Conecta LGBTI+ lança programa de psicoterapia para promover acolhimento e cuidado
Um espaço seguro, ético e livre de preconceito. É essa a proposta do Programa de Psicoterapia para pessoas LGBTI+, lançado pelo Conecta LGBTI+ em parceria com profissionais da psicologia. A iniciativa busca garantir acolhimento, cuidado e respeito à diversidade, oferecendo acompanhamento terapêutico adaptado às realidades da comunidade.
O psicólogo João Renato Leone Bonaldi (CRP-PR 08/43505) é cofundador do Conecta LGBTI+ e atua em clínica com foco em psicoterapia afirmativa. Engajado em movimentos sociais, ele tem buscado criar iniciativas que ampliem o acesso da população LGBTI+ a espaços de cuidado e acolhimento. Foi dele a proposta de lançar o Programa de Psicoterapia, que em menos de 24 horas já recebeu mais de 130 inscrições.
O que é o Conecta
Segundo João, a atuação do Conecta vai além da saúde mental.
“Ajudando as empresas a sensibilizar seus funcionários e suas lideranças sobre políticas e práticas inclusivas. Além disso, nós também atuamos com advogados no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal. Realizamos agendas de influência e sensibilização dos atores políticos para com a construção e, principalmente, a desmistificação da causa LGBTI+ dentro da política. Então nós atuamos por esses dois caminhos”, explica.
A criação do programa
A ideia de lançar o projeto, conta o psicólogo, nasceu de uma inquietação pessoal.
“Eu sempre participei de movimentos sociais. Eu queria fazer algo em prol da nossa comunidade, criar uma escuta própria para a nossa comunidade. E aí surgiu essa inquietação: por que não criarmos um projeto em nível nacional para democratizar a clínica, democratizar a escuta e também agregar outros profissionais nesse processo de transformação? A psicoterapia é um processo de transformação, eu acredito muito nisso, sobretudo um processo de cura.
E agora nós estamos no meio de setembro amarelo, sabemos que a nossa comunidade é atravessada por muitas questões que, infelizmente, aumentam o número de ansiedade, o número de depressão e, consequentemente, o suicídio. Principalmente em siglas que não possuem ainda visibilidade total, nem na política, nem na sociedade e também na clínica. Foi por conta disso que nós resolvemos democratizar esse espaço de escuta, para as pessoas encontrarem na psicoterapia um espaço para se curarem de falas, de momentos e de episódios que foram muito marcantes.”

O psicólogo João Renato Leone | Foto: Acervo Pessoal
Demandas da comunidade
Na avaliação do cofundador, um dos fatores que mais impactam a saúde mental é a exclusão do mercado de trabalho.
“A falta de oportunidade no mercado de trabalho é algo que tem demandado muito gasto de energia psíquica. As pessoas, muitas vezes, procuram empresas onde consigam performar, onde consigam se sentir pertencentes ao mercado de trabalho, e não conseguem a reinserção. Isso aumenta o nível de ansiedade e o nível de frustração.”
Como vai funcionar
De acordo com o psicólogo, os atendimentos serão realizados de forma totalmente remota.
“Cada psicólogo vai atender de sua casa. Então, tem que ter internet, celular ou computador para o psicólogo conseguir fazer esse acolhimento, esse manejo clínico. A frequência varia muito de caso a caso, de situação para situação. Tem pessoas que preferem quinzenal, outras semanal, outras mensal. Isso fica à escolha do próprio paciente.
As sessões têm duração de 50 a 60 minutos. E os casos são supervisionados também pelo grupo de psicólogos, são acompanhados. Então existe um acompanhamento muito bem estruturado.”
Quem pode participar
O projeto é aberto a todas as pessoas LGBTI+, sem critérios de seleção.
“Todas as pessoas podem se inscrever. Não há critério de seleção. A pessoa vai preencher suas principais informações, identidade, ocupação, faixa salarial. E com isso, ela será direcionada a algum profissional.
Temos vários profissionais e várias abordagens da psicologia. Desde terapias cognitivas-comportamentais até psicanálise, psicoterapia analítica, psicologia sistêmica familiar. Há várias abordagens possíveis.”
Acolhimento e impacto
Para João, a premissa central do programa é garantir uma escuta livre de julgamentos.
“O que esperamos é um espaço onde a pessoa se sinta confortável para falar sobre suas questões sem medo de ser julgada. Acho que essa é a nossa premissa ética fundamental: proporcionar um espaço de escuta, de acolhimento, de cura e de transformação.
Nesse momento, nós lançamos o formulário ontem à noite e já temos mais de 130 pessoas inscritas no projeto.”
Importância do espaço seguro
Em sua prática clínica, o psicólogo percebe como experiências religiosas podem afetar profundamente a vida de pacientes LGBTI+.
“A importância é possibilitar para as pessoas um outro olhar sobre suas próprias vidas. Na minha clínica, eu recebo muitas pessoas que vêm com um discurso religioso muito forte, de um passado religioso muito forte. Então, é libertar as pessoas desse peso. Que elas possam viver plenamente as suas sexualidades, sem nenhum tipo de moralismo que as condene, que cause prejuízo social e sofrimento psíquico.”
O psicólogo acredita que a iniciativa também pode fortalecer o autoconhecimento.
“Eu enxergo esse projeto como uma grande oportunidade de desenvolver um senso de pertencimento das pessoas consigo mesmas, porque isso é importante. Para além disso, desenvolver o autoconhecimento, porque se eu tenho autoconhecimento, eu evito ter comportamentos ou me colocar em situações e padrões de opressão.”
Valores sociais
Além do acolhimento, o programa também aposta em valores acessíveis para democratizar o acesso.
“Há o valor social: de acordo com a renda, o atendimento tem um preço muito abaixo da tabela do CRP (Conselho Regional de Psicologia). São valores mais acessíveis, variando de 20, 30 ou 40 reais.”
Como participar
Para se inscrever, basta acessar o formulário disponível em https://forms.gle/CRfnP79c3d1c5m337
As informações enviadas são sigilosas e utilizadas apenas para a organização dos atendimentos
Vinícius Monteiro (vinicius@agenciaaids.com.br)
Estagiário em Jornalismo na Agência Aids
Edição: Talita Martins
