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Ricardo Castro celebra 25 anos do espetáculo R$1,99 palco do Teatro Módulo

Foto: Genilson Coutinho

Por Carlos Leal

Quem viveu o final dos anos 90 e início dos anos 2000 em Salvador, jamais irá esquecer da vida cultura da cidade. Programação LGBTQIAPN+? Na Rua Carlos Gomes, os espaços eram disputados e quem gostava da noite poderia até criar seu roteiro: a noite começava nos bares que ficavam em um dos acessos à Praça Dois de Julho. Quem preferia um espaço mais fechado, tinha o Bar Charles Chaplin, que ficava no lado oposto da rua, o local deixava o público mais à vontade.
Antes de partir para uma agitação, o Bar Âncora do Marujo, que resiste e apresenta grandes shows até hoje, era a opção. Shows de artistas como Bagageryer Spilberg, Madeleine Deschamps, Camila Parker e Dion eram aplaudidos de pé. Após os shows, era hora de escolher um local para “sacudir o esqueleto”. As opções começavam na própria Carlos Gomes com as boates Caverna e BRW. Quem queria algo mais afastado, tinha as opções da Boate Tropical, na Rua Gamboa de Cima ou a Off Club, mais elitizada, no bairro da Barra.
No Teatro, que era minha maior paixão, tinha espetáculos para todos os gostos. Citarei como exemplo o Teatro XVIII, no Pelourinho, que eu era fã, com uma programação de qualidade a preços populares. Foi lá que tive a oportunidade de assistir pela primeira vez ao espetáculo 1,99 (depois assisti umas vinte vezes), com o super ator Ricardo Castro. Foi, para mim, diferente de tudo que eu já tinha visto. Era um grande ator que fazia tudo, até na bilheteria o ator ficava. Não deu outra: foi sucesso total e a temporada foi se estendendo, passou por outros espaços, foi apresentado em praças, viajou por outras cidades, foi apresentado na Argentina e em 2023 comemora 25 anos de sucesso. O espetáculo ontem, 5 de maio, teve retorno ao Teatro Módulo em comemoração aos 25 anos da montagem.
A convite do Dois Terços, fui assistir a “estreia” dessa fase comemorativa. No palco, um ator que foi lapidado com o passar dos anos, o tempo passou, e aquele ator que vi lá em 1999 continua inteligente, politizado, critico, independente e talentoso. As adaptações necessárias feitas para a nova temporada são dignas de quem pensa a arte como uma forma de mudar as mentes, o espetáculo nos leva a refletir sobre o valor da arte e a situação do país com muito humor. Não é a arte pela arte, mas a arte como forma de transformar o mundo.
Com texto também, claro, do próprio Ricardo Castro, o espetáculo já visto por mais de 700 mil pessoas e Ricardo, em entrevistas, já disse que começou a escrever coisas do seu cotidiano, histórias engraçadas, mas resolveu misturar tudo: o humor com a crítica, intercalando coisas sérias com fatos engraçados. Deu certo.
25 anos se passaram, pouca coisa mudou politicamente no Brasil, mas vieram outras mudanças: em 1999 não tínhamos os celulares que por muitas vezes incomodam artista e público, a questão do inglês no nosso cotidiano, é outra questão (que me incomoda) e que Ricardo não esqueceu: em uma das cenas, o ator introduz uma cena usando palavras como Job, Nude, Spoiler, deadline e delivery. Senti falta de Drive Thru, bike, fake News e crush.
Ricardo nos conduziu a uma época que deixou saudades. Ver na estreia o Teatro Módulo lotado, também me emocionou, certamente emocionou o ator também. Viva nossa cultura, nossa boa música, nossos atores. Viva a arte que nos faz pensar. Viva Ricardo Castro e vida longa ao 1,99.

Carlos Leal -Jornalista formado pela Universidade Tiradentes, Especialista em Marketing Digital, autor do livro infanto-juvenil Histórias de Dona Miúda: a Raínha do Forró (Ed.Pinaúna), co-autor do livro Cem Anos de Dorival Caymmi: panoramas diversos, em parceria com a Professora Dra. Marilda Santanna. Atualmente colabora com artigos e textos para O Dois Terços e para o jornal A Tarde e escreve duas biografias: da cantora alagoana Clemilda e da sambista baiana Claudete Macêdo.

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