Casal gay volta da Tailândia com filhas gêmeas geradas em barriga de aluguel
Um casal gay saiu de Minas Gerais e foi até a Tailândia para ter três filhos gerados em barrigas de aluguel.
Nesta semana, Pedro e Janderson, os dois pais, voltaram para o Brasil felizes da vida com as gêmeas Luísa e Valentina. E, em fevereiro, vão à Tailândia buscar o Victor, que ainda vai nascer.
O caminho foi longo até o Aeroporto de São Paulo. Foram entre 23 e 25 horas de viagem. Pedro e Janderson saíram do Brasil como um casal e retornam da Tailândia como uma família. Eles foram buscar as gêmeas, que nasceram lá com a ajuda de uma barriga de aluguel.
Fantástico: Agora, vocês chegaram no Brasil com suas filhas, o que vocês tão sentindo?
Pedro Maciel Filho, empresário: Era um sonho tão grande quanto o momento de dar positivo o resultado da gravidez das tentativas que fizemos. Na conexão em Dubai, comecei a teclar com minha família e a vontade era de chorar.
A chegada a Governador Valadares, Minas Gerais, foi emocionante. A família não via a hora de abraçar os dois pais e de conhecer as pequenas Luíza e Valentina, de um mês.
O quarto das gêmeas precisou ser construída para caber os bebês. E o quarto tinha que ser grande porque, além da Luísa e da Valentina, em fevereiro, chega o Victor, o irmão caçula, que ainda está na barriga lá na Tailândia.
Os três filhos foram gerados da mesma forma. Primeiro, o casal procurou uma empresa israelense e escolheu uma mulher da África do Sul para doar os óvulos. Parte dos óvulos foi fecundada com o sêmen de Pedro, outra com o de Janderson. Os embriões que se formaram foram colocados em duas mulheres tailandesas contratadas apenas para a gestação, as chamadas barrigas de aluguel. A surpresa veio quando um dos embriões se dividiu, gerando as gêmeas idênticas.
Os três filhos nossos são irmãos pelo DNA feminino porque a doadora é uma única.
A empresa que tornou tudo isso possível fica em Israel. A agência que realizou o sonho do Pedro e do Janderson não fica em nenhum arranha-céu, não têm grandes escritórios e também não tem nenhum laboratório sequer. Eles ficam em um bairro residencial de Tel Aviv, em Israel, em um edifício de apartamentos que foi adaptado para receber o escritório. Neste prédio começam grandes histórias de reprodução assistida.
A agência foi criada pelo israelense Doran Meged depois que ele e o parceiro gastaram o equivalente a R$ 350 mil para gerar uma filha nos Estados Unidos.
“Comecei com a minha própria experiência. Eu tenho um parceiro, e nós fizemos o processo seis anos e meio atrás nos Estados Unidos. Foi muito, muito caro. E então eu comecei a procurar maneiras de fazer isso se tornar mais barato, e foi assim que eu comecei”, conta Doran Meged.
Para baixar os custos para perto dos R$ 200 mil, foi preciso encontrar doadoras de óvulos na África do sul.
Existe um banco de dados com as fotografias e as características das mulheres e eles têm todas as informações daquela que vai ser a doadora do óvulo, que então vai ser fecundado pelo espermatozoide deles e vai ser enfim colocado na barriga de aluguel.
Pagar por uma barriga de aluguel é permitido em alguns estados americanos, no estado mexicano de Tabasco e em todo o Nepal. Até recentemente, o processo era feito sem problemas na Índia e na Tailândia. Mas a Índia, agora, só aceita casais heterossexuais.
A embaixada tailandesa no Brasil diz que “a barriga de aluguel, hoje, é ilegal no país, mas que o governo de lá estuda uma mudança para ajustar a legalidade do processo”.
Como Janderson e Pedro começaram o procedimento antes da proibição, conseguiram sair do país com as filhas usando passaportes tailandeses, com autorização da mãe.
Vai continuar constando que elas nasceram na Tailândia no documento definitivo depois.
Fantástico: Essa mãe de aluguel precisou autorizar para que as gêmeas viajassem?
Pedro Maciel Filho: Precisou. E assim que acabou todo o trâmite, ela se despediu da forma que teria que ser.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil diz que, no caso das gêmeas, foram emitidos registros de nascimento e passaportes dentro da legalidade.
“Como não havia e não há uma legislação na Tailândia, nesse vazio legal, as agências se estabeleceram como atrativas. Os casos começaram a aparecer, chamaram atenção das autoridades governamentais e elas disseram: ‘Não, para! Porque há esse vazio legal, não significa que nós permitimos’. Não atingirá os casos passados, mas daqui para a frente, inibirá a iniciativa de alguns pais”, explica Maristela Basso, professora de Direito Internacional da USP.
Nenhuma burocracia parece tirar a tranquilidade de Luíza e Valentina, já adaptadas na casa nova e, como meninas que são, esperam poder usar todos os vestidinhos e sapatinhos.
“Quando a gente encontrou essa forma, a gente falou: ‘está aí o que a gente esperava’. A gente quer, nesse momento, nesses primeiros filhos, ver as nossas características representadas. Você ver o desenvolvimento deles e falar: ‘nossa, ele parece com a minha mãe’, ‘parecia com o meu pai’, ‘tem isso seu, Pedro’, ‘tem isso meu’”, destaca Janderson Lima, ortodontista.
Fantástico: Como você vai explicar para seus filhos, para as gêmeas e para o Victor, de onde que eles vieram e por que a família deles é, talvez, um pouco diferente da maioria?
Pedro Maciel Filho: A todo momento, o que for perguntado, passo a passo, será esclarecido com toda franqueza e realidade e tudo mais. E deixando bem claro que o que importa é que saíram de nós, de dentro de nós, dos nossos corações.
Matéria originalmente no Fantástico