HIV em pauta

Performance solo autobiográfica irá abordar HIV/Aids nas relações familiares em Salvador

Genilson Coutinho,
07/11/2023 | 21h11
Foto: Divulgação

Para aqueles relegados ao silêncio dentro do discurso dominante, a performance solo autobiográfica tem sido instrumental para a reivindicação por diversas minorias do papel de agentes sociais e na criação de uma “contra-esfera pública”. (BERNSTEIN,  p.2)

Contrapondo a trajetória silenciosa vivendo há mais de vinte anos com hiv/aids, como pessoa racializada, bicha preta, proponho a obra Eu não contei para o meu pai que tinha Aids,  para fazer XXI Mostra de Performance Imagens e Interseccionalidade dia 09/11 às 19 h – Galeria Ganizares, Escola de Belas Artes – EBA, Rua Araújo Pinho, 212 – Canela. Esta é uma performance solo autobiográfica sobre estar em quadro de aids e  não expor, revelar a necessidade de desfazer o silêncio enquanto PHIV(pessoa vivendo com HIV). Uma carta de amor que escrevi para o meu pai sobre minha condição sorológica. A utilização da prática do amor como potência para a construção de uma nova sociedade, tendo o poder de transformar e curar. Rememórias de um corpo na perspectiva da reconstrução, ressignificação do estigma do HIV/AIDS.

A obra foi desenvolvida na Oficina  Autobiografia Cênica – Contação de   histórias (2022), ministrada pelo Território Sirius e coordenação de Fábio Vidal. Um processo criativo e  de investigação que teve como função de o agente e/ou atuante exercer a atuação,  autoria e direção de sua própria obra. Através de exercícios corporais, poéticas físicas e narrativas foi desenvolvimento o processo criativo de cenas autobiográficas.

A performance intersecciona questões  da masculinidade, do gênero, da sexualidade, do território e da ancestralidade. Questões como sorofobia, homofobia, desinformação perpassa a narrativa da obra.

Parafraseando a escritora negra bell hooks (2021) é uma carta sobre o amor, sua prática transformadora, que manda embora o medo e liberta a nossa alma. O amor, não apenas como sentimento, mas ética de vida. Onde o pessoal é político, e não sobrevive sem o coletivo. Numa perspectiva de rompermos o ciclo de perpetuação de dores e violências para caminharmos rumo a uma “sociedade amorosa”, e de “cura”. “Nossas ações pessoais relacionadas ao amor implica em uma postura perante o mundo e uma forma de inserção na sociedade.” bell hooks em seu livro Tudo sobre o amor: novas perspectivas (2021, p.10)

Entendendo a minha função social como artista, professor de teatro, performer, oriundo da periferia de Salvador. Como proposta utilizarei a investigação teórica e prática em torno das questões da performance Eu não contei para o meu pai que tinha aids como mecanismos de reflexão crítica capazes de mobilizar outo tipo de sensibilidade, que não a do estigma, para compreender as questões que atravessam a vivência de pessoas infectadas que vivem com hiv/aids. Sabe-se que  a performance é um veículo atemporal que cruza  espaço-corpo-tempo, lançando um olhar crítico e reflexivo sobre diferentes abordagens, o que lhe confere também um papel pedagógico e formativo de transformação.

Dessa maneira, a poética encontrada para a experiência estética foi a carta que escrevi para o meu pai recentemente. Através dessa experiência autobiográfica lanço reflexões sobre as questões de minha vivência com HIV/aids, como um corpo positivo. Trazendo a importância de reverências  ancestrais nesse processo de cura e empoderamento com vírus.