Conheça Duda Mel, a primeira bailarina transexual do Brasil
Aos 16 anos Duda Mel entrou para o balé clássico. Com a mesma idade, se submetia ao tratamento hormonal e iniciava seu processo de transexualização. Vinte anos depois, ainda é a dança que ajuda a trilhar os passos de Duda, que afirma ser a primeira bailarina clássica transexual do Brasil.
A descoberta do título é recente e foi provocada por uma curiosidade de amigos, produtores e companheiros de dança. “Começaram a me questionar se tinha outra trans no balé clássico. Ninguém conhecia e passamos meses procurando na internet e nos estados, mas não achamos. Tem trans que até fizeram balé, mas não atuam. No clássico, só eu”, orgulha-se a bailarina.
Para Duda, cuja vida foi transformada pela dança, o título é mais do que um atestado da visibilidade do trabalho como bailarina, mas um reconhecimento de quem enfrentou o mundo para conquistar seus sonhos. “Quando iniciei o balé, comecei a ficar com músculos e sentia a necessidade de me transformar. Seis meses depois comecei a me harmonizar, pensei em parar e minha professora Fátima Veríssimo não deixou. Fui passando da fisionomia de menino para menina, os seios foram crescendo e ela nunca deixou de me apoiar. Foi uma amiga, uma mãe”, conta Duda.
Apesar do apoio da mestra, o preconceito estava em cada espaço que iam, e foi preciso firmeza para superá-lo. “Teve colégio que não aceitou que eu dançasse na equipe da professora, aí ela me fazia ir de menino, eu ia e ela dizia ‘eu disse que você estaria lá’. Falava que onde não coubesse a equipe dela, ela não cabia e fez todo mundo me engolir”, lembra, com gratidão.
Atualmente Duda é professora de balé clássico e trabalha com crianças em escolas da RMR, ofício do qual se orgulha. E além do apoio da orientadora, Duda frisa a importância da família na realização do seu destino. “Aos 9 anos eu notava que era diferente dos meninos. Brincava de boneca, casinha e queria vestir roupa da minha irmã. O universo feminino sempre teve mais a ver comigo”, recorda a bailaria que, aos 15 anos, se abriu para a família. “Disse ao meu pai que não gostava de mulher, achando que ia surpreendê-lo. Ele olhou, me disse que já sabia e foi supertranquilo”.
A reação do pai foi a mesma do restante da família e hoje Duda vive com a avó. “Ela ainda me chama de Eduardo, mas lembra de mim quando compra calcinhas e aceitou que meu ex-marido morasse conosco. Esse apoio foi a base de tudo e sei que não acontece igual com todo mundo. A maior parte não tem apoio, é mandada para rua, sem oportunidade. Se todas as trans e homossexuais tivessem apoio da família, muitas tragédias seriam evitadas”, reflete.
Do Diário de Pernambuco