Keila Simpson será a primeira travesti a receber título de Cidadã Soteropolitana

Carlos Leal,
18/06/2023 | 21h06
Foto: Andreia Magnoni

Nascida na cidade de Pedreiras, no Maranhão, Keila Simpson Presidenta da Associação Nacional das Travestis e Transexuais (Antra), umas das mais importantes ativistas das lutas da causa LGBTQIAPN+ no Brasil, será a primeira travesti a receber o título de Cidadã Soteropolitana. O anúncio foi feito na Tribuna do Legislativo pela co-vereadora Laina, da Mandata Coletiva Pretas Por Salvador (Psol – Bahia), que celebrou a aprovação.
A cerimônia de entrega do título, que celebra o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, será no próximo dia 20 de junho, terça-feira, às 18h, no Plenário da Câmara Municipal de Salvador. Keila, que chegou em Salvador 1986, saindo de sua terra natal e passando antes por São Luiz, Teresina e Recife, conta que já veio à Capital Baiana com o objetivo de trabalhar com a prostituição, que já fazia nas cidades por onde havia passado. “Chegando aqui, me joguei na rua. Meu primeiro posto de trabalho foi na Barra, depois conheci a Rua da Ajuda, no Centro da cidade, e lá fiquei. No local, conheci Luiz Mott, que me levou para fazer trabalhos no Grupo Gay da Bahia (GGB), onde passei a distribuir preservativos. Isso em 1991, cinco anos depois da minha chegada à Bahia”, diz Keila.
A ativista ressalta que foi uma experiência nova em sua vida, pois nunca havia feito trabalhos institucionais. Foi no GGB que ela se encontrou. “Foi lá que me projetei para esse espaço, eu não tinha experiência nenhuma nessa institucionalidade, nesse movimento que ali se iniciava. Eu sabia que existia uma mobilização nesse sentido, o GGB estava fazendo trabalhos de distribuição de preservativos por conta da epidemia do HIV, que precisava de ações para combatê-la”, explica.
Keila acrescenta que fazer a distribuição de preservativos era, claro, importante, que ela gostava, mas achava limitado e contraditório, pois havia essa ação para livrá-las da AIDS, mas que sentia falta de outros movimentos, como por exemplo, contra a violência sofrida pela comunidade LGBTQIAPN+. Em 1993, começa então um outro movimento: foram para as ruas, depois para as Centrais e no mesmo ano nasce a ANTRA, que se institualiza no ano 2000, onde ela se elegeu presidenta quatro anos depois. Importante também ressaltar o surgimento da Associação de Transexuais e Travestis de Salvador (ATRAS), criada em 1995 formada por um grupo de travestis e membros GGB, onde Keila teve importância fundamental.
Apesar de não ter nascido na Bahia, ela explica que sua referência nacional e internacional sempre foi como baiana, o que muito a deixa lisongeada, assim como foi em 2022 o título de Doutora Honoris Causa recebido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Keila se tornou a primeira travesti a receber essa distinção no Brasil. “Agora chega esse título de Cidadã Soteropolitana que me pega de surpresa, agradeço muito a esse mandato, liderado por Laina. É uma ousadia tremenda conceder um título tão importante a uma travesti negra em uma câmara que é tão machista, tão branca e tão racista. Feliz também porque nesse mandato que me concedeu o título tem uma travesti negra, que é Tiffany Odara, sei que ela teve sua influência nessa indicação, o que muito me deixa feliz também. Tiffany é uma batalhadora, aprendo com ela a cada dia. Amo Salvador e o estado da Bahia, que tornou-se referência para mim. Sempre me senti soteropolitana e agora chega a consagração”, conta, radiante.
Keila acrescenta que em 2023 já comemora 37 anos de atuação na Bahia, ganhando projeção no Brasil e no mundo e espera que esse título possa abrir caminho para outras pessoas que estão na luta. Parabéns, Keila Simpson.