Ser gay e negão é ser duplamente revolucionário, diz Renildo Barbosa
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Renildo/ Foto Reprodução
Neste 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, o site Dois Terços conversou com Renildo Barbosa, que há 20 anos milita em prol dos direitos das crianças e da população LGBT, tudo isso conciliado com a correria na busca de uma vaga nas eleições do Conselheiro Tutelar da capital. Em 2014, Renildo entrou para história sendo o primeiro gay assumido a ser eleito Rei Momo do carnaval de Salvador. Barbosa falou sobre as conquistas, preconceitos e vitórias para a comunidade LGBT. Confira:
DT. Como nasceu essa paixão pelo movimento LGBT?
RB. Por anseio de direitos iguais aos que não as acessavam, e também por perceber que pessoas não LGBT possuíam seus direitos. Percebia desde o interior que havia pessoas lutando e o GGB era na época a entidade mais visível na mídia. Pelos exemplos que tive, devido a discriminações sofridas e pelo desejo de dias melhores, tive a paixão e a motivação de estar no movimento.
DT. Ao longo deste tempo você tem acompanhado grandes avanços nas lutas pelos direitos da comunidade LGBT. Em sua opinião, qual foi a conquista mais importante?
RB. As conquistas através do judiciário, como nome social para pessoas trans e a decisão favorável a união entre pessoas do mesmo sexo em cartórios.
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Foto: Genilson Coutinho
DT. Além de militante LGBT você também é Conselheiro de Direitos, e este ano concorre ao posto de Conselheiro Tutelar. Como anda a situação da criança na Bahia?
RB. Estamos em um momento decisivo de sensibilizar a sociedade a não permitir a redução da maioridade penal. A Bahia, assim como outros estados e diversas cidades, tem um histórico de negar direitos a crianças e adolescentes, o que desagua no extermínio da juventude negra, a falta de vagas na primeira infância, a ambientes sócios educativos insalubres, a índices comprovados pelo disque 100 e a outros programas de desrespeito ou violação de direitos. Somos um dos estados com maior índice de abuso sexual e trabalho infantil, por exemplo.
DT. É muito comum escutarmos algo como: “Porra Um negão daquele, gay?”. Como lidar com esses comentários preconceituosos?
RB. Com enfrentamento. Por que ser gay e negão é ser duplamente revolucionário. Duas vezes enfrentar preconceitos e condições adversas.
DT. Como é ser negro e gay em Salvador?
RB. Controverso e desafiante. Ao mesmo tempo em que ser negro é belo e não tem o devido reconhecimento, ser gay é ainda mais agravante, motivo de condições discriminatórias, mesmo com poucos avanços e uma certa “tolerância”.
Como já atuo na área de defesa de direitos humanos e políticas públicas, estar defendendo mandato de Conselheiro Tutelar é contribuir diretamente com a redução das condições adversas que estão impostas a crianças e adolescentes, que no futuro serão jovens, adultos e idosos. É acreditar na articulação em rede e no fortalecimento do sistema de garantia de direitos. Em seres humanos mais cidadãos.