Opinião

O mundo é gay!!!

Dra. Bethânia Ferreira,
14/02/2016 | 10h02

A cantora Daniela Mercury celebra oa mor e a liberdade no Crocodlo /Foto: Genilson Coutinho

O mundo é gay! Durante o Carnaval de Salvador, incontáveis vezes eu ouvi que o mundo era gay. Amigos, parentes, mídia e conhecidos falavam incessantemente que bloco A ou B tinha se tornado um bloco gay. E antes, se somente tínhamos Crocodilo e Mascarados frequentados pelo público LGBT, ou pelo menos assim era anunciado, hoje temos uma infinidade de blocos e musas que agregam o público gay.

O Carnaval é um mundo com toda cultura, preconceito e alegria de uma sociedade compactada em dois circuitos – três, se incluirmos o Batatinha –, já que toda essa diversidade é vislumbrada pelos que ali estão em um espaço muito pequeno. Assim, imersos no clima de fantasia, foliões e trabalhadores acabam observando realidades que cotidianamente estão longe de seus olhos.

Roupas, trejeitos e maneirismos típicos de determinado grupo social “invadem” o espaço dos outros grupos. A cidade é partida, cada um ocupa seu espaço, seja por exclusão social, seja por opção, mas no Carnaval todos estamos no mesmo espaço. Muitos se assustam com o jeito de andar, falar e dançar dos guetos, outros se assustam com um beijo gay. Eu poderia ficar aqui horas dialogando sobre as questões sociais, políticas e ideológicas que envolvem essa ocupação de um espaço por toda a diversidade, mas não temos papel para isso – quantas teses já foram escritas e livros publicados sobre o tema.

Então, vamos falar da ocupação dos espaços pela população LGBT? Bom, meus caros, existe público gay nos blocos sim – em todos – e conviva com isso. Simplesmente porque existem pessoas gays no mundo. Não, não jogaram um pó mágico purpurinado no Carnaval e os heteros resolveram ingressar nas fileiras LGBT. Eles, os gays, existem e ponto. E pulam Carnaval com imensa alegria.

Vários sites de notícia anunciaram que divas do Carnaval como Daniela Mercury, Cláudia Leite e Ivete Sangalo promoveram “beijaços” gays em seus blocos. Pode ser um momento divertido, para animar ainda mais o bloco, mas acredito na representação política deste momento “beijaço”. Acredito que essa atitude coletiva pode sim ter um tom político interessante: mostrar para a representação de toda a sociedade, naquele espaço reduzido do circuito, que os gays existem e que todos devem conviver com essa realidade.

Recentemente, ainda foi notícia a identificação de uma comunidade LGBT na Campus Party de São Paulo – aquele evento gigantesco que reúne uma galera fanática por jogos e tecnologia. Sim, a expressão GAYMERS, criada pela junção dos termos gay e gamer, circulou em camisas por todo o evento. Existe até uma comunidade na Campus Party, denominada Campus G, formada pela população LGBT há quatro anos. Não, a galera LGBT que forma o Campus G não saiu de um aplicativo como o “Pridefest”. Essas pessoas existem na vida real!

Notícias como as relatadas, a meu ver, apresentam dois lados da moeda. Por um lado, demonstram que a invisibilidade LGBT, o preconceito e a discriminação permanecem, tanto que um beijo gay ou a existência de um Campus G merece destaque na mídia. Por outro lado, as mesmas notícias podem demonstrar atitudes políticas e sociais de afirmação e reafirmação cujo intuito é o de acabar com a invisibilidade.

Essas atitudes, nem sempre pensadas como políticas, conseguem mostrar ao mundo que a população LGBT existe e está presente em todos os lugares. Enfim, pessoas LGBT têm a mesma vida que qualquer um, pulam Carnaval e jogam games. Ahhh! E fazem isso doa a quem doer.