“O governo deveria olhar mais para os LGBT com alguma deficiência”, diz drag Kitana Dreams
Maquiador, designer, youtuber, drag e miss são algumas das faces de Leonardo Braconnot , o homem por trás de Kitana Dreams, a primeira drag surda do Brasil. Leonardo se torna um grande exemplo de superação ao romper a barreira do preconceito e conquistar seu espaço não em uma, mas em diversas áreas.
Campanha do site Dois Terços irá abordar LGBT com deficiência
Chegamos a esse talento graças à repercussão da nossa nova campanha, que aborda a situação dos LGBT com deficiência. Com o mote “Quantos LGBT com deficiência você conhece? Não perca a oportunidade de conhecer, pois existimos”, a campanha do Dois Terços para 2017 foi lançada, como de praxe, no Dia Internacional de Luta contra a Homofobia (17 de maio), e vai abordar o tema ao longo do ano.
E é claro que uma história como a de Leonardo tem todo espaço aqui no Dois Terços. Conheça um pouco mais dessa estrela especial nesse bate-papo em que nos conta um pouco sobre carreia, dificuldades, namoro e família.
DT: Você nasceu surdo, mas só veio descobrir muito tempo depois. Como você lidou com essa descoberta?
KD: Sim, nasci totalmente surdo. Descobri quando tinha mais ou menos sete anos. Eu achava que era o único surdo do mundo. Eu não convivia com outras pessoas surdas, Quando fazia aula de fonoaudiologa, achava que eles eram ouvintes. Eu só descobri quando entrou outro surdo no meu colégio, eu estava na 4° série, e o diretor me apresentou a ele e à irmã ouvinte. Ele começou a falar comigo em Libras, mas eu não entendia nada. Foi aí que a irmã dele me explicou o que era Libras e me apresentou à comunidade surda. Então eu me senti mais familiarizado com o mundo dos surdos.
DT: Como você vê as políticas públicas para os LGBT com deficiência?
KD: É complicado falar sobre isso, eu não faço parte de nenhum projeto do governo…mas acho sim, que o governo deveria olhar mais para os LGBT com alguma deficiência. Gostaria muito de ajudar essas pessoas, pois sei que é muito difícil pra conseguir emprego e poder se sustentar. Graças a Deus, eu tenho o apoio da minha mãe, que me ajuda muito.
DT: Você venceu o Miss Rio de Janeiro Gay Plus Size 2013. Durante a competição você sentiu algum tipo de preconceito por causa da sua deficiência?
KD: Sim, venci. Eu achava que sim, por causa do Show. Porque a maioria dos concursos de miss não tem show. Quando eu participei tinha que fazer show, isso foi um grande desafio para mim. Mas graças a Deus não senti nenhum preconceito do público. Foi ótimo!
DT: Maquiador, youtuber, drag…como você administra essa correria?
KD: Eu trabalho como maquiador apenas nos finais de semana. Faço tudo com calma, pois tenho labirintite e não posso fazer tudo 24 horas como as youtubers fazem. Eu tenho que fazer um vídeo por semana. O meu processo é lento. Às vezes me atraso muito, fico deixando pro outro dia. Mas no fim dá tudo certo.
Gírias LGBT em Libras; assista
DT: Como nasceu a ideia do canal e como é sua relação com outros LGBT surdos?
KD: Na verdade eu criei um canal só para assistir os vídeos. Foi quando apareceram as drags fazendo tutoriais de maquiagem, me deu vontade de fazer igual. Eu criei para a comunidade surda e também para surdos LGTB e, claro, para os ouvintes, porque o maior público-alvo são os ouvintes. A minha relação com surdos LGBT é ótima, continuamos com a amizade. Vai ter um novo grupo SLibras LGBT no facebook, eu sou uma das administradoras da equipe, para ajudar os surdos LGBT.
DT: Como foi contar para seus pais sobre sua orientação sexual?
KD: Foi muito difícil pra mim. Quando eu tinha entre 17 e 18 anos fiquei deprimido por 3 meses, só por causa disso. Ficava triste, trancado no quarto, não me comunicava com ninguém em casa. Eu ficava preocupado se a minha família fosse brigar ou me botar na rua porque o meu pai é professor de judô, então imagina?! Contei primeiro pro meu pai, ele ficou chocado, mas manteve a postura e me disse que era minha opção sexual. Eu me sentia aliviado e mais leve, depois contei pra minha mãe, foi muito difícil pra ela aceitar. Depois de alguns anos foi melhorando e me aceitou numa boa.
DT: E na hora da paquera, quando você falava da sua deficiência, como os rapazes lidavam?
KD: Quando eu era novo, ia muito para boate com os amigos…bem, na hora da paquera, eles se aproximavam e vinham falar comigo no ouvido, eu me afastava olhando pra olhar no rosto deles e falava que era surdo e que eles podiam falar devagar que eu faria leitura labial. A maioria compreendia. Teve alguns que ficaram chocados, não sabiam como falar comigo, e desistiam. Quando eles desistiam, me sentia ignorado, mas eu sei que pode acontecer, não me desanimava e continuava ignorando, pois tinha muitos homens bons. Agora, eu tenho marido ouvinte e estamos juntos há 12 anos.
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