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O som LGBTQIAPN+ que vem do Pará

Foto: Divulgação

Dane-se o preconceito, a burra descriminação
Eu luto pelos meus direitos doa a quem doer” (Na Linha do Arco Íris – Dona Onete)

Se prestarmos atenção no som que bem do Pará, nos deparamos com algo, em sua maioria das vezes bem peculiar. É uma cultura própria, inicialmente chamada de Techno brega, termo que Gaby Amarantos, para sua carreira, mudou para Techno Melody. Aliás, Gabi é uma das artistas mais LGBTS que existe, desde a época em que ainda era conhecida como a Byoncê do Pará. Aliás, já dentro de outro assunto, uma curiosidade sobre Gaby que poucos sabem é seu nome, muitos, inclusive apresentadores de televisão, a chamam de Gaby Amarantes. Não, não é. Na verdade, a palavra Amarantes vem da inquietação e Gaby na hora de escolher o nome artístico. Gabriela Amaral dos Santos ficou na dúcida: Gaby Amaral? Gabby Santos? Veio a idéia da junção dos dois nomes Amar + Antos.
Gay no palco Gaby já é. No seu seu CD de estréia, o Treme(Som Livre), álbum maravilhoso, por sinal, além das fotos totalmente drag queem, um dos destaques do álbum é a música Pimenta com Sal (Eliakin Rufino). A música, que tem participação de Fernanda Takay, narra a história de um casal de mulheres que andam pela bela da praia provocando frisson, atraindo olhares:

Leona Vingativa /Foto: Divulgação


Quem viu? Uma preta e uma branca
De mãos dadas na praia, provocando frisson
O que a preta tem de redondo, a branca tem de delgado
O que a preta tem de pimenta, o branca tem de salgado
Pimenta com sal, sal com pimenta
Uma branca, uma preta, sabor malagueta
Pimenta com sal
Provocando frisson
Em seu penúltimo álbum (Do Tamanho Certo Para o Meu Sorrido), a cantora Fafá de Belém retorna às suas origens e traz o melhor da música paraense, com músicas também do talento do pernambucano Jhonny Hook. O CD para mim, é uma pérola, mas vamos às histórias LGBTS? Uma das músicas, chamada Volta (Jhonny Hooker). Na letra, a “abandonada” pede que o companheiro volta, pois ela não consegue vê-lo mais com outro rapaz.
Volta, que o caminho dessa dor me atravessa
Que a vida não mais me interessa
Se você vai viver com outro rapaz
https://www.youtube.com/watch?v=eB_kanCUzpA


Volta, me diz que nosso amor não é uma mentira
E que você ainda precisa
Mais uma vez se desculpar

Outra pioneira na música paraense, gravou no álbum que leva o nome de Banzeiro (Na Music - 2017), canção regravada pela baiana Daniela Mercury e sucesso no carnaval baiano de 2018, a música Na linha do arco íris. Canção onde a veterana, que estreou em disco somente aos 73 anos declara seu amor pela comunidade LGBTQIAPN+ e manifesta seu apoio à causa:

“Dane-se o preconceito, a burra descriminação
Eu luto pelos meus direitos doa a quem doer
Eu não pedi Pra nascer
Para, escuta: Continuamos na luta
A chapa esquentou, o meu sangue ferveu
Vivia num mundo triste que não era o meu
Saí do casulo borboleta virei, na linha do arco íris sobrevoei
Num mundo colorido, purpurinado aterrizei
Muito feliz eu fiquei
Aceita, quem é inteligente não rejeita”
Mas não dá para falar da música que vem do Pará sem citar Leona Vingativa. Cantora trans que tem como principal característica de suas músicas, a maioria versões de clássicos, o humor e a ironia. Algumas palavras utilizadas ainda são questionáveis em suas músicas: Trava (Travesti) e Barroca (Gay idoso), são duas delas. Em uma dessas músicas, por sinal uma paródia sobre uma música de Dona Onete chamada No Meio do Pitiu, que virou Não Pode Esquecer o Guantó (a propósito, guantó é preservativo). Leona vem com os versos:
“As “travas” bem babadeiras não deitam prá bofe nenhum
Elas saem prá bater beira e voltam com mil e um
Sai de dia, sai de noite e não pode esquecer o guanto
Eu fui caçar um boy (sim, claro)
Lá no ver-o-peso, vi umas bicha ali penando(cruz)
Eu logo pude prever
Não tem porta pra bater (aquenda), não tem pg pra fazer
Mas sei que vai clarear, vai surgir o pg pra você (sempre sobra)”

E prá fechar com chave de ouro, vamos com Leona Vingativa também, em uma música cheia de humor e que fala da comunidade LGBTQIAPN+ na Festa do Círio de Nazaré: Fescah no Círio (Versão para Get Lucky da dupla Daft Punk):

“Todas vão frescar no círio, vai dar bicha de quilo, vai
Só tem viado bonito esperando a Nazinha passar
Bi, larga os boy, vai rezar, se salvar
Senão vou chamar Feliciano pra te curar
Ela se esfrega nos boy, ela dá água pros boy
E vai na corda com os boy, e cora o look da Naza”

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