Mesmo após 42 anos do surgimento da aids no mundo, o estigma envolvendo o HIV persiste. Uma das perguntas recorrentes é se pessoas vivendo com HIV podem ter filhos. A resposta é sim! Mulheres e homens que vivem com HIV têm o direito de ter filhos e de ter seus direitos sexuais e reprodutivos garantidos. Hoje, os avanços científicos e o tratamento antirretroviral permitem que essas pessoas tenham filhos saudáveis e de maneira segura. Em homenagem ao Dia dos Pais, comemorado no próximo domingo, 13 de agosto, a Agência de Notícias da Aids conversou com os infectologistas Zarifa Khoury e Vinicius Borges, o Dr. Maravilha, que dão dicas para quem tem HIV e deseja ser pai.
“Não há mais dúvidas. Todos os ensaios clínicos realizados até hoje nos mostraram que, quando uma pessoa que vive com HIV faz uso do tratamento antirretroviral com boa adesão, enquanto estiver com a carga viral indetectável não transmite o vírus por via sexual para ninguém. Mesmo que tenha relações sem preservativo”, explicou a dra. Zarifa Khoury, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
“Quem tem a carga viral indetectável no sangue por mais de seis meses, também tem a carga viral indetectável no esperma. Essas pessoas podem ter filhos com segurança, o que não acontecia décadas atrás. Hoje, os antirretrovirais são muito mais potentes que os medicamentos antigos. Então, gente, vamos tomar os antirretrovirais adequadamente, seguir o receituário corretamente e ter filhos.”
Direito reprodutivo
Na avaliação do dr. Vinicius Borges, idealizado do Canal Doutor Maravilha, “o I=I (indetectável é igual a intransmissível) veio para sedimentar um direito até muito tempo negado para homens vivendo com HIV: o direito reprodutivo. A minha orientação para os homens que desejam ser pais é que desde a confirmação científica do indetectável = intransmissível os casais sorodiferentes podem ter filhos pelas vias naturais, não é mais necessário lavagem de esperma, fertilização in vitro para conseguir uma gestação. Hoje em dia, eu atendo muitos casais em que o homem vive com HIV e a mulher não, e eles engravidam pelas vias naturais e não tem transmissão nem para mulher nem para a criança.”
“As pessoas acham que o vírus está no esperma e com isso a criança vai nascer com HIV. Quando a pessoa está em tratamento, a quantidade de partículas virais que circula é mínima, não acontece a infecção. O que poderia acontecer é a mãe se infectar com o HIV durante a gestação e transmitir para a criança, principalmente no momento do parto. Estudos recentes mostram que cargas virais geralmente de até mil, o risco é praticamente nulo. A gente tem muita segurança para assegurar o planejamento e direito reprodutivo de homens e futuros pais vivendo com HIV.”
De acordo com os médicos, há pessoas que quando ficam sabendo que é possível ter filhos sem HIV, aderem melhor ao tratamento. Ou seja, a vontade de ser pai ou mãe também é um estímulo para o autocuidado.
Dra. Zarifa disse ainda que manter a vacinação e as consultas em dias também são importantes orientações para as pessoas que desejam ser pais. “Retornem as consultas e observem se a carga viral está indetectável no sangue e se o seu nível de CD4 (imunidade) está adequado. Realize regularmente exames para sífilis e IST”, destacou.
HIV detectável
Os avanços da medicina permitem também que pessoas com HIV/aids, com carga viral detectável, tenham filhos livres do HIV. No caso de casais sorodiferentes, no qual o homem vive com HIV, existe o procedimento de lavagem de esperma, onde os espermatozoides são separados do líquido seminal e testados em um exame que indica a presença de partículas virais. Caso haja vírus mesmo após a lavagem, os espermatozoides são descartados. Os especialistas ressaltam que o tratamento antirretroviral é oferecido na rede pública, enquanto a lavagem acontece com mais frequência na rede privada.
Dra. Zarifa e dr. Vinicius aproveitaram para desejar Feliz Dia dos Pais a todos os Pais.