O ativista Leonardo Moura, da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA), apresentou na Conferência Internacional da Aids, em Munique, um estudo detalhado sobre as barreiras enfrentadas por jovens HIV+ no acesso aos serviços de saúde especializados no Brasil.
A pesquisa teve como objetivo identificar as dificuldades que essa população encontra ao buscar diagnóstico e tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), e contou com a colaboração de M.K. Silva Rodrigues, A. Ribeiro Ferreira e S. Bispo Amaral.
Os resultados do estudo mostram que adolescentes e jovens no Brasil enfrentam desafios significativos, como medo de julgamento e discriminação, falta de acolhimento, longos tempos de espera para consultas médicas e desrespeito aos seus direitos por parte dos profissionais de saúde. Esses obstáculos comprometem a realização de testes e a adesão ao tratamento, afetando a saúde e bem-estar dos jovens.
Leonardo Moura da Silva enfatizou a importância desse estudo na exposição de problemas graves no SUS. “Envolver a juventude na pesquisa visa construir líderes fortes, tanto local quanto nacionalmente, para promover um apoio contínuo na luta contra o HIV/aids. Apesar dos desafios, os participantes valorizam o sistema de saúde pública brasileiro.”
Dados do Unaids revelam que, entre 2010 e 2022, a América Latina viu um aumento de 8% nas infecções por HIV. “No Brasil, dos 43.403 casos de HIV relatados em 2022, quase metade (41%) eram de pessoas entre 15 e 29 anos. Em 2021, jovens dessa faixa etária representaram 28,58% dos novos casos de aids, evidenciando a vulnerabilidade dessa população.”
O estudo, segundo Leonardo, também teve como meta compreender as experiências de cuidado compartilhadas por jovens e adolescentes e explorar estratégias para tornar esses espaços mais acolhedores.
Metodologia
A metodologia quantitativa envolveu um questionário online direcionado a jovens de 18 a 29 anos de todos os estados do Brasil. A abordagem qualitativa incluiu entrevistas institucionais semiestruturadas e grupos de discussão em sete capitais brasileiras, visando criar um processo participativo e identificar as experiências dos jovens.
“Os resultados mostraram que um quinto das pessoas que responderam a pesquisa experimentou desrespeito à privacidade, desconforto no atendimento e sentimentos de culpa ou vergonha ao utilizar o sistema de saúde.”
O estudo também utilizou “personas” para ilustrar os desafios enfrentados pelos jovens, como o caso de Gabriel, um jovem de 26 anos que vive com HIV desde os 19 e enfrentou estigma e preconceito por parte dos profissionais de saúde devido à sua condição e por ser um homem negro e homossexual.
Uma citação de uma jovem participante dos grupos de discussão destacou a dificuldade enfrentada por jovens mulheres: “Eu frequentemente ouvia que não poderia ser mãe, que não poderia amamentar. Houve um médico que fez essas perguntas, como se fosse planejado. Ele disse na minha cara, quando eu disse que foi planejado, ‘mas você tem HIV.’ ‘Você não pensa na saúde do seu filho?’”
O jovem ativista destacou que para melhorar a qualidade de vida e o atendimento a jovens e adolescentes, o estudo faz várias recomendações: aumentar o acesso à informação, fornecer apoio psicológico, expandir e humanizar os cuidados de saúde, criar campanhas públicas para desconstruir o estigma do HIV/Aids, incluir adolescentes e jovens nas decisões de políticas públicas e desenvolver um protocolo para comunicar que Indetectável = Intransmissível (I=I).
O lema “Nada Sobre Nós, Sem Nós” foi destacado como fundamental, enfatizando a importância de colocar as pessoas no centro da resposta ao HIV/aids. “A mobilização comunitária de jovens e adolescentes para a preparação deste estudo reforçou a liderança da RNAJVHA, fornecendo suporte crucial para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes sobre HIV/aids no Brasil”, concluiu.
Da AG. AIDS