131 pessoas trans foram assassinadas em 2022, aponta associação
O Brasil teve 131 pessoas trans assassinadas em 2022, uma média de 11 por mês, segundo relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). As vítimas foram 130 mulheres trans/travestis e 1 homem trans.
A mais jovem tinha 15 anos e foi brutalmente morta: Ester foi encontrada decapitada e com um dedo decepado em Natal, em outubro. Ela era de Olinda, Pernambuco. Um homem de 26 anos confessou o crime, segundo a polícia, mas responderá em liberdade.
O número de assassinatos em 2022 ficou abaixo dos 140 contabilizados no ano anterior, mas acima da média da série histórica iniciada em 2008, que é de 121 mortes por ano. A série inclui dados contabilizados pelo Grupo Gay da Bahia, até 2016, e pela Antra, que começou a produzir um dossiê dos assassinatos em 2017.
Ministro fala em ‘mudar realidade’
O documento, divulgado pouco antes do Dia Nacional da Visibilidade Trans, que é no próximo domingo (29), foi entregue aos ministros dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e da Igualdade Racial, Anielle Franco, em evento na tarde desta quinta (26), em Brasília.
“Se nós não formos capazes, se não tivermos a decência de mudar essa situação, nós nunca seremos um país e nós não mereceremos ser um país. Então, é um compromisso deste governo, que é um governo decente, e de todo e qualquer governo decente, mudar a realidade estampada nesse relatório.”
“A gente quer fazer um pacto de que nós, junto com vocês, vamos transformar essa secretaria em ações e entregas importantes para essa população e importante para sociedade brasileira”, completou a secretária de Direitos da População LGBTQIA+, Symmy Larrat, que é uma travesti.
Pernambuco tem mais mortes
O Brasil seguiu em primeiro no ranking dos assassinatos de pessoas trans em 2022 elaborado pela ONG Transgender Europe, que monitora 171 nações. Depois vieram México e os Estados Unidos. Ao todo, 327 mortes foram contabilizadas em todo o mundo.
Entre os estados brasileiros, a maioria dos crimes (13) foi em Pernambuco, o que acontece pela primeira vez desde que o dossiê começou a ser feito pela Antra. Em seguida vêm São Paulo e Ceará, com 11 mortes cada.
Do total dos casos onde foi possível determinar o local do crime, 64% ocorreram em cidades do interior dos estados e 61% das mortes foram em locais públicos.
O perfil das vítimas segue o mesmo: a maioria é mulher trans/travesti, negra e que vive da prostituição. E a maioria (65%) foi morta com requintes de crueldade, assim como Ester, de 15 anos, em Natal, e Paulinha, de 31 anos, assassinada a facadas e pedradas no Maranhão.
“E estas continuam enfrentando os piores índices de violência e violações de direitos humanos quando comparadas a qualquer outro grupo que enfrenta sistemáticas violências vindas do estado.”
O dossiê da associação também chamou a atenção para 20 casos de suicídio, sendo 13 de travestis/mulheres trans, 6 de homens trans/transmasculinos e 1 de pessoa não binária.