A vulnerabilidade de pessoas trans às ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) tem sido uma preocupação. Mesmo desproporcionalmente afetadas pelo HIV, esta população segue sendo a menos assistida, revelam as estatísticas.
No XIV Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), em Florianópolis, o assunto foi destaque e abordou o acolhimento e atendimento desta população nos serviços de saúde. Durante o debate, especialistas falaram sobre a importância do respeito à identidade de pessoas trans e o cuidado integral em saúde.
‘‘Precisamos dar acolhimento adequado, sem discriminação’’, afirmou a médica Naila Janilde, do Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais, em São Paulo. A especialista destacou que o primeiro passo na luta para garantir melhor qualidade de vida às pessoas trans é favorecer que as mesmas se sintam acolhidas e respeitadas nos serviços de saúde, de modo que se sintam confortáveis para levarem suas demandas, e assim sejam cuidadas de forma integral. No entanto, segundo dra. Naila, ‘‘o preconceito, o estigma e a discriminação têm sido as principais barreiras de acesso à saúde’’.
‘‘Essas pessoas chegam ao serviço e as chamam pelo o nome errado, causando constrangimento’’, falou.
Em seu entendimento, é fundamental e urgente oportunizar a prevenção, exames complementares, como testagens regulares para às Infecções Sexualmente Transmissíveis – o que incluiu o teste sorológico para o HIV -, tratamento adequado e boa adesão. Mas também, pensar para além da saúde sexual e reprodutiva.
Repercutindo as falas, o enfermeiro João Luiz Grandi complementou sua colega frisando a mandala da prevenção combinada, que consiste nos variados e complementares métodos existentes de prevenção ao HIV/aids.
A mandala da prevenção contempla aspectos biológicos, químicos e também sociais e foi citada por ambos como um importante avanço na resposta à aids.
Dra. Naila mencionou a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV) como método estratégico, especialmente a quem está em situação de prostituição.
Na mesma linha de raciocínio, o enfermeiro defendeu maior oferta da profilaxia, mas chamou atenção para o fato de que ‘’sozinha a camisinha não deu conta [da epidemia de HIV/aids], e a PrEP sozinha também não vai dar conta’’, disse, estimulando o protagonismo do indivíduo na prevenção. João destacou ainda a combinação de métodos, e chamou atenção para a importância da chegada de novas tecnologias preventivas.
A PEP, profilaxia para quem teve uma exposição de risco ao HIV, não ficou de fora da conversa. ‘‘Pode ser utilizada em casos de violência sexual, relação sexual desprotegida, acidente de trabalho’’, esclareceu.
De acordo com o profissional, a prescrição médica é administrada com Lamivudina 300 mg + Tenofovir 300 + Dolutegravir 50 mg. Para surtir o efeito esperado, o especialista explicou que a medicação deve ser tomada por 28 dias ininterruptos.
Vacinar para hepatite B e HPV, também foram estratégias citadas.
Os especialistas reiteraram treinamento adequado para profissionais de saúde, programas de prevenção direcionados às pessoas trans, combate a transfobia e a sorofobia.
Na opinião dos especialistas, promover o direito constitucional à saúde para a população trans é a forma de colocar fim a roda que perpetua a pobreza e a discriminação contra travestis e transsexuais. Por isso, um dos pontos-chaves do debate foi a reivindicação de ações práticas por parte dos profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas.