Senac São Paulo e Agência Aids unem infectologistas e ativistas em ciclo de palestras sobre HIV/aids, ISTs e mandala da prevenção
Dezembro é o mês de sensibilização e enfrentamento ao HIV/aids, a mobilização acontece nacionalmente, sempre com foco na prevenção, assistência e promoção dos direitos de quem vive com HIV. Neste ano, antecipando as ações em alusão ao Dezembro Vermelho, a Agência Aids se juntou ao Senac São Paulo em um ciclo de palestras sobre prevenção combinada.
Liderados pela jornalista Roseli Tardelli, diretora desta Agência, desde o começo de novembro, infectologistas e ativistas da luta contra aids estão percorrendo diferentes unidades do Senac São Paulo e conversando com alunos da área de saúde sobre prevenção do HIV, autocuidado e cidadania.
“Retomamos um projeto já antigo de rodas de diálogo com a Agência Aids, após a pandemia, e a cada ano direcionamos para um grupo diferente de alunos: ensino médio, programa aprendizagem e agora os estudantes das áreas de saúde, bem-estar e segurança do trabalho. Acreditamos ser um tema muito relevante do ponto de vista socioeducacional, mas também pensando no autocuidado, na prevenção das infecções, transmissão do vírus e sobretudo no combate ao preconceito“, disse João Henrique de Freitas Alves, da Gerência de Pessoal, do Senac São Paulo.
A dinâmica
Nos encontros, os especialistas vêm promovendo uma atualização sobre as principais estratégias de prevenção ao HIV no Brasil, com foco na mandala da prevenção combinada, que busca alcançar um impacto máximo na redução de novas infecções pelo HIV ao combinar estratégias biomédicas, comportamentais e estruturais baseadas nos direitos humanos e em evidências cientificas.
Uma delas é a testagem regular para o HIV, que pode ser feita gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs).
Outra ação fundamental que compõe a mandala é a prevenção da transmissão vertical, a partir de exames pré-natais, diminuindo o risco de transmissão do HIV da mãe para o recém-nascido: na gestação, no parto ou durante a amamentação. As imunizações para hepatite B e HPV também são práticas essenciais contempladas no programa.
A redução de danos para usuários de álcool e outras drogas também é determinante para evitar a transmissão, promover a qualidade de vida e garantir o acesso à saúde. Oferta de insumos individuais como seringas e agulhas, intervenções comportamentais e estruturais, que combatem o preconceito a esses públicos, são alguns exemplos de medidas que podem ser adotadas.
O uso de preservativos internos e externos, além de géis lubrificantes, disponíveis gratuitamente no SUS, são o carro-chefe para a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, sendo fortemente recomendados. Já as Profilaxias Pré e Pós Exposição ao HIV são outros avanços disponíveis gratuitamente no SUS. Consiste no uso de antirretrovirais (ARV) para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV.
“O Senac São Paulo tem disponibilizado sua equipe de educadores e alunos em diferentes unidades para conversas sobre as estratégias de prevenção contidas na Mandala da Prevenção. Especificamente o projeto Dezembro Vermelho está trazendo informações para os alunos matriculados em áreas da saúde. É muito importante que estes futuros profissionais conheçam a Pep, a PrEP e as outras possibilidades que estão disponíveis para prevenção do HIV e outras ISts para se tornarem também multiplicadores de informações sobre prevenção. Só temos a agradecer ao Senac por sua disponibilidade em tratar do assunto de maneira aberta, clara, direta, respeitosa e profissional como temos vivenciado nas unidades que percorremos”, disse a jornalista Roseli Tardelli.
As palestras
As rodas de conversas começaram no dia 6 de novembro, no Senac Tiradentes. Participaram do debate o infectologista Álvaro Furtado, do Centro de Referência e Treinamento de IST/Aids de São Paulo, e o ativista Américo Nunes Neto, do Instituto Vida Nova.
Américo vive com HIV há mais de 30 anos e compartilhou com os alunos sua luta diária pela vida. ”Recebi o diagnostico em um momento delicado, quando a aids ainda era uma sentença de morte. Tudo mudou, mas eu faço sempre a questão de reforçar que o HIV nunca me definiu, eu não sou um vírus, sou uma pessoa. Não sofri preconceito quando contei para a minha família, mas essa não é a realidade de muitas pessoas vivendo com HIV. O preconceito, o estigma e a discriminação afetam a vida das pessoas.”
Dr. Álvaro compartilhou evidência cientificas e disse para os alunos que quem vive com HIV e está com a carga viral indetectável não transmite o vírus.”
A plateia ouviu atentamente o relato e duas alunas do curso de radiologia compartilharam suas histórias. Uma delas contou tem uma prima que vive com HIV e que, devido ao preconceito, não se relaciona com ninguém. ”Ela teve um único namorado, eles estavam de casamento marcado, passou um tempo ela descobriu que ele tinha outra família. Nisso, precisou fazer uma cirurgia e nos exames descobriu o HIV, foi um baque.”
Uma outra aluna disse que perdeu os pais nos anos de 1990 em decorrência da aids. ”A aids marcou a minha família, me lembro que existia uma discussão para saber quem tinha infectado o outro, mas a verdade é que tudo foi muito triste, cresci órfã.”
As Unidades do Senac em Campinas e Osasco também já receberam o ciclo de palestras. A ativista Jenice Pizão, fundadora do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, e o infectologista Josué Lima, conversaram no dia 7 de novembro com os alunos de Campinas.
Já a infectologia Marinella Dela Negra e a ativista Jaqueline Côrtes estiveram em 8 de novembro na unidade Osasco.
Os próximos encontros serão nos dias 14 e 30 de novembro, nas Unidades Itaquera e São Miguel Paulista, respectivamente, e 5, 7 e 8 de dezembro, nas Unidades Santos, Vila Prudente e Largo 13.