Reconhecimento legal de famílias homoafetivas aprova estudante de Direito de 71 anos na Bahia
Genilson Coutinho,
02/07/2022 | 16h07

| Há pouco mais de 10 anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união homoafetiva no Brasil. As transformações da entidade familiar possibilitaram a criação de uma nova configuração no Direito que firmou um novo conceito de relação entre os indivíduos. Embora casos de preconceito ainda sejam comuns, essa situação vem sendo reduzida com esforço e conscientização. Abordando este tema, o acadêmico de Direito Domingos Ribeiro de Santana, de 71 anos, casado e pai de cinco filhos, acaba de concluir a graduação, no interior da Bahia. “Para muitos, a escolha do tema pode gerar estranheza e, de fato, gerou. Meu orientador, professor Marcelo Oliveira, conversou comigo sobre a escolha, uma temática desafiadora para abordar e desenvolver um trabalho acadêmico. Mas estava decidido a defendê-lo, afinal ‘na minha idade’ já não temos mais tempo para preconceitos, nem para fazer distinção de ninguém em função de sua sexualidade. A escolha foi uma forma de superação”, relata o aluno da Ages Paripiranga. Seu Domingos destaca sua perplexidade ao descobrir quanto ódio e preconceito há sobre a família homoafetiva. Foi isso que o impulsionou, somado ao preconceito que ele próprio relata já ter sofrido. “Posso dizer que senti algo semelhante ao que muitas famílias homoafetivas sentem, principalmente o preconceito. Quando me viram estudando – um idoso, ‘cego’, lavador de panelas, foi impactante notar olhares e comentários, sejam de pessoas da minha cidade, alguns colegas e até familiares. Com esse tema resolvi quebrar esse tabu. Todos têm o direito de sonhar, sentir-felizes, respeitando as leis e a comunidade em que vivemos”, acredita o estudante, que se emociona ao lembrar dos primeiros dias de aula e do sonho de adolescência agora realizado. |
| Trajetória Cursar Direito era um desejo antigo de Seu Domingos. A inspiração veio, ainda na adolescência, após conhecer um advogado da sua cidade natal – Crisópolis/BA: o Dr. Rodolfo, conhecido na cidade por sempre ir às audiências de paletó e gravata. A recompensa veio após muito esforço e dedicação. “No primeiro dia de aula, me senti totalmente perdido e continuei assim por um bom tempo. Eu não sabia fazer trabalhos, não interpretava textos, não conseguia escrever uma linha. Lembro-me de ir para o apartamento e só chorar. Perdi quatro matérias no primeiro semestre e pensei em desistir, mas prometi que só saía da faculdade com o diploma na mão”. Felizmente, muitas pessoas o ajudaram: professores, colegas e funcionários da Ages Paripiranga. “Todos foram anjos, fizeram até uma ‘vaquinha’ e compraram um terno e uma gravata, eu parecia um pinguim, segundo meus colegas. Também compraram um computador, pois eu não tinha. Isso me emocionou e me emociona demais até hoje. Foi com a ajuda deles que continuei a caminhada”, conclui emocionado Seu Domingos, cujo foco total agora é ser aprovado na Ordem dos Advogados do Brasil. |