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30 anos de carreira de Ivete Sangalo. Teria música do primeiro CD alusão ao amor entre iguais?

Carlos Leal,
01/11/2023 | 13h11
Foto: Divulgação

O álbum de estreia da Banda Eva, trazendo a ainda desconhecida, Ivete Sangalo como vocalista, está completando 30 anos de lançado, sendo considerado um dos melhores discos da história da axé-music. O CD Banda Eva (Sony Music) trouxe clássicos da própria banda e  algumas regravações, que são cantados até hoje. De cara, Ivete Sangalo já foi consagrada uma das melhores cantoras da época, tendo recebido inclusive elogios da cantora Maria Bethânia que previu: “ela será uma das maiores cantoras desse país”. E mais: Bethânia, incluiu a música Adeus Bye, Bye (Guiguiu, Juci Pita e Chico Santana)  no repertório do concerto soteropolitano da turnê comemorativa de 25 anos de carreira da cantora, o que acabou divulgando a Banda Eva e consequentemente Ivete Sangalo por todo o país.

            O primeiro show da Banda Eva com Ivete nos vocais aconteceu na Área Verde do Othon, no mês de junho, mas o CD só foi lançado 01 de dezembro de 1993. O álbum  teve  direção artística de Jorge Davidson, produção artística de Jonga Cunha e Jorginho Sampaio, direção musical de Paulinho Andrade e Jonga Cunha e  participações de músicos de primeira linha: Pará (guitarra e guitarra baiana), Marcelo Alves (teclados), Moisés Gabrielli (baixo), Nairo Elo (bateria), Alexandre Lins (percussão) e Paulinho Andrade (sax, flauta e arranjos).

            Lançado estrategicamente no final de 1993 claro, o álbum iria repercutir no carnaval do ano seguinte, e não foi diferente. A música Adeus Bye, Bye foi uma das mais tocadas da folia permanecendo na mente de novos e velhos foliões até hoje. E se dissermos que em 93  já havia  uma frase LGBTQIAPN+  em uma das canções da Banda Eva? Quem não lembra de Minha Galera, canção de Paulinho Andrade? A música fala do encontro entre baianos e turistas durante o carnaval. Os amores, os desamores, as diferenças…

            Paulinho Andrade conversou com o Dois Terços e falou sobre a canção: “Na verdade, a ideia era falar do Eva, dos turistas, dos encontro com os foliões do bloco, mas essa história faz todo sentido, sim”, contou.  Os amores, desamores e as diferenças já estavam nas ruas desde os anos 50, como já falamos aqui no Dois Terços. Não dava para escancarar (ainda) em 1993, mas a realidade estava ali, dentro e fora das cordas. 

“… eram turistas em clima de festa/ Brincando com a minha galera/ Mudando o conceito de amor/ de amor, de amor, de amor/ E eu pedi meu bem, me leva, que eu vou”.

            O interessante é que em 1994 a aposta da Banda Eva (Adeus, bye, bye) perdeu o título de música do Carnaval para Requebra (Pierre Onassis e Nêgo), outra música que, de acordo com matéria publicada no Correio 24 horas em 2019, foi feita tendo como musa inspiradora uma transexual. Na referida matéria, Pierre Onassis diz: “Eu sou um artista que toca pra todos os públicos, não tenho preconceito a nada. E nesse momento que a gente tá querendo quebrar esses paradigmas, e com toda essa intolerância que vem assolando, eu até espero que ela seja utilizada dessa forma, que vai influenciando as pessoas a abrir a mente” (Correio 24 horas –  24/02/2019)

“…eu já falei que te quero/ Não tenho vergonha de te assumir…

… pode falar, pode rir de mim”.

            Fora essas músicas, o álbum traz outras perolas: Tributo ao Apache (Vários autores), Tamanco Malandrinho (Tom-Dito), Você não está (Paulinho Andrade), Timbaleiro (Tonho Matéria, Patricia Gomes e Nanny Assis), Iluará (Tatau), Torres de Babel (Edmundo Carôso e Carlos Neto), Cara do Prazer (Rudnei Monteiro e Edmundo Carôso) e Pout Pourri do Eva (Vários Autores).

Curiosidade

            O nome da banda, EVA, não é nenhuma referência à mulher de Adão, mas à Estrada Velha do Aeroporto (EVA) onde em 1977 um grupo de amigos do Colégio Marista formado por Ademarzinho, André Silveira, Jorginho Sampaio, Ricardo Martins, Jonga Cunha, Maurício Magalhães, Hunfrey Ataíde, Guto Almendra, Eduardo Gil, Pernambuco e Cyro Coelho  criaram um grêmio para se reunir fora das escolas, podendo tocar em festas particulares ou na rua. O local onde eles se reuniam? No sítio de Ademarzinho, localizado na Estrada Velha do Aeroporto, sendo o grupo batizado pelo nome de EVA.