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12º Encontro de Relações Humanas em HIV/Aids: especialistas defendem a ampliação de estratégias de prevenção combinada, levando em consideração as vulnerabilidades de populações-chave

Genilson Coutinho,
17/07/2023 | 11h07

O 12º Encontro de Relações Humanas em HIV/Aids, iniciativa do Instituto Vida Nova, foi palco de debates sobre a saúde integral de populações-chave para o HIV – profissionais do sexo, pessoas trans, pessoas que usam drogas, homens gays e outros homens que fazem sexo com homens – e promoção da prevenção combinada. O evento aconteceu na última semana, em São Paulo, e reuniu profissionais da saúde, ativistas e representantes de organizações da sociedade civil.

A mesa intitulada “A importância dos movimentos sociais na defesa dos direitos e mobilização das pessoas vivendo com HIV/Aids’’ abordou questões relacionadas às populações mais vulneráveis ao vírus da aids, como as pessoas em situação de rua, população negra, população LGBT+, profissionais do sexo e usuários de drogas, e traçou estratégias possíveis de alcance e mobilização, afim de garantir o cuidado integral destas pessoas.

Durante a discussão, o cientista social Celso Ricardo, da Divisão de Prevenção e Articulação com Sociedade Civil na Coordenadoria de IST/aids de São Paulo, destacou a importância de ampliar as estratégias de prevenção combinada, levando em consideração as vulnerabilidades programáticas e necessidades específicas de grupos identitários, sem abordagem fragmentada, mas sim coletiva e integrada, considerando as diferentes dimensões do cuidado e contexto de vida das pessoas em suas múltiplas formas de vulnerabilidade.

Segundo Celso, é necessário o resgate do senso de coletividade para frear o avanço da epidemia, sobretudo nas populações-chave, com políticas específicas.

‘‘Eu sou um homem do candomblé, não consigo pensar de outro jeito se não pela tecnologia do encontro, que é o que há de mais luxuoso nesse mundo’’, falou.

Celso ainda defendeu que as divergências político-ideológicas não podem sobressair o objetivo em comum que é a erradicação da aids enquanto problema de saúde pública. ‘‘Pode haver na mesma mesa dois indivíduos totalmente diferentes, com possíveis divergências políticas, mas que não são inimigos, porque estão caminhando para o mesmo lugar. A nossa união é em resposta à epidemia’’.

‘‘Vamos mudar o nosso conceito de política, e a nossa articulação e processo político dentro de casa para conseguirmos sentar com os governos com um discurso mais organizado. Sozinhos não damos conta, mas nós somos parte’’, completou.

Saúde Integral da População LGBTQIA+

Ainda no contexto das populações vulneráveis ao HIV/aids, a programação seguiu com Tânia Regina, responsável pela área técnica de Saúde Integral da População LGBTQIA+. A gestora explorou a linha de cuidados adotada na rede municipal de São Paulo a este público alvo. Ela celebrou e dividiu inúmeros avanços na política de aids paulistana e afirmou que hoje a estrutura da Coordenadoria Municipal de São Paulo, é modelo de referência em todo o Brasil. No entanto, foi enfática ao afirmar que a LGBTfobia e a falta de letramento no tocante aos temas relativos a gênero e sexualidade ainda são reais nos espaços de promoção à saúde da cidade, principalmente na atenção primária.

‘‘Muitas vezes uma travesti chega em uma UBS e não sabem o que fazer com ela, o guarda barra na porta do serviço, profissionais de saúde não respeitam o nome, muitos desconhecem a Rede Sampa Trans…’’, exemplificou.

A todo o momento, em sua fala, a palestrante bateu na tecla do acolhimento humanizado, com escuta ativa, captação e avaliação dos medos, dos desejos e necessidades, com um projeto terapêutico que garanta acompanhamento integral e contínuo.

As estratégias tanto sociais quanto biomédicas ganharam espaço de discussão. De acordo com Tânia, avançamos de forma expressiva, mas ao seu ver, muitas das lacunas ainda existentes não serão preenchidas enquanto não mudar a política no âmbito federal. ‘‘Algumas coisas, enquanto não houver mudança em cima, não teremos governabilidade aqui em baixo no município’’, finalizou.

Mandala

Em seguida, uma cativante, criativa e divertida dinâmica em grupo sobre a Mandala da Prevenção Combinada movimentou a reunião.

A mandala, símbolo de unidade e equilíbrio, foi utilizada como base para essa dinâmica, que reuniu participantes de diferentes idades, gêneros e origens. Eles foram convidados a expressarem suas percepções e experiências relacionadas às pessoas vivendo com HIV/aids.

Em seguida, foram divididos em grupos, onde cada um ficou encarregado de traçar três diferentes estratégias sociais que sejam pontes para que pessoas em situação de maior vulnerabilidade tenham acesso às estratégias de prevenção.

À medida que as ideias foram compartilhadas, uma verdadeira obra de arte coletiva se formou no centro da sala, representando a diversidade de perspectivas e experiências presentes nos grupos. O resultado final foi uma mandala colorida e vibrante, refletindo a importância do trabalho conjunto na prevenção do HIV/aids.