva. Pesquisadores estudam sua ligação com certos tipos de câncer e, mais recentemente, com o novo coronavírus.
Prevenção – Visitas regulares ao dentista são importantes porque esse profissional pode identificar alterações na gengiva e orientar o paciente para que ele, mediante escovação e uso do fio dental, reverta o quadro, evitando a progressão para casos mais avançados. “A correta higienização da boca e dos dentes após cada refeição impede que as bactérias fixem moradia nos dentes ou nos tecidos moles”, resumiu Ana Carla Robatto. Pacientes que não cuidam bem de sua saúde bucal apresentam tártaro e acúmulo de placa bacteriana subgengival, que causam uma inflamação crônica nesse tecido e, consequentemente, ajudam a elevar os níveis de citocina.
A recomendação da especialista inclui, ainda, a frequente higiene das mãos, usando os protocolos corretos, antes de higienizar a boca. “Como as mãos são imprescindíveis para o uso do fio dental, é importante que estejam bem higienizadas antes de serem levadas à cavidade bucal”, frisou. Além disso, se possível, o paciente que se recuperou de COVID-19 ou de qualquer outra infecção deve trocar sua escova de dente, a fim de reduzir o risco de recontaminação. Na ausência de recursos para aquisição de uma nova escova, o paciente pode higienizá-la com detergente neutro, mantendo-a imersa por 20 minutos em solução de hipoclorito de sódio a 0,1%, seguida de lavagem abundante em água corrente.
Atualmente, a forma mais confortável e eficiente de profilaxia em saúde bucal é a Terapia Guiada por Biofilme ou Guided Biofilm Therapy (GBT), um sistema inteligente e minimamente invasivo voltado para a higiene bucal diária, limpeza profissional dos dentes, remoção de placa bacteriana e avaliações regulares de resultados. “Esta nova filosofia de tratamento, que já está disponível em Salvador, possui dispositivos que preservam o bem estar do paciente. São eles: o Airflow Prophylaxis Master, usado para remoção de placa supra e subgengival; o Perioflow, que trata bolsas periodontais; e o Piezon, usado para eliminar cálculos dentais. Nenhum deles agride a mucosa bucal. Prevenir é sempre melhor do que remediar”, finalizou Ana Carla Robatto, sócia da Éfika Odontologia Digital.