Superando estigmas e lutando por direitos: a história de Dan Mercês, ativista trans vivendo com HIV
Com uma determinação admirável, Dan Mercês, 23, jovem estudante de enfermagem e ativista trans, tem desafiado estatísticas e expectativas, tornando-se uma voz potente na luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids. Natural de Belém do Pará e atualmente morando no Rio de Janeiro, Dan compartilhou com a Agência Aids sua trajetória e as emoções que surgiram desde que recebeu seu diagnóstico, há pouco mais de um ano.
“Recebi meu diagnóstico quando fiz um autoteste. Fui sozinha, levei o teste para casa, e o resultado deu positivo”, relembra Dan. No momento, sentiu o choque e a dor inevitável, o peso no coração. Mesmo assim, decidiu compartilhar a notícia com amigas e amigos, buscando o apoio necessário para começar a lidar com a nova realidade. Pouco a pouco, a vida foi se ajustando, e ela encontrou forças para transformar o diagnóstico em ativismo.
O caminho do ativismo e a busca por representatividade
Dan, que ao longo da vida lidou com o difícil dilema de contar ou não sua sexualidade aos pais, revelou que esse conflito a levou a refletir: “Será que agora vou ter que esperar mais 20 anos para poder dizer que vivo com HIV?”. Decidida a não esconder sua condição, ela resolveu enfrentar o diagnóstico de forma aberta e buscar maneiras de trabalhar e conviver com ele. “Conheci uma ONG chamada Olívia, que funciona em um anexo da Universidade Federal do Estado do Pará, embora não faça parte dela,” relata. Através desse contato, Dan acessou novos espaços e movimentos sociais focados em HIV/aids e direitos humanos, dando início ao seu ativismo. Ela chegou a liderar a Rede de Jovens e Adolescentes Vivendo com HIV/aids no Pará, fortalecendo seu compromisso com a causa.
A vivência com o HIV trouxe a Dan desafios complexos, não apenas relacionados à saúde, mas também ao estigma e à discriminação. “Isso veio muito da minha criação. Eu me sinto privilegiada. Parafraseando uma frase que usamos no Coletivo Amem: ‘Em mim, há mais revolta do que vírus’,” diz Dan. Acolhimento e apoio são fundamentais, especialmente para pessoas negras e da comunidade LGBTQIA+, que, segundo ela, enfrentam barreiras e são as que mais sofrem com a falta de acesso e o impacto da aids.
Desigualdade no acesso e a luta pela assistência adequada
Apesar do crescimento na luta pelos direitos, Dan vê com preocupação as dificuldades de acesso à saúde que persistem no Pará. “No meu estado, ainda temos uma assistência precária para a população vivendo com HIV. Muitas vezes, os serviços de saúde estão fora do alcance de quem mais precisa,” explica. Em Belém, a unidade principal de atendimento está localizada no centro, enquanto bairros periféricos enfrentam barreiras para obter assistência. “Como alguém de um bairro que amo tanto, com pouca infraestrutura, vai conseguir assistência?”, questiona ela.
O futuro
Para Dan, mostrar a realidade de quem vive com HIV é essencial para desconstruir estigmas. “Hoje, quando alguém pesquisa sobre HIV/aids nas redes sociais, encontra muita informação sobre tratamento, mas ainda falta representatividade, especialmente de pessoas negras e trans”, destaca. A jovem insiste que é possível viver com qualidade de vida, reforçando que a condição não a define. “Eu estou aqui, vivendo minha vida, estudando, trabalhando, saindo com amigos. Quero mostrar que é uma realidade possível”, afirma.
“Precisamos criar um ambiente onde os jovens possam conversar sobre isso com os pais ou consigo mesmos, reconhecendo a importância do autocuidado,” diz Dan, reforçando a necessidade de diálogo sobre HIV/aids. Sua luta diária é por um futuro em que as pessoas possam falar abertamente sobre suas condições e receber o apoio necessário para viver com dignidade.
A jornada de Dan Mercês reflete a força do ativismo e a importância de humanizar a resposta ao HIV, fazendo com que mais pessoas se sintam acolhidas e representadas.
Fonte: Agência AIDS