Um manual que revela a construção algoz que imobiliza socialmente pessoas pretas é encontrado provocando uma reação em cadeia. Esta é a premissa que os artistas Marcelo Ricardo e Vagner Jesus, trazem a tona para discutir o racismo estrutura com o curta metragem “Manual como Conter uma Raça Poderosa”, que estreia no dia 10 de dezembro, às 20h, na plataforma do Youtube.
O manual é o fio condutor que emaranha as histórias em cena, e retrata o tensionamentos atuais que afetam pessoas pretas diversas. Um jovem em situação de rua, um artilheiro em vésperas de um grande jogo, uma pessoa não-binária em um linchamento digital e um jornalista na urgência de uma notícia vivem as sombras de seus pensamentos na trama afrosurrealista.
“Este é um projeto ousado, em que me desafio a experimentar ser mais de um, dentro e fora de cena”, conta Vagner de Jesus, que já trabalhou em espetáculos do Bando de Teatro Olodum como “Ó Pai, Ó!”, “Áfricas” e “Êrê”. No último ano, o ator viajou por cidade do interior levando a montagem solo “V de Viado”, e agora retorna reafirmando o seu fazer artístico em um monólogo experimental e multilinguístico. O curta foi elaborado para um espaço limitado dada as restrições do novo coronavírus.
O curta percorre por estratégias que interdita pessoas negras subjetivamente chamando atenção para as operações truculentas que detém e exterminam tal grupo baseado no racismo que estrutura a sociedade. A obra põe em reflexões situações diárias, como a de George Floyd, assassinado sob os joelhos de um policial em praça pública em Minneapolis (EUA), e o de João Alberto Silveira de Freitas, morto por seguranças no Carrefour, em Porto Alegre.
“Estamos falando dentro da obra do que realmente nos afeta no mundo fora. São corpos diversos em situações distintas, que sofrem do mesmo mal: o racismo estrutural”, ressalta Vagner. As quatro cenas ressaltam o tom de denúncia, mas não se encerra sem propor uma contranarrativa sobre as movimentações políticas de pessoas negras. A obra une teatro, dança, audiovisual e artes visuais. Para a construção do curta, os artistas se apropriam da estética do afrosurrealismo, em que o sonho, a alucinação e o subconsciente protagonizado por pessoas pretas dão o ritmo de suspense a obra.
“O manual é uma metáfora para pensar no conjunto de imagens que se sobrepõe às subjetividades de pessoas negras da diáspora”, diz Marcelo Ricardo, que roteiriza e co-dirige a produção com o ator. “Nosso interesse é se aprofundar num subconsciente que é coletivo, ameaçado e que nos retira a possibilidade de pensar saídas, mas que ainda assim, nos dar formas de reagir”, explica a o roteirista.
A produção tem o apoio financeiro da Pró-Reitoria de Extensão da UFBA (PROEXT-UFBA) através do Edital PIBExA, que contemplou propostas de experimentações artísticas estudantis em processos não presenciais em enfrentamento a pandemia do novo coronavírus. A obra ficará acessível até o dia 17 de dezembro na plataforma do YouTube.