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Crise no financiamento global ameaça resposta ao HIV, alerta Unaids no Dia dos Direitos Humanos

Genilson Coutinho,
10/12/2025 | 13h12

No Dia dos Direitos Humanos, celebrado nesta quarta-feira (10), organismos internacionais chamam atenção para o momento mais crítico da resposta global ao HIV em décadas. Um relatório recente do Unaids, divulgado às vésperas do Dia Mundial da Luta contra a Aids, aponta que cortes severos no financiamento internacional já comprometem o acesso de milhões de pessoas a serviços essenciais de prevenção, tratamento e cuidado.

Intitulado “Superando a Interrupção, Transformando a Resposta à Aids”, o documento detalha os efeitos de uma crise de financiamento que se aprofunda em meio à fragmentação geopolítica e ao retrocesso nas garantias de direitos humanos. Segundo a agência, a interrupção de serviços ameaça desfazer avanços históricos no combate ao HIV.

Direitos humanos no centro da resposta

O Unaids destaca que os progressos obtidos nas últimas décadas só foram possíveis graças à atuação persistente de comunidades afetadas pelo HIV, de organizações da sociedade civil e de defensores de direitos humanos. Esses grupos construíram redes de saúde comunitária, garantiram acesso a serviços vitais e impulsionaram uma abordagem baseada na equidade de gênero e no respeito à dignidade humana.

Entretanto, o cenário atual é de alerta. Países com alta incidência de HIV, muitos deles altamente endividados, enfrentam restrições fiscais que limitam sua capacidade de financiar respostas nacionais de forma imediata. Ao mesmo tempo, aumentam as violações de direitos humanos e as desigualdades de gênero em várias regiões.

Leis punitivas, estigma e discriminação seguem impedindo que populações marginalizadas — como mulheres e meninas, pessoas LGBTQ+, profissionais do sexo, usuários de drogas e pessoas privadas de liberdade — tenham acesso seguro aos serviços de saúde. “Quando os direitos são negados, a saúde também é negada”, enfatiza o relatório. O medo de prisão, violência ou perseguição mantém muitas pessoas afastadas do cuidado, ampliando a vulnerabilidade à epidemia.

Resiliência e inovação, mas desafios persistem

Apesar dos retrocessos, o Unaids observa sinais de resiliência: comunidades seguem se organizando, governos aumentam investimentos domésticos e novas soluções na prestação de serviços começam a surgir. Ainda assim, a agência alerta que qualquer transformação só será eficaz se ancorada nos direitos humanos.

Para garantir uma resposta sustentável ao HIV, são necessárias mudanças estruturais de longo prazo — incluindo mais investimentos, políticas inclusivas e ações que coloquem as comunidades no centro da estratégia.

Chamado global neste Dia dos Direitos Humanos

Neste 10 de dezembro, o Unaids convoca líderes mundiais a reafirmarem a solidariedade internacional e o compromisso coletivo de acabar com a aids. Entre as recomendações, estão a manutenção do financiamento global, o investimento em inovação — como opções acessíveis e de longa duração para prevenção e tratamento — e a defesa incondicional dos direitos humanos.

A agência reforça ainda a importância de proteger a autonomia corporal, os direitos sexuais e reprodutivos e o direito universal à saúde. “As comunidades são o coração de toda resposta bem-sucedida”, afirma a declaração. Segundo o Unaids, fortalecer a ação liderada por essas comunidades é essencial para garantir avanços concretos e responsabilização dos governos.

Neste Dia dos Direitos Humanos, a mensagem central é clara: sem direitos, não há resposta eficaz ao HIV — e sem garantir dignidade, liberdade e proteção às populações mais vulneráveis, o mundo não conseguirá pôr fim à aids.