“Como lidar com a descoberta de um filho gay” foi tema de abertura do projeto “Dois Dedos de Prosa”
A noite da última segunda-feira (5), foi de emoção e informação para o público presente no Espaço Cultural da Barraquinha, durante a abertura do projeto “Dois Dedos de Prosa“, promovido pelo site Dois Terços.
Com esta palestra o veiculo abriu o ciclo de encontros do projeto que, ao longo do ano de 2015, irá promover outros debates ligados à comunidade LGBT.
Tendo como tema “Como lidar com a descoberta de um filho gay”, a palestra contou com a participação da defensora pública do Estado da Bahia, Bethânia Ferreira, a integrante do grupo Mães pela Diversidade, Inês Silva, a educadora Licia Carvalho e a dona de casa Maria Luiza Barreto.
Mediadas pelo diretor teatral João Figuer, as convidadas contaram as suas histórias e falaram sobre os deveres dos pais perante a justiça.
Durante o debate, em um depoimento emocionado, Inês Silva revelou já ter tentado o suicídio duas vezes diante da descoberta da orientação sexual de seus filhos.
“Tentei me matar duas vezes, pois foi um momento muito difícil. Eu não estava preparada para essa realidade, visto que eles sempre tiveram relacionamentos com heterossexuais. Foi duro, minha mãe reagiu de maneira muito mais tranquila. Passado esse momento, o que importa na minha casa é o amor que existe entre nós. Hoje convivo com a maior tranquilidade do mundo com eles e com as pessoas que eles escolheram para serem felizes”, contou Inês.
Para Maria Luiza, a descoberta não causou tanto espanto pois a mesma soube em uma situação familiar conturbada, que foi mais complicada do que a descoberta da orientação sexual do filho.
“A primeira coisa que passou na minha cabeça foi querer sair daquele lugar para proteger meu filho de todas as formas de preconceito. Hoje vivemos um para outro e sempre faço questão de conhecer o namorado, que por sinal frequenta a nossa casa. A minha maior preocupação é com a violência crescente contra os LGBTs”, pontuou Maria Luiza.
Outra que também não teve grandes conflitos com a descoberta foi Lícia, que contou que descobriu acessando o e-mail do filho e a primeira reação foi querer saber quem era e o que queria aquele rapaz com o qual o filho conversava.
“Desde esse momento, tudo mudou quando ele contou sobre sua orientação. Tudo isso mexe com a gente, mas o coração e o amor que temos por nossos filhos superam qualquer barreira. Somos muitos felizes. Ele atualmente vive na Argentina e é um grande profissional também na área da educação, e isso é motivo de orgulho”, declarou Lícia.
Já a defensora pública Bethânia Ferreira abordou em sua fala as responsabilidades e consequências das famílias que não aceitam a orientação sexual dos filhos e os expulsam de casa.
“Os pais tem o dever de cuidar independe da orientação sexual do filho ou filha. Não podemos querer que o amor e afetividade seja uma obrigação, mas a obrigação de cuidar é cobrada de quem botou um filho no mundo como consta na constituição brasileira e no estatuto da criança e do adolescente. Mesmo que os pais não queiram, é uma obrigação deles cuidar. Isso tem que ser garantido e cobrado pela justiça”, pontuo a doutora Bethânia.
Para Genilson Coutinho, editor chefe do site Dois Terços, essas discussões são muito importantes, pois através delas é possível estreitar os laços entre a sociedade e comunidade LGBT.
“Estamos muito felizes com esse resultado, pois é fundamental a inclusão dessas temáticas para quebrar paradigmas, além de contribuir com a visibilidade da causa e a redução do preconceito. Sem dúvidas, é nossa obrigação como veiculo LGBT, contribuir para difusão da informação contextualizada com a realidade e a carência do nosso público. Essa é uma das ações em prol dos direitos humanos que iremos promover ao longo de 2015”, revelou Coutinho.
A primeira edição contou com o apoio da Casa Nandos, Fundação Gregório de Matos, Espaço Cultural da Barraquinha, Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e da Coz2 Burguer.
Fotos: Genilson Coutinho
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