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Travesti e funkeira, Mulher Pepita fala de preconceito e carreira; confira

Redação,
20/04/2016 | 10h04

Mulher Pepita em entrevista ao G1: ‘Eu sempre vou incomodar’ (Foto: Divulgação/Coffe and Bacon Produções)

A funkeira Mulher Pepita se apresenta na Grande Vitória nesta sexta-feira (22), às 22h, para a segunda edição da festa Sauna, no  Cerimonial La Playa, em Vila Velha. A cantora representa a nova geração de inclusão de pessoas trans e travestis no mundo funk em entrevista ao  G1 ela falou sobre sua carreira , preconceito e sucesso.

Com uma boa repercussão até mesmo no meio hétero, ela lançou seu primeiro EP ‘Grandona pra Caralho’ em 2015, conseguindo destaque na cena musical. Um dos seus primeiros hits, “Tô à procura de um homem”, mostra que o foco dela é falar abertamente sobre sexo.

A festa ainda vai contar com piscina liberada e participação do DJs Richard L, residente da Bootie Rio, Luke, da Pop Magazine, Murilo Caldas, Kássia Loubach e Pietra Ferragne. Os ingressos custam a partir de R$25 e é possível pagar pelo serviço de van com Open Bar saindo da Rua da Lama po um acréscimo de R$ 10.

Oi, Pepita, tudo tranquilo? O que você está preparando para este show em Vitória? Quais música os fãs podem esperar no repertório?
Oi, tudo tranquilo. Quero agradecer o convite e dizer que eu acho que vai ser uma noite muito classuda, tanto para o público como para mim. É a minha primeira vez na cidade, estou louca para conhecer. Vai ter “A procura de um homem”, “Negão”, “Uma vez piranha”… tenho certeza que vai ficar na história.

Como foi que você começou a carreira como MC?
Comecei como dançarina de funk. Aí um amigo me deu a música “Tô a procura de um homem”. Eu falei: “Ai, acho que não tenho talento para essas coisas não”. Mas depois eu entrei com a voz e fiquei apaixonada pela música. Depois disso, me apresentei em São Paulo, que foi o primeiro lugar que eu fiz show e é um lugar que eu adoro. A partir daí me tornei a Mulher Pepita.

Você já sofreu preconceito por cantar funk?
Por cantar funk não, mas sofri pelo meu corpo e por ser uma travesti.

Quando foi que você decidiu que queria deixar o corpo mais definido? Quais são seus cuidados de beleza?
Eu era muito magrinha e queria pegar um corpo. Aí comecei a malhar, tomar umas maluquices e fui crescendo e fui crescendo. Eu também tenho uma alimentação muito regrada, faço as refeições a cada três horas, não bebo refrigerante, não como doce, é tudo bem organizado mesmo.

Como foi sua experiência de hormonização e transição?
Eu me hormonizo até hoje, é um pouco complicado. O processo é doloroso, eu tomo injeção e comprimido, isso mexe muito com o psicológico e com o humor da gente, gera muitas dúvidas, você vê o seu corpo mudando muito rápido.

Quais são seus maiores objetivos e expectativas profissionais?
Meu maior objetivo é mostrar para as pessoas que a travesti não é só para ficar na esquina ou em salão fazendo cabelo. As travestis tem outros talentos, tem postura, conhecimento, nós somos alguém.

Quais são as maiores barreiras que você enfrenta no meio artístico?
Não muitas no meio artístico, mas enfrento de pessoas que vivem no mesmo mundo que eu. Eu canso de bater nessa tecla de que eu não sou uma perna, as pessoas acham que eu só sou músculo. Eu me considero uma artista, uma pessoas carismática e uma ótima profissional. Eu fico revoltada com a desunião no meio LGBT e ver que ainda tem gente de dentro querendo me julgar.

Como você se sente sendo um ícone tanto no funk como na comunidade LGBTT?
Acho bafo, em alguns momentos sou chamada de diva, de rainha, eu vejo que a minha imagem, minha voz e os meus bordões conseguem mudar a mente de muitas pessoas. É muito bacana a resposta do público, para mim é uma renovação. Vou fazer muito pela Mulher Pepita e pela minha bandeira.

Você costuma levantar bandeira da causa LGBT nas suas músicas e na relação com os fãs?
Eu levanto muito a bandeira LGBTT e do respeito pelo ser humano, enquanto eu tiver o dom que Deus me deu e o talento de segurar o microfone eu vou continuar nessa luta.

Você tem vontade de fazer parcerias com outros artistas?
A gente como artista sempre tem. A Valeska [Popozuda] e a Inês Brasil são pessoas com quem eu gostaria de dividir o palco e acho que seria um polêmica muito grande. Tem pessoas que precisam ouvir umas coisas para acordar. Quando a gente pega o microfone consegue botar isso para fora.

No Brasil, as travestis e pessoas trans são vítimas de lgbtfobia e muitas vezes impedidas de acessar a escola, exercer emprego formal e excluídas de várias esferas da sociedade. Como você lida com preconceito diário?
Eu lido muito bem, eu sei que sou uma pessoa que não tem como passar num lugar sem ser enxergada, não é a toa que eu sou “Grandona para caralho”. Tem hora que as pessoas surtam, aí eu pergunto se tá acontecendo algum problema. Porque as pessoas acham que travesti é chacota do povo. Nós, as sapatões, os viados e as mulheres trans merecemos respeito.

Você sente uma responsabilidade em estar representando as travestis?
É uma responsabilidade muito grande, porque nós somos muito apontadas, mas eu penso assim, se Deus não agradou todo mundo não vai ser mulher Pepita que não vai te agradar. Eu sempre vou incomodar.

Até poucos anos atrás, o único espaço permitido para uma pessoa LGBTT no meio artístico era o de figura cômica. Esse pensamento estereotipado, de que o trabalho de um gay, ou uma travesti não possa ir além do universo caricato que está imposto ainda pode ser visto nos comentários das pessoas. Como você lida com a questão do deboche?
A palavra deboche para mim não tem significância nenhuma. Se a pessoa é debochada, eu sou afrontosa, ao mesmo tempo debocho e to rindo com você. Comigo isso não tem vez.

As músicas de funk muitas vezes reproduzem opressões, como o machismo e os preconceitos. Por outro lado, é um ritmo bastante inclusivo por permitir experimentações. Como você lida com essa contradição presente na cena do funk?
Gata, eu finjo que nem to entendendo, porque eu acho que tudo é um dom que Deus dá.