Cientistas usam tecnologia de edição de genes para impedir a replicação do HIV
Um novo experimento está usando a tecnologia de edição de genes Crispr (sigla em inglês para Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas Regularmente Interespaçadas) para impedir a replicação do vírus HIV, causador da aids, e removê-lo do organismo dos pacientes.
A primeira pessoa a ser submetida ao teste foi um homem vivendo com HIV. Em julho deste ano, por uma hora, ele foi conectado a uma bolsa intravenosa que bombeava o tratamento diretamente na sua corrente sanguínea. Segundo o portal da revista Wired, a infusão única foi projetada para levar as ferramentas de edição de genes às células infectadas.
No final deste mês, o voluntário deixará de tomar os medicamentos antirretrovirais que mantém o HIV em níveis indetectáveis. Em seguida, os cientistas aguardarão 12 semanas para ver se o vírus se recupera.
“O que estamos tentando fazer é devolver a célula a um estado quase normal”, disse Daniel Dornbusch, CEO da Excision BioTherapeutics, empresa de biotecnologia responsável pelo ensaio clínico.
Terapia é usada contra o vírus
O Crispr já tem sido usado em vários estudos para tratar diversas condições que surgem de mutações genéticas. Nesses casos, os cientistas o empregam para editar as próprias células das pessoas. Mas, para o teste do HIV, os pesquisadores da Excision estão utilizando essa ferramenta contra o vírus.
Como explica a Wired, a infusão de Crispr contém moléculas de edição de genes que visam duas regiões do genoma do HIV importantes para a replicação viral – o vírus só pode se reproduzir se estiver totalmente intacto, então a tecnologia interrompe esse processo cortando pedaços do genoma.
“Não queremos eliminar o genoma viral e, ao mesmo tempo, causar ruptura em outra parte do genoma humano e criar outro conjunto de problemas para os pacientes”, explicou Kamel Khalili, professor de microbiologia da Temple University e cofundador da Excision Biotherapeutics. “Tínhamos que nos certificar de que identificamos uma região dentro do HIV que não se sobrepunha ao genoma humano.”
A terapia Crispr da empresa também visa uma parte do genoma que tende a permanecer a mesma quando o HIV evolui. Isso é importante porque o vírus sofre mutações rapidamente e os pesquisadores não querem um alvo em movimento.
Para Dornbusch, CEO da empresa, essa estratégia poupará os pacientes de efeitos colaterais graves e edições “fora do alvo” – cortes não intencionais em outras partes do genoma que podem causar problemas como câncer.
Objetivos e desafios
A Excision planeja inscrever mais nove participantes no ensaio e testar três dosagens diferentes para determinar qual é a mais eficaz. De acordo com a Wired, os investigadores irão medir a carga viral e a contagem de CD4 (células do sistema imunológico) de cada paciente antes receberem a terapia e depois de deixarem de tomar os medicamentos antirretrovirais.
O objetivo da empresa com essa nova abordagem é reduzir as cargas virais no organismo a um nível indetectável, ou seja, menos de 200 cópias de HIV por mililitro de sangue. Mas ela terá um desafio pela frente, que é levar o Crispr a células suficientes para justamente reduzir o vírus a esses níveis indetectáveis.
Neste processo, a companhia de biotecnologia está usando um vírus modificado para transportar os componentes de edição de genes para as células CD4 infectadas. No entanto, até agora, há poucos dados sobre como a técnica funciona quando é entregue diretamente ao corpo.
Fonte: Época Negócios