HIV em pauta

Pesquisadoras da Casa da Pesquisa apresentam em Lima estratégias inovadoras para a prevenção do HIV entre mulheres trans e travestis

Genilson Coutinho,
07/10/2024 | 13h10

Durante a 5ª Conferência de Pesquisa para Prevenção do HIV (HIVR4P 2024), em Lima, Paola Alves, coordenadora de educação comunitária da Casa da Pesquisa do CRT/Aids de São Paulo, e a médica infectologista Camila Albuquerque apresentaram um trabalho inovador focado na ampliação da prevenção do HIV entre mulheres trans e travestis. A pesquisa analisa os métodos desenvolvidos no Centro de Referência e Treinamento em HIV/Aids (CRT) e sua aplicação em estudos clínicos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a meta de eliminar a aids como um problema de saúde pública até 2030. Parte dessa estratégia inclui a redução de novos casos por meio da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), que é recomendada desde 2015. No Brasil, a PrEP foi formalmente implementada como política pública em 2018, mas seu acesso ainda é desigual, especialmente para travestis e mulheres trans.

“Estatísticas alarmantes indicam que as mulheres trans e travestis têm uma das maiores taxas de prevalência de HIV no Brasil, variando entre 16,9% e 36,7% em algumas regiões. Entretanto, apenas 3,2% dos usuários de PrEP são mulheres trans e travestis, em contrapartida com os 82,2% de homens cisgêneros que fazem sexo com homens.”

Segundo a pesquisadora Paola, barreiras como estigma, discriminação e vulnerabilidades socioeconômicas dificultam o acesso dessa população à prevenção do HIV. “Para enfrentar essas dificuldades, em 2018 foi criado o Programa de Educação Comunitária vinculado à Unidade de Pesquisa/CRT/AIDS em São Paulo. Este programa visa oferecer educação continuada sobre prevenção do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) à comunidade LGBTQIAPN+, com foco especial nas mulheres trans e travestis.”

Paola contou ainda que a abordagem “utiliza métodos sociológicos e de educação entre pares, empregando mulheres trans e travestis como educadoras para ampliar o alcance das ações de prevenção. A iniciativa promoveu atividades educativas em espaços como abrigos e centros de cidadania, abordando desde saúde integral até questões relacionadas ao registro civil e à dignidade da população trans.”

Os resultados apresentados na Conferência do Peru demonstraram um avanço significativo na inclusão de mulheres trans e travestis em estudos clínicos. “Antes da implementação de estratégias adaptadas, apenas 2,3% dos indivíduos rastreados eram TrTW, com uma taxa de retenção de apenas 70%. Após as mudanças, o número de voluntários rastreados aumentou para 657, com 20,7% pertencendo ao grupo mulheres trans e travestis e uma taxa de retenção de 89,8%.”

Assim como Paola, a infectologista Camila Albuquerque enfatiza a importância da educação por pares, mostrando que essa abordagem não apenas atrai, mas também retém a população mulheres trans e travestis em estudos clínicos de prevenção do HIV. “Essas estratégias se mostraram mais eficazes que as tentativas anteriores, que dependiam fortemente de mídias sociais, ao oferecer um suporte mais abrangente e humanizado.”

O trabalho destaca não apenas os desafios enfrentados por mulheres trans e travestis no acesso à saúde, mas também as soluções criativas e colaborativas que podem fazer a diferença na luta contra o HIV/aids.