Coquetel “do dia seguinte” pode evitar infecção pelo HIV em até 72 horas; entenda
Vítimas de acidente ocupacional, violência sexual ou mesmo pessoas que tenham tido casos de relação sexual consentida com suspeita de contaminação pelo HIV podem tomar o coquetel de modo preventivo, mesmo sem a confirmação de Aids. Hoje, duas unidades de pronto-atendimento (UPAs) oferecem o tratamento em Salvador: Itapuã e Marback.
A coordenadora do Programa de DSTs, Aids e Hepatites da prefeitura, Flávia Guimarães, ressalta que, no posto de Itapuã, ainda há preparação para assistir crianças que necessitem tomar o coquetel preventivo.
Com o nome de Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Profilaxia Antirretroviral Pós-Exposição de Risco para Infecção pelo HIV (PEP), o coquetel preventivo vem sendo oferecido na capital baiana e São Paulo de modo pioneiro desde o período da Copa do Mundo.
“Com o novo protocolo, ampliamos a assistência, reduzindo as chances de novas contaminações e mortes”, explica Flávia Guimarães.
Segundo ela, a expectativa inicial era que, no início de setembro, o coquetel preventivo estivesse implantado em dez UPAS da cidade. Mas uma série de fatores concorreram para o atraso do esquema de profilaxia pós-exposição (PEP) ao HIV.
“Estamos quebrando paradigmas e isso desperta algumas polêmicas profissionais, além disso, o momento econômico também dificultou o processo, em virtude da alta do dólar”, observou a coordenadora.
Resistência
Além das questões econômicas que impactam na compra da medicação, nas dificuldades de capacitação dos recursos humanos, há muita resistência por parte da própria comunidade, acrescentou ela. Para Flávia, no entanto, até janeiro, as unidades na capital baiana já estarão atendendo a esses pacientes em regime de emergência.
Para a implantação do serviço, todos os profissionais das unidades passaram por treinamento. Do segurança ao corpo clínico. “Adotamos o padrão ouro para atendimento desses pacientes, o que significa dizer que quem chega com suspeita precisa ser atendido num prazo máximo de duas horas”, esclarece a enfermeira responsável pelo atendimento desses pacientes na UPA de Itapuã, Flávia Carneiro.
O protocolo do Ministério da Saúde recomenda que os medicamentos utilizados para o tratamento sejam ministrados até 72 horas após a exposição ao vírus. O ideal é que seu uso seja feito nas primeiras duas horas após a exposição ao risco.
Ao todo, são 28 dias consecutivos de uso dos quatro medicamentos antirretrovirais previstos no novo protocolo (tenofovir + lamivudina + atazanavir + ritonavir).
“A grande vantagem desse protocolo é a simplificação e unificação da PEP em um esquema único de medicamentos. Com isso, não será preciso um especialista em Aids para dispensar a PEP. Isso não só vaiampliar o acesso à população de forma geral, mas também facilitar os procedimentos para os profissionais de saúde como um todo”, explicou o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita.
Números
Na Bahia, embora alguns Serviços de Atenção Especiais (SAEs) já tenham sido treinados para aplicação do protocolo, ainda não existe uma previsão de implantação da conduta.
“Independentemente da implantação do PEP, a Bahia continua trabalhando nas ações de conscientização e prevenção, pautando o trabalho na prática combinada da sensibilização para o sexo seguro, a testagem regular da presença do HIV e a adesão ao tratamento”, esclarece a coordenadora estadual do Programa de DSTs, Aids e Hepatites Virais, Nilda Nunes Ivo.
Os municípios baianos que mais preocupam em relação ao índice de contaminação é Salvador e Porto Seguro. Enquanto o número de casos é de 12,9 por 100 mil habitantes, em Salvador, a média no estado é de 24,2 por 100 mil habitantes. Já Porto Seguro tem21,2 por 100 mil habitantes. A Bahia tem uma taxa de mortalidade de 3,1 por 100 mil por ano.
Infecção pelo HIV/Aids cresce entre os mais jovens
Boletim Epidemiológico de HIV/Aids de 2014 mostra que o público jovem é o que apresentou maior taxa de detecção da doença – passando de 9,6 por 100 mil habitantes (2004) para 12,7 por 100 mil pessoas (2013). Em 2014, foram ofertados 22 mil tratamentos em todo o país.
A rede de assistência conta com 517 Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), 712 Serviços de Assistência Especializada (SAE) e 777 Unidades de Distribuição de Medicamentos (UDM).
Para 2014, a PEP contou com investimento de R$ 3,6 milhões, ou seja, 0,4% do total de R$ 864 milhões investidos com antirretrovirais no ano passado. Disponível desde a década de 1990 no SUS, o coquetel preventivo foi implantado, inicialmente, para os profissionais de saúde em casos de acidentes de trabalho, com materiais contaminados ou possivelmente contaminados.
Ainda em 1998, a PEP foi estendida para vítimas de violência sexual. Em 2011, o tratamento passou a incluir qualquer exposição sexual de risco, como o não uso ou o rompimento do preservativo. Sendo assim, desde 2010, foram dispensados 87.891 tratamentos e a oferta da terapia quase dobrou de 2010 para 2014 – passando de 12 mil tratamentos para 22 mil.
Antes da aprovação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (Conitec), o novo protocolo ficou à disposição de profissionais de saúde e público em geral para consulta pública durante um mês.
O total de brasileiros com acesso ao tratamento com antirretrovirais no país mais do que dobrou entre 2005 e 2014, passando de 165 mil pacientes (2005) para 400 mil (2014). Atualmente, o SUS oferece, gratuitamente, 22 medicamentos para os pacientes soropositivos.
Desse total, 12 são produzidos no Brasil. A epidemia no país está estabilizada, com taxa de detecção em torno de 20,4 casos a cada 100 mil habitantes. Isso representa 39 mil novos casos de Aids ao ano. O coeficiente de mortalidade por Aids caiu 13% nos últimos 10 anos, passando de 6,4 casos de mortes (2003) para 5,7 casos (2013).
Do Correio 24horas