Aliança LGBTI+ diz que moverá processo por ‘ataques bifóbicos’ contra Lucas
Um momento histórico de emoção no BBB, com o primeiro beijo entre dois homens e trocas de carinho, que foi seguido de atos preconceituosos, estigmatizantes, discriminatórios e inviabilização de uma orientação sexual. O Brasil mostra sua cara. Infelizmente é um país em que muitas pessoas são extremamente machistas, LGBTIfóbicas, racistas; e o programa televisivo espelha esse comportamento corriqueiro que ocorre fora das câmeras.
O que os participantes desta edição, alguns deles sendo LGBTIs, demonstraram na madrugada do dia 07 de fevereiro foi um ataque direcionado ao participante Lucas Koka Penteado, diminuindo sua existência enquanto pessoa bissexual e excluindo-o daquele meio social, fazendo com que ele comunicasse seu desejo de sair da casa por tamanha pressão psicológica. Os ataques que a participante Lumena, pessoa negra e lésbica, fez contra o participante Lucas, questionando sua orientação sexual, caracterizam bifobia e invisibilização total do participante.
Chegam ao absurdo e criminoso as atitudes realizadas durante esta edição do programa; por meio de falas extremamente bifóbicas, a participante questiona se o participante Lucas Penteado apenas beijou Gilberto para se promover com os telespectadores, uma vez que o participante não havia se declarado bissexual anteriormente, dando a famosa “ carteirada de sexualidade”, nítido exemplo do preconceito que as pessoas bissexuais sofrem dentro e fora da comunidade LGBTI+. Lumena, ainda, acusou o participante de “brincar” com uma pauta séria para se autopromover no jogo, entretanto, Lumena se esqueceu de manter um olhar humano e empático com Lucas ao lidar com a questão, desconsiderando totalmente a sua sexualidade e a sua liberdade de se expressar e ser feliz.
Além disso, as participantes Karol Conká e Pocah também questionaram a atitude do participante, afirmando que “se ele realmente quisesse assumir sua sexualidade, haveria outras formas de fazê-lo ao invés de beijar Gilberto”. Vale salientar que a expressão da sexualidade é uma liberdade individual, e cada um sabe a melhor forma e o melhor momento para assumi-la e expressá-la. Pocah e Karol deveriam saber disso, pois também integram a letra B da sigla LGBTI+ e sabem como o apagamento da bissexualidade pode ser violento dentro e fora da comunidade LGBTI+.
As falas proferidas durante a madrugada, que produziram a saída do participante Lucas Penteado, demonstram o quanto precisamos discutir a pauta bissexual nos dias de hoje. A todo instante as pessoas bissexuais são questionadas sobre seus relacionamentos, obrigadas a “validar” sua orientação, perseguidas e marginalizadas. O que aconteceu nesta edição do BBB apenas exterioriza o preconceito que as pessoas bissexuais sofrem diariamente. Precisamos discutir as falas de ontem, demonstrando que a participante Lumena deslegitima a sexualidade do outro participante, fazendo com que o mesmo desistisse de continuar no programa.
Quando falamos da pauta bissexual, demonstramos que os bissexuais a todo instante precisam validar seus relacionamentos com pessoas de ambos os sexos, precisam quebrar o machismo impregnado em fetichizar as mulheres bissexuais e invisibilizar os homens bissexuais, alegando que os mesmos sejam homens gays “que não saíram do armário”. Por conta de uma sociedade heteronormativa muito predominante, os homens bissexuais são vistos como “afeminados” por parte da comunidade NÃO LGBTI+, e masculinizados demais por parte da comunidade LGBTI+. O machismo e a masculinidade heteronormativa são muito cruéis com os homens bissexuais, conforme pudemos perceber durante as falas da madrugada.
As atitudes dos demais participantes com Lucas Penteado, de abuso psicológico, excluindo-o de ambientes e das provas, deixando-o de “castigo” inúmeras vezes e ainda por último questionando sua orientação sexual, demonstram a pior face do ser humano. Dentro do jogo, Lucas teve a possibilidade de ir ao confessionário e pedir para sair do programa. Na vida fora do reality, as pessoas que sofrem esse tipo de situação, muitas vezes, recorrem ao suicídio. Conforme estudo realizado pela Universidade La Trobe, pessoas bissexuais sofrem mais abalos psicológicos, em razão do questionamento que lhes é imposto a todo instante, aliado à falta de apoio psicológico e emocional, de tal forma que uma em quatro pessoas bissexuais já tentou cometer suicídio. São questionadas pela sua sexualidade, invalidadas como pessoas, mortas, vitimas de todo tipo de violência, inclusive psicologicamente, pela sociedade e pela própria comunidade LGBTI+.
A bifobia precisa ser discutida e as atitudes dos participantes dessa edição do Big Brother Brasil 2021 precisam ser investigadas nas esferas cível e criminal. Violência, racismo e LGBTfobia, às custas das vulnerabilidades e da exploração das fragilidades das pessoas, em rede nacional, não é entretenimento. A Aliança Nacional LGBTI+ continuará lutando contra toda forma de preconceito, estigma, discriminação e violência contra LGBTI+, em defesa do amor e da liberdade, e repudia veemente as atitudes preconceituosas proferidas nesta edição do Big Brother Brasil. Todo apoio e solidariedade ao participante Lucas Penteado e sua família. A Aliança Nacional LGBTI+ se coloca à disposição para prestar apoio psicológico e jurídico ao Lucas.
Por fim, ainda importante ressaltar, que precisamos seriamente tratar dos “limites da lacração”. Ninguém pode definir o modelo segundo o qual o outro vai exercer sua sexualidade ou qualquer outra forma de manifestação humana.
Isto porque, a sexualidade é um oceano, mas muitas pessoas fazem dela um aquário. Que bom que o Lucas Koka Penteado quebrou esse aquário em rede nacional. Deixem que seja feliz. Por uma sociedade sem lacração e cancelamentos. Por uma sociedade que respeite todas as orientações sexuais e identidades e expressões de gênero.